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O pinguim-de-barbicha tira 10 mil sonecas por dia – de 4 segundos cada

Essa estratégia evolutiva faz com que eles sempre estejam "meio dormindo" e "meio acordados" ao mesmo tempo.

Por Caio César Pereira
7 dez 2023, 18h23

O pinguim-de-barbicha dorme até 11 horas por dia, mas não do jeito tradicional. Ele tira 10 mil micro cochilos de quatro segundos cada.

O micro-sono não é exclusivo dos pinguins. Sabe aquele pequeno momento, durante uma aula incrivelmente chata, em que você dá uma “pescada” por alguns segundos? Então, esse é um exemplo de micro-sono. 

Ele pode até parecer angustiante pra gente, mas, de acordo com um novo estudo, é uma ótima estratégia de descanso para o pinguim-de-barbicha (Pygoscelis antarcticus). Publicado na revista Science, a pesquisa mostra  que os pinguins utilizam essas “doses homeopáticas” de sono para repousar e recarregar as energias em diversas situações diferentes.

A cada 22 horas, os pinguins adultos revezam turnos diferentes entre os que ficam cuidando dos ninhos na colônia e aqueles que vão caçar. Os que ficam no ninho precisam estar atentos a qualquer tipo de perigo e ameaças de predadores a seus ovos e filhotes. Dessa forma, os pinguins vivem num estado ala gato de Schrödinger – eles estão sempre meio dormindo e meio acordados ao mesmo tempo. 

Quando estão caçando, eles passam a maior parte do tempo acordados e atentos (cerca de dois terços, pelo menos), mas também tiram pequenas sonecas quando estão boiando na superfície. Após um longo dia de trabalho, ao voltar para a colônia, eles buscam descontar o sono atrasado (mas na tática do micro-sono).

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“O que é realmente estranho é que o pinguim pode sustentar esse estado constante entre vigília e sono. O sono fornece muitos benefícios, mas não sabemos se são os mesmos benefícios para todas as espécies. E não sabemos em que ponto podemos perturbar o sono, com ou sem custo para o animal”, explica Paul-Antoine Libourel, co-autor do estudo e pesquisador de biologia do sono no Centro de Pesquisa em Neurociência do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França. 

Método de pesquisa

Os pesquisadores conseguiram observar esses padrões comportamentais nos pinguins, monitorando por duas semanas uma colônia, instalando eletrodos nos cérebros e pescoços de 14 indivíduos. 

Eles analisaram a atividade cerebral das aves e o seu padrão de sono por meio da coleta dos dados eletroencefalográficos (EEG) gerados pelos eletrodos. Juntamente com o rastreamento por GPS e o monitoramento por vídeo, eles puderam comparar os dados EEG obtidos, com a localização e os comportamentos adotados. Ao todo eles observaram que, em doses de quatro segundos, eles chegavam a dar mais de 10 mil cochilos por dia.

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Essa técnica de micro doses de sono é uma forma de adaptação ao ambiente. Precisando estar atentos a ameaças, e ao mesmo tempo descansar, os pinguins-de-barbicha desenvolveram essa forma de sono. Além disso, essa tática também pode estar relacionada ao barulho do ambiente. Por viverem em grupos de vários indivíduos, as colônias de pinguins são extremamente barulhentas, tornando difícil dormir por muito tempo.

A pesquisa mostrou, também, que o sono varia dependendo de onde está o animal dentro da colônia. O centro é mais barulhento, mas os animais ali tem uma qualidade de sono melhor do que os que vivem nas bordas. Conseguem ter períodos de sono mais profundos e menos fragmentados. 

Isso porque os que vivem na borda precisam ter um nível maior de atenção – afinal, estão mais vulneráveis. Dessa forma, os pinguins que vivem nas partes mais externas da colônia demonstram piores padrões de sono, pois precisam ficar alertas praticamente o tempo todo.

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Esse é, aliás, um dos grandes paradoxos da natureza. Apesar de sua grande importância para o funcionamento do organismo, o sono representa um dos momentos de maior vulnerabilidade durante a vida de um animal. Dessa forma, cada espécie desenvolveu formas diferentes de dormir da forma mais segura possível. 

Para alguns animais, como os pinguins e outras espécies, a tática adotada foi o de sono em grupo. Outros, como os golfinhos e algumas espécies de aves, desenvolveram a habilidade do sono uni-hemisférico, em que somente um lado do cérebro descansa por vez. Nesses casos, inclusive, eles dormem com um olho fechado de cada vez.

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