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Passei o dia competindo contra os grandes mestres do “Pokemón Go”

Fiz minha inscrição e marquei o número de pokémons que já peguei na minha vida: 1. Aí li a inscrição do sujeito que veio antes de mim. Ele tinha 732 no currículo.

Por Ana Carolina Leonardi
Atualizado em 4 nov 2016, 19h16 - Publicado em 21 jul 2016, 15h00

Não há nada de surpreendente em um atleta que faz um regime especial por três dias antes de uma competição, acumulando energias para bater recordes. Mas e quando o regime é de pokebolas e o esporte é Pokémon Go?

Pikachu

Esse é o Kris Orr. Ele passou os últimos três dias deixando pokémons comuns passarem, porque o objetivo era maior: guardar o máximo possível de pokebolas para a Caça ao Tesouro de Pokémon Go, que aconteceu ontem em Hollywood, na Califórnia. Kris entrou na competição como um garoto. Saiu de lá como um treinador experiente, com 138 pokémons capturados em apenas uma hora, um Pikachu de pelúcia gigante e US$ 200 no bolso.

Parece bobagem? Não para os 100 malucos (eu incluída) que corriam em círculos ao redor da Hollywood Boulevard. Em um dos trechos mais turísticos de Los Angeles, não tirávamos os olhos do celular.

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A competição, organizada pela loja de games e arcade Dave and Buster’s quase não aconteceu. Durante a tarde, tinha bebida e comida de graça… Só não tinha pokémon. Os servidores no mundo inteiro passaram a maior parte do dia ontem iguais ao que estamos acostumados a ver no Brasil: offline. Estava ocorrendo uma atualização do sistema. Mas, bem a tempo da disputa começar, eles voltaram com força total.

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Jovens jogam Pokemon Go

Jogando pela primeira vez, estava claro que eu era apenas uma padawan em meio a vários Mestres Jedi (opa, fandom errado). Na inscrição, os funcionários anotavam, para cada participante, o username no jogo e o número de pokémons capturados até o momento, na vida. Logo acima do meu número 1 – um único bulbassauro – vi o registro anterior ao meu: 732. O jogo foi lançado nos EUA no dia 6 de julho. Esse jogador precisa ter capturado mais de 48 Pokemóns por dia para chegar nesse número. E estava longe de ser o único que passou dos 700 antes mesmo da competição.

Os jogadores estão em todo o lugar por aqui e identificá-los é fácil: roupa temática dos personagens é opcional, mas algumas opções estilísticas são consequência do esporte. Muitos deles andam com fios elétricos pendurados para fora do bolso, a prova de que o melhor amigo de um treinador de pokémon é sua bateria portátil de celular.

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As crianças também ficam para trás, apesar de estarem dentro do público-alvo do jogo. A maioria dos treinadores nasceu nos anos 90 e está realizando o sonho nostálgico de caçar pokémons “de verdade”. A realidade virtual do jogo se encaixa com tanta sutileza no dia a dia que Pokémon Go facilmente se adapta à nossa “rotina” dos smartphones: checar o Facebook, responder o Whatsapp, olha, tem um Charmander ali na esquina!

O próprio jogador escolhe se quer ou não ficar imerso no mapa virtual, mas a qualquer momento pode ligar a câmera de realidade aumentada. Com isso, você perde a sensação de estar isolado e hiperfocado no jogo –  ele se torna uma camada extra de um passeio, por exemplo, na Calçada da Fama, onde eu capturei um Pidgey.

Você só consegue capturar pokémons enquanto tiver pokebolas disponíveis. Para reabastecer, é preciso encontrar um pokestop, que fornece ítens do jogo a cada 5 minutos. Eles geralmente estão localizados em monumentos, museus e lugares famosos – e assim Pokemón Go eclipsa as atrações turísticas.

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Vale o alerta: é preciso girar o ícone dos pokestops como se fosse uma moeda. Ganhei meu “atestado de tiazona” tentando clicar na imagem até alguém ter a piedade de me ensinar.

Ninguém sabe ainda que critério é usado para definir onde os pokemóns vão aparecer, mas uma coisa é certa: os programadores levam em consideração o número de pessoas jogando em determinado lugar. Eventos como esse do qual participei, portanto, acabam transformando o lugar num hub de pokémons. Foi o que aconteceu com Hollywood ontem, em questão de minutos. Uma competição como essa destaca uma das principais características do videogame: Pokemón Go é um esporte coletivo.

A maioria dos participantes apareceu com os amigos e ficou surpreso ao encontrar mais de 100 inscritos. Quem chegou sozinho, saiu em grupo. Como em qualquer outra modalidade esportiva, os treinadores trocam experiências, dúvidas e, é claro, bravatas.

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“Eu sou o melhor jogador de Pokemón Go dos Estados Unidos”, autodeclarou-se Benny Afonso. “E do Brasil também”, acrescentou, em português. Dos 650 tipos de Pokemóns disponíveis, ele tem 515 (além dos repetidos). Os nomes são homenagens a outras franquias famosas. O seu Snorlax acabou ganhando a função paralela de segurador oficial de portas – seu apelido é Hodor. 

A competição na Dave and Buster’s foi uma das primeiras, mas os fãs já estão há mais de uma semana organizando suas próprias convenções. O píer de Santa Monica, logo ao norte de Los Angeles, tornou-se tão popular para Pokemón Go que, entre turistas e treinadores, o serviço de celular na área não suporta a demanda. E as pessoas vão até lá para ter companhia para jogar – um contraste enorme com o estereotipo do nerd sozinho em um quarto escuro jogando madrugadas a fio. Elas saem de lá com novos amigos e combinam passeios específicos para caçar monstrinhos em grupo.

Não deu para deixar de imaginar se a onda coletivista de Pokemón vai colar no Brasil – e que lugares vão se tornar as versões nacionais do píer de Santa Monica. Será que o Parque do Ibirapuera vai se tornar o equivalente de Aparecida para peregrinos adolescentes?

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