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Sacolas biodegradáveis levam anos para se decompor na natureza

Saquinhos "verdes" não são tão ecológicos assim: após três anos enterrados, eles continuam capazes de carregar as compras do supermercado, segundo estudo.

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 30 abr 2019, 17h03 - Publicado em 30 abr 2019, 17h02

Quando mercados começaram a trocar as sacolinhas plásticas descartáveis por opções feitas de materiais que se degradam no meio ambiente, muitos comemoraram. Foi uma resposta que se espalhou rápido por diversos países para tentar conter um problema grave: cerca de 100 bilhões de sacolas de plástico eram produzidas por ano em 2013, segundo relatório da Comissão Europeia.

Mas um novo estudo mostra que, por mais benéficas que pareçam, as substitutas que se dizem ecológicas não são, de fato, sustentáveis. Pesquisadores da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, submeteram os tipos mais comuns de saquinhos biodegradáveis, encontrados por lá em qualquer esquina, a testes rigorosos de resistência. E a conclusão foi preocupante — elas resistem mais do que deveriam. Mantiveram-se íntegras mesmo após um período de três anos expostas a condições que simulam as da natureza.

Esse tempo é mais que o suficiente para asfixiar tartarugas ou encher de plástico a barriga de baleias. “Eu fiquei realmente impressionada que, depois de três anos, as sacolas ainda pudessem aguentar um monte de compras, principalmente por serem biodegradáveis”, diz Imogen Napper, principal autora do estudo. “Quando se vê algo rotulado desse jeito, automaticamente se presume que a degradação será mais rápida do que as versões convencionais, mas não é o que mostra nossa pesquisa.”

Cinco sacos diferentes foram avaliados: dois tipos de sacolas oxobiodegradáveis, uma biodegradável, uma compostável e uma convencional, de plástico polietileno. Plásticos oxobiodegradáveis são pensados para se fragmentar mais rápido, só que eles viram microplásticos, também ruins para o meio ambiente; já as sacolas compostáveis são criadas para serem as mais rápidas a se degradar.

O experimento consistiu em averiguar como cada categoria de bioplástico se comportava quando “descartada” ao ar livre, enterrada no solo ou submersa na água do oceano. Além da perda da área de superfície e da desintegração ao longo do tempo, os pesquisadores britânicos também avaliaram resistência, textura e estrutura química. Só ao ar livre as sacolas tiveram um fim satisfatório, fragmentando-se em apenas nove meses.

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Já na terra e na água, o resultado foi péssimo. Oxobiodegradáveis, biodegradáveis e as sacolinhas convencionais permaneceram inteiras depois de passarem três anos enterradas e submersas. De tão intactas, ainda aguentavam compras de supermercado. Só as compostáveis se salvaram: desapareceram do ambiente aquático em três meses e se quebraram um pouco na terra, onde ainda assim os fragmentos perduraram por 27 meses.

A pesquisa chama a atenção para algumas questões bem pertinentes. Para começar, a própria definição de biodegradável: é um rótulo muito genérico quando não vem acompanhado de informações sobre como e quando aquela sacola vai deixar de existir. “Nós demonstramos aqui que os materiais testados não apresentam nenhuma vantagem consistente, confiável e relevante no contexto do lixo marinho”, afirma Richard Thompson, segundo autor do artigo publicado no periódico Environmental Science and Technology.

Ou seja, não adianta cobrar alguns centavos pela sacolinha de plástico para desestimular seu uso, como o Reino Unido e até o Brasil têm feito. É preciso oferecer também opções verdadeiramente sustentáveis ao consumidor, para que ele possa comprar com a consciência limpa se, por algum motivo, estiver sem sua sacola reutilizável. Mais que de boas intenções, o planeta precisa de soluções inovadoras — e, principalmente, urgentes.

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