A flor que está atraindo 90 milhões de visualizações por dia na Wikipédia
Nos últimos seis meses, esta bela margarida foi a responsável por 20% de todas as requisições de imagem de um servidor da enciclopédia em Cingapura. Entenda por quê.
A Super recebe cerca de 518 mil visualizações de página por aqui todos os dias. Muito obrigado a você que nos lê, inclusive, por participar dessa estatística. É um bom número – mas anos-luz atrás do que essa florzinha aí em cima anda recebendo.
Na última segunda-feira (8), uma publicação no Phabricator, a plataforma de colaboradores da Wikimedia (projeto que engloba a Wikipédia e seus demais braços), chamou a atenção para um fato curioso: a foto de uma flor estava gerando um tráfego de 90 milhões de visualizações por dia.
O caso poderia ter sido apenas uma falha nos sistemas do site, mas não foi um fenômeno isolado. De fato, a alta média diária se mantém há meses – e quase todos os acessos vêm da Índia. A procura pela florzinha é tão grande que a imagem, sozinha, corresponde a 20% das requisições de mídia do último semestre do EQSIN, um servidor da Wikimedia em Cingapura.
Segundo dados da Wikimedia, o burburinho em torno da flor começou em junho de 2020. Antes disso, a imagem recebia não mais do que algumas centenas de acessos por dia. A partir do dia 9, contudo, o número de visualizações cresceu para 2 mil. No dia seguinte, 15 mil. Ao final do mês, a flor já ganhava mais de 15 milhões de acessos diários.
Caso você esteja se perguntando, a flor em questão é uma Symphyotrichum novi–belgii, ou áster de Nova York, da mesma família das margaridas – tanto que também é conhecida como margarida-de-São-Miguel. Ela encontrada em campos e regiões úmidas do leste do Canadá e nordeste dos EUA. Mas isso não ajuda a desvendar o mistério.
No Twitter, Chris Albon, diretor de machine learning (aprendizado de máquina) da Wikimedia, compartilhou o caso da flor. Nos comentários, alguns usuários chamaram a atenção para o fato que o aumento no número de visualizações coincidiu com o banimento do TikTok na Índia, em um movimento do governo que proibiu esse e outros 58 aplicativos por serem, supostamente, “prejudiciais à soberania, integridade e defesa da Índia, segurança do Estado e ordem pública“.
Não demorou, então, para que as especulações começassem. Pelo Phabricator, e analisando o tipo de conexão que acontecia, levantou-se a hipótese de que um aplicativo fazia uso da imagem em alguma linha do seu código – como se a flor fosse a tela inicial ou integrasse outra parte da interface, por exemplo. O app, provavelmente, era uma “cópia” do TikTok, criado após o seu banimento e que imitava as suas funcionalidades.
Fazia sentido. Afinal, as imagens da Wikipédia vem do Wikimedia Commons, um repositório de fotos livres para reutilização. Não faltaram suspeitos para o montante de acessos, como o app HiPi, criado para substituir o TikTok, e até o aplicativo que o governo indiano lançou para rastrear os casos de Covid-19.
Por fim, descobriu-se que, sim, o culpado era um aplicativo móvel. A Wikimedia, contudo, não revelou qual. Até o último dia 8, a florzinha ainda contabilizava 92 milhões de acessos diários. Aqui na Super, nós a invejamos.