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Jogar “glitter” na atmosfera de Marte é uma estratégia para torná-lo habitável

O objetivo é gerar um efeito estufa saudável no Planeta Vermelho, elevando a temperatura em sua superfície em algumas dezenas de graus.

Por Bela Lobato
11 ago 2024, 16h00

Apesar de Marte ser o planeta mais parecido com a Terra no nosso Sistema Solar, não é exatamente o ambiente mais convidativo. Antes de fazermos as malas para o próximo planeta, existem algumas coisinhas para serem ajustadas. Talvez a primeira delas seja o clima: a temperatura média em Marte é -64ºC.

Há algum tempo cientistas discutem formas de tornar o Planeta Vermelho habitável; o próprio Carl Sagan apresentou uma sugestão em 1971.

Essas propostas vão de devaneios, como escritores de ficção científica que descrevem a transformação de uma das luas de Marte em um Sol, a ideias mais recentes e cientificamente plausíveis, como a engenharia de placas de gel transparente para reter o calor.

Agora, uma equipe de pesquisadores norte-americanos diz ter criado uma nova forma de fazer isso: com glitter. Mais especificamente, o projeto simula o que aconteceria ao se lançar, na atmosfera do planeta, milhões de toneladas de partículas metálicas reflexivas.

É uma ideia inusitada que levaria décadas para ser executada, mas, segundo os autores, é 5 mil vezes mais barata do que qualquer outra alternativa já proposta.

“Isso sugere que a barreira ao aquecimento de Marte para permitir a existência de água líquida não é tão alta quanto se pensava”, disse Edwin Kite, professor associado de ciências geofísicas e coautor do estudo, que foi publicado na última quarta (7) na revista especialziada Science Advances.

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O glitter metálico criaria um efeito estufa na atmosfera marciana. A Terra tem essa condição naturalmente: um cobertor de gases como gás carbônico e metano. Esses gases prendem o calor que irradia da superfície, retardando sua fuga para o espaço e provocando o aumento da temperatura.

A ideia é que o aquecimento de Marte poderia ser seguido pela introdução de organismos fotossintéticos, como cianobactérias, algas e plantas. Gradualmente, eles produziriam oxigênio atmosférico assim como fizeram com a Terra durante sua história geológica.

É irônico que precisemos criar um efeito estufa em Marte: toda a ideia de colonizar o planeta está relacionada às mudanças climáticas terrestres, já que temos gases até demais retidos na nossa atmosfera.

Porém, fazer isso acontecer é muito difícil e caro. As alternativas anteriores dependiam de ingredientes serem transportados da Terra para o Planeta Vermelho. É um frete bem caro, como você pode imaginar.

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A inovação foi pensar em trabalhar com o que Marte já tinha prontamente disponível. Segundo as investigações feitas por rovers em solo marciano, a superfície do planeta é rica em minerais metálicos, como alumínio e ferro.

A lógica é que, ao lançar minúsculas partículas de metal cintilante na atmosfera marciana, como um canhão de purpurina, elas seriam levadas para o alto e ajudariam a reter o calor do Sol, da mesma forma que as emissões de carbono fazem aqui na Terra.

Os pesquisadores imaginaram minúsculas hastes metálicas do mesmo tamanho que as partículas de poeira nativas de Marte, um pouco menores que o glitter comercial, com uma proporção de 60:1, para serem lançadas no céu marciano.

Eles calcularam a quantidade de calor que seria retida por nuvens metálicas brilhantes desses nanobastões e a quantidade de poeira necessária para produzir e manter um efeito estufa agradável.

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O tamanho e o formato dos nanobastões evitaria que eles caíssem de volta em Marte por um período dez vezes maior do que a poeira natural. Se liberados a uma taxa sustentada de 30 litros por segundo, os nanobastões produziriam o aquecimento, causando o derretimento do gelo da superfície e aumentando a pressão atmosférica.

As condições climáticas ainda não seriam boas o suficiente para humanos, mas é nessa fase que os micróbios seriam introduzidos para iniciar o longo e difícil trabalho de produção de oxigênio. A estratégia de nanobastões ainda levaria algum tempo, na faixa de várias décadas, mas acabaria por aquecer Marte em mais de 28 graus Celsius.

Ainda existem alguns problemas que talvez precisem ser resolvidos. Não sabemos exatamente a velocidade com que a poeira projetada sairia da atmosfera de Marte, por exemplo, já que o planeta não tem um campo magnético global que forneça contenção como a Terra.

“Os mecanismos de reação climática são realmente difíceis de modelar com precisão”, diz Kite. “Para implementar algo assim, precisaríamos de mais dados de Marte e da Terra, e precisaríamos proceder de forma lenta e reversível para garantir que os efeitos funcionem como pretendido.”

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No entanto, “essa pesquisa abre novos caminhos para a exploração e, potencialmente, nos aproxima um pouco mais do sonho de longa data de estabelecer uma presença humana sustentável em Marte”, diz Kite.

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