TV Digital – A web vai para a TV
Conteúdo sob demanda e maior interatividade implodem a era do espectador passivo
Alexandre Carvalho dos Santos
Além de ter melhores imagens e de ser interativa, a TV digital vai permitir que o seu aparelho se transforme num navegador aberto, adicionando o conteúdo da internet à programação televisiva. Para ver como a coisa é séria, o governo brasileiro está estudando como baratear os conversores de TV digital justamente para ampliar o acesso das classes D e E – 30% da população – à rede. Afinal, se 94% dos lares brasileiros têm televisão, o mesmo não acontece quando se fala de computador. Com o recurso, a população de renda mais baixa poderá marcar consultas médicas, ter aulas de ensino a distância, fazer serviço de banco em casa, e assim por diante.
Perigo para os compulsivos
O acesso a um conteúdo mais amplo, segmentado e interativo também deve trazer novidades à publicidade na TV. A segmentação – que é própria de um sistema em que o telespectador tem o poder de decidir ao que assistir – e a maior oferta de canais devem abrir espaços para nichos que, hoje, não têm representação. “Com isso, haverá mais oportunidades para anunciantes de pequeno e médio portes”, afirma o diretor de televisão Gabriel Priolli.
E a TV digital que existe hoje no Brasil já tem viabilidade técnica para oferecer comerciais interativos. Sua avó poderá assistir a um comercial de panela de pressão e comprar o produto na hora, usando só o controle remoto.
Morre o sinal analógico
Até 2013, o governo brasileiro planeja cobrir o país inteiro com sinal digital e, em 2016, aposentar o sistema analógico. Mas, para Fujio Yamada, do laboratório de TV Digital da Universidade Mackenzie, as emissoras ainda estão tímidas na oferta de interação. “Como o público ainda não conhece as possibilidades, não há pedidos, e as emissoras temem que não dê retorno financeiro”, diz Yamada.
Mas alguns experimentos começam a engatinhar. Na Central da Copa, da Globo, telespectadores com o software Ginga instalado em seus conversores digitais puderam abrir tabelas de jogos, estatísticas, enquetes e informações complementares das seleções. Depois, virão as novelas e o paredão do Big Brother.
Você manda na programação
Você poderá pagar por serviços sob demanda. O Roda Viva, da TV Cultura, passa bem na hora em que você vai para a academia? Encomende o programa para um horário mais favorável. Isso será possível quando os canais colocarem sua programação num banco de dados acessível para o telespectador. Você também vai poder adquirir filmes e jogos. Ou seja, a grade de programação vai estar em seu poder.
O que você ganha com isso?
Redes sociais aqui e agora
O Twitter vai ter de aumentar a sua capacidade. Com o acesso às redes sociais pela TV, você poderá comentar com seus seguidores ou amigos do Facebook cada lance do jogo, cada cena da novela, cada bobagem dita por um entrevistado do Jô… E sem ter de recorrer ao celular ou ao computador. O que não vai faltar é assunto.
Explosão de conteúdo
Além dos canais que você já acessa na sua TV, você poderá fazer streaming de vídeos do YouTube ou assistir sob demanda a filmes e episódios de seriados por meio de sites como o Hulu e o Netfix (por enquanto o Brasil está fora da área, mas quem sabe daqui a uns 5 anos?). Basta instalar aparelhos como o Apple TV ou o Google TV, que deve ser lançado nos EUA até novembro e em outros países em 2011.
Mídias complementares
O acesso à Internet vai enriquecer a sua experiência com a própria programação da TV. Por exemplo, ao assistir a um clipe na MTV de um cantor que não conhece, você poderá buscar outros vídeos do artista no YouTube, procurar letras de músicas no Google, entrar no MySpace do cara… E voltar para o programa a que você estava assistindo. Ô, moleza!
O que vai dar para fazer com a TV interativa
Na passarela
Assistindo a um desfile de moda, você se encanta com aquele vestido que – é certeza – vai matar as suas amigas de inveja. Na mesma hora, você acessa, na TV, informações sobre o estilista, o preço do vestido e onde pode encontrar a peça.
No futebol
Um jogador da seleção da Espanha faz um gol na semifinal da Copa de 2014. Para saber mais sobre o craque, você aperta o botão de interatividade do controle remoto e abre a ficha completa do cara: em que time joga, quantos gols marcados na competição, seu prato preferido… Depende do que a emissora oferecer de conteúdo. Outra opção é assistir ao jogo todo num ângulo diferente, transmitido por uma câmera exclusiva.
No debate
Vai acabar aquela coisa de ter de correr até o computador para mandar perguntas – o que já acontece em programas que permitem a participação do telespectador. Com a interatividade, a própria TV será seu canal de comunicação com políticos que estiverem num debate, por exemplo. Contenha-se para não falar palavrão.