Revista em casa por apenas R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Miojo vale mais do que cigarro nos presídios dos EUA

Como em 'Orange Is The New Black', a privatização fez a comida das prisões piorar tanto que transformou macarrão instantâneo em ouro

Por Helô D'Angelo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 11h16 - Publicado em 30 ago 2016, 15h00

Em Orange Is The New Black, o corte de gastos na prisão faz a comida do refeitório ficar tão ruim que temperos de miojo viram, por um tempo, moeda de troca. Isso não está tão distante da realidade: nos presídios dos EUA, a coisa está tão feia que macarrão instantâneo está valendo mais do que cigarros. 

Quem diz é o sociólogo Michael Gibson-Light, da Univeridade do Arizona. Em um estudo, ele entrevistou 60 presidiários ao longo de um ano, em uma prisão privada dos EUA – que não foi identificada para proteger a identidade dos entrevistados.

LEIA: O que fazer com nosso presos?

Gibson-Light descobriu que, assim como na série da Netflix, a qualidade e a quantidade da comida nas cadeias está caindo tanto que o miojo se tornou uma mina de ouro: calórico, saboroso e barato, ele é ideal para as pessoas encarceradas, cujo maior passatempo é se exercitar – o macarrão instantâneo dá a elas a energia que falta.

Hoje, miojo é mais valioso do que cigarros e selos – as lendárias moedas informais das prisões. E vale muito mesmo: apesar de custar só 59 centavos de dólar na lojinha da cadeia, no “mercado negro” dá para trocar dois pacotes por um conjunto de moletom (que custaria US$ 11,30) e um pacote por um maço de cigarros (US$ 2). 

Continua após a publicidade

LEIA: Por uma prisão sem grades

Alguns presos até fazem a limpeza ou lavam roupas para outros em troca do macarrão instantâneo; outros jogam cartas apostando a “moeda”. Um dos entrevistados no estudo chega a dizer que já viu brigas e até mortes por causa do miojo.

A coisa ficou tão popular que já existe até um livro de receitas para macarrão instantâneo “de cadeia”, chamado Prison Ramen: Recipes and Stories From Behind Bars (algo como Miojo de Prisão: Receitas e Histórias Por Trás das Barras), de um ex-presidiário chamado Gustavo “Goose” Alvarez. O cara ensina a cozinhar usando miojo e ingredientes fáceis de conseguir na prisão: Doritos, feijão enlatado, cebola e coisas mirabolantes, como uma mistura de geleia de morango com molho de soja para conseguir um molho teriyaki.

LEIA: Prisão: oficina do inferno

Continua após a publicidade

O mercado negro do miojo começou a florescer nos anos 2000, quando o controle sobre os alimentos das prisões dos EUA passou de uma empresa privada para a outra – e aí, como parte de um programa de redução de custos, a qualidade caiu demais: Gibson-Light chegou a ser avisado pelos agentes correcionais da prisão que comer a comida de lá poderia resultar em intoxicação alimentar. Intrigado, ele foi visitar a cozinha, onde encontrou uma caixa cheia de frangos inteiros com cara de estragados – na caixa, estava escrito: “Não são para consumo humano”. 

A quantidade de comida que os presos recebem também diminuiu. De lá para cá, em vez de três refeições quentes por dia, eles passaram a receber apenas duas e um almoço frio. Nos finais de semana, a coisa é ainda pior: os encarcerados só ganham duas refeições quentes ao dia.

LEIA: Como viver com dignidade numa prisão

Tudo isso lembra bastante a série, né? Mas não é por acaso que OITNB esteja tratando do assunto: a privatização de cadeias nos EUA, que acontece desde os anos 1980, tem começado a mostrar suas falhas. Em um relatório desse ano, feito pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, as prisões privadas se mostraram mais punitivas e menos seguras do que as estatais: há 28% mais brigas e ataques entre presos, e os encarcerados têm 9 vezes mais chances de irem para a solitária de forma arbitrária (ou seja, sem justificativas, como acontece com Sophia na série) do que os de prisões federais – segundo o relatório, essa é uma maneira de aliviar a superlotação.

Continua após a publicidade

A situação está tão crítica que, no início de agosto, o presidente Barack Obama anunciou que planeja acabar com as cadeias administradas por empresas privadas. Mas, por enquanto, nada foi resolvido de fato – e parece que vai levar um bom tempo até que os presos possam voltar a ter boas refeições todos os dias.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Oferta dia dos Pais

Receba a Revista impressa em casa todo mês pelo mesmo valor da assinatura digital. E ainda tenha acesso digital completo aos sites e apps de todas as marcas Abril.

OFERTA
DIA DOS PAIS

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.