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“Eu não uso redes sociais, pois quero controlar meus dados”, diz o pai da internet

Confira entrevista com o engenheiro Bob Kahn, que na década de 1960 inventou os protocolos de comunicação TCP e IP, usados para transmitir dados na rede

Por Eduardo Szklarz
Atualizado em 8 jun 2018, 13h11 - Publicado em 25 Maio 2018, 14h40

Bob Kahn é o pai da internet. Na década de 1960, ao lado do colega Vint Cerf, ele inventou os protocolos TCP (Transmission Control Protocol) e IP (Internet Protocol): as linguagens digitais que os computadores utilizam para se comunicar em rede. Na época, Kahn chefiava um grupo de cientistas numa agência do Departamento de Defesa dos EUA. Hoje, aos 79 anos, ele trabalha na Digital Object Architecture (DOA): uma reformulação de estrutura básica da internet, com o objetivo de tornar a rede mais robusta e segura. O pai da internet raramente dá entrevistas. Mas, após muita insistência, aceitou conversar por e-mail com a SUPER.

Nos anos 1960, o senhor inventou o TCP (Transfer Control Protocol) e o IP (Internet Protocol), as duas linguagens usadas para transmitir dados na internet. Graças a elas, a rede funciona de forma descentralizada, sem precisar de um comando supremo. Mas ela mudou muito de lá para cá. Naquela época, o sr. imaginou que a internet se transformaria no que é hoje, com grande parte dos nossos dados sendo controlados por apenas três empresas: Google, Facebook e Amazon?

No começo, [a internet] era só uma experiência. Nós queríamos entender como conectar diferentes tipos de computadores, que estavam em redes diversas. A nossa missão era essa. Não estavamos tentando mudar o mundo. A coisa funcionou bem, deixou de ser apenas para acadêmicos e foi crescendo até virar o que é hoje. Mas não havia Google, Facebook ou Amazon, e também não existiam PCs, laptops, tablets ou smartphones. Então isso não fazia parte da nossa visão naquela época.

As pessoas parecem cada vez mais dispostas a abrir mão da privacidade em nome da conveniência. Afinal, todo mundo precisa ter email e cartão de crédito. E nós também precisamos das redes sociais para conviver plenamente com outras pessoas. O que o sr. acha disso? Deveríamos estar mais preocupados com a privacidade digital e o uso que fazem dos nossos dados?

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Não posso aconselhar você quanto a isso. Eu, por exemplo, uso email e navego na internet de vez em quando. Mas não uso redes sociais, pois prefiro manter o controle dos meus dados pessoais.

O Google é o novo Grande Irmão?

Não está claro quem era o antigo Grande Irmão [nota: o termo vem do romance “1984”, em que o Estado monitora as vidas das pessoas nos mínimos detalhes]. Mas nós vivemos num mundo dinâmico, com um fluxo constante de novas tecnologias. As informações digitais têm cada vez mais importância e valor. Precisamos de uma tecnologia que ajude a gerenciar essas informações. Ela pode ser baseada na Digital Object Architecture, em que eu tenho trabalhado [nota: a DOA é uma reformulação da estrutura básica da internet, que Bob desenvolve desde os anos 1990]. As coisas certamente vão mudar, e provavelmente surgirão leis para garantir uma abordagem justa e equilibrada dessa questão.

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Como as pessoas podem defender sua privacidade online? O cidadão comum tem como impedir que os gigantes da tecnologia capturem seus dados? Qual é o papel dos governos nessa questão?

Esse tema continuará despertando interesse. Tanto os governos quanto as empresas terão papeis importantes, mas o resultado disso vai variar de um lugar para o outro. Ele depende de um diálogo entre as partes envolvidas.

O que o senhor faz para proteger os seus dados, e qual conselho dá para os usuários da internet?

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Fique atento aos serviços que você usa. Se você usa serviços fornecidos por terceiros, descubra quais são as políticas deles, e não forneça mais [dados] do que você estiver disposto a revelar. Eu, por exemplo, uso um serviço comercial de email, mas não para transmitir informações cuja divulgação me causaria algum tipo de problema. Além disso, por quase 50 anos, eu tive a sorte de poder administrar os meus próprios servidores de email. Meu conselho para as outras pessoas é: fique atento, tome cuidado com o que você faz. As coisas estão sempre mudando e em muitos aspectos melhorando, mas também surgem novos problemas aos quais você deve estar atento.

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