Cientistas podem ter achado antídoto para cogumelo que mais mata no mundo
O cicuta-verde é responsável por grande parte dos envenenamentos por cogumelos – e a solução pode estar em um corante médico.
Os cozinheiros acostumados a preparar cogumelos sabem que devem tomar cuidado com um fungo aparentemente inofensivo, mas mortal: o cicuta-verde (Amanita phalloides), que possui toxinas suficientes para matar um humano adulto. Nativo da Europa, ele pode ser encontrado também na Ásia, Austrália e Américas.
Por ser visualmente semelhante a cogumelos utilizados na gastronomia, o cicuta-verde é responsável por 90% dos envenenamentos por cogumelos. Os sintomas chegam de 6 a 12 horas após a ingestão e incluem náuseas e vômitos, convulsões, coma – e, possivelmente, morte.
Cientistas identificaram uma substância que pode atuar como um antídoto para o envenenamento por cicuta-verde. Trata-se da indocianina verde, um corante usado em diagnóstico por imagem para medir a função hepática e cardíaca.
Os pesquisadores mostraram que o corante pode reduzir a potência da principal toxina do cogumelo, a α-amanitina, em células de camundongos e humanos. No estudo publicado na revista Nature Communications, os autores primeiro buscaram desvendar o nível de destruição da α-amanitina nas células. Então, identificaram uma enzima chamada STT3B, necessária para a síntese de proteínas que causavam a morte celular – a chave para a toxicidade da α-amanitina.
Em seguida, os pesquisadores foram atrás de substâncias já aprovadas pelo FDA (a Anvisa americana) em busca de um potencial inibidor de STT3B, e encontraram a indocianina verde.
Depois começaram os testes com essa substância, conduzidos com células humanas e camundongos. Ambas ficaram mais resistentes à α-amanitina quando pré-tratadas com indocianina verde.
Por fim, o antídoto foi testado em camundongos vivos. Eles receberam a toxina do cogumelo e, depois de 4 horas (para imitar o que aconteceria em um caso de envenenamento), foram tratados com indocianina verde. Os camundongos tratados tiveram menos danos aos órgãos e morte celular, resultando em maior chance de sobrevivência em comparação aos animais do grupo controle, que não foram tratados.
Contudo, de 8 a 12 horas após o envenenamento, o tratamento perdeu seu efeito. Segundo os pesquisadores, isso sugere que a indocianina verde deve ser administrada o mais cedo possível – preferencialmente, entre 1 e 4 horas depois da contaminação.
As pesquisas com a indocianina verde vão continuar e devem determinar como ela inibe a α-amanitina, além de avaliar o quão seguro é administrá-la em humanos.
“Esta molécula tem um imenso potencial para o tratamento de casos de envenenamento humano por cogumelos”, afirma Qiaoping Wang, um dos autores do estudo. “Poderia salvar muitas vidas se for tão eficaz em humanos quanto em camundongos”.