O poder na Câmara dos Deputados continua, em grande parte, concentrado nas mãos de homens. Um levantamento inédito mostra que, entre os 100 parlamentares mais influentes do biênio 2025-2026, só 12 são mulheres. O número é inferior à própria composição da bancada feminina da Casa, que ocupa 18% das cadeiras.Os dados fazem parte do Índice de Influência Parlamentar (IFI), desenvolvido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem) em parceria com o Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB). O índice combina informações sobre cargos estratégicos, funções de comando e relatorias de projetos relevantes para calcular uma pontuação de 0 a 10, que reflete o peso institucional de cada deputado federal.Entre as 12 parlamentares que integram o Top 100 estão: Caroline de Toni (PL-SC), 5ª colocada no ranking geral; Laura Carneiro (PSD-RJ), 6ª;Bia Kicis (PL-DF), 12ª;Talíria Petrone (PSOL-RJ), 35ª;Chris Tonietto (PL-RJ), 38ª;Sâmia Bomfim (PSOL-SP), 48ª;Adriana Ventura (Novo-SP), 57ª;Yandra Moura (União-SE), 63ª;Jandira Feghali (PCdoB-RJ), 66ª;Benedita da Silva (PT-RJ), 70ª;Flávia Morais (PDT-GO), 75ª;e Célia Xakriabá (PSOL-MG), 80ª.A pontuação dessas deputadas varia de 7,2 a 1,7, refletindo diferentes formas de atuação e acesso a cargos de influência.Os três primeiros colocados – Hugo Motta (Republicanos-PB), Arthur Lira (PP-AL) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) – são homens de partidos do Centrão, bloco que concentra boa parte das posições de maior poder na Casa. Entre os 20 primeiros nomes, apenas Caroline de Toni, Laura Carneiro e Bia Kicis representam as mulheres.Apesar de pouco numerosa, a presença feminina é mais plural em termos partidários e ideológicos: PL e PSOL têm três representantes cada, enquanto Novo, PCdoB, PDT, PSD, PT e União Brasil aparecem com uma deputada cada. Para os pesquisadores, isso indica que a conquista de espaço institucional pelas mulheres ocorre de forma isolada, mas não restrita a um único campo político.A mais jovem da lista é Yandra Moura, com 31 anos; a mais experiente é Benedita da Silva, 83, que já exerceu cargos no Executivo e no Legislativo. O Rio de Janeiro lidera a representação estadual, com quatro nomes, seguido por Santa Catarina, Goiás, São Paulo, Sergipe, Minas Gerais, Bahia e Maranhão. Em relação à diversidade racial, apenas Talíria Petrone e Benedita da Silva são negras, enquanto Célia Xakriabá é a única indígena.Como funciona o IFI?O IFI se diferencia de outros métodos de avaliação parlamentar por não se basear apenas na quantidade de projetos apresentados ou na presença em plenário.A metodologia foca no que os autores consideram os verdadeiros mecanismos de poder: cargos que concentram poder de decisão são ocupados por uma única pessoa por vez e oferecem estabilidade ao longo do mandato. Entre eles estão presidência da Mesa Diretora, liderança do governo, presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJC), da Comissão Mista de Orçamento (CMO) e relatorias de grande relevância, como a da Lei Orçamentária Anual ou de propostas de emenda à Constituição (PECs).Experiências anteriores também entram no cálculo, mas perdem peso se forem muito antigas. Assim, um deputado que ocupa hoje um cargo estratégico obtém a pontuação máxima para essa função; se o ocupou no biênio passado, a pontuação é reduzida pela metade, e assim sucessivamente. Relatorias recebem peso proporcional à importância política da matéria: maior para PECs, menor para projetos de lei comuns.Para Maiane Bittencourt, uma das autoras do estudo, o índice revela um aspecto que costuma passar despercebido na cobertura política. “Ao mensurar, com base empírica, a ocupação de cargos estratégicos, ele traduz uma dimensão muitas vezes invisível, mas determinante, da política legislativa: quem tem acesso aos mecanismos decisórios”, afirmou em comunicado.O relatório defende que, para reduzir a desigualdade de gênero, não basta ampliar o número de mulheres na Câmara. É preciso garantir que elas também ocupem funções decisivas na estrutura interna, capazes de influenciar a pauta e o ritmo das votações. “Isto é especialmente útil para gestores públicos e organizações da sociedade civil, que podem identificar com mais precisão quais parlamentares possuem maior capacidade de pautar, travar ou acelerar agendas legislativas”, concluiu a pesquisadora. https://youtu.be/AX2gS5Thq_s?feature=shared