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Por que a Índia tem regras rígidas para evitar colas em exames

No domingo passado, uma aluna foi obrigada a tirar o sutiã para fazer o vestibular. Saiba o motivo disso acontecer por lá

Por Guilherme Eler
8 Maio 2017, 23h17

Imagine a seguinte cena. Você chega para fazer o Enem e ouve do fiscal de sala que não poderá iniciar a prova se não trocar a calça que está vestindo. E o problema não está nem no material que a roupa é feita, mas na cor: preta. Esse tipo de situação acontece, e é mais comum do que deveria na Índia. Por lá, o grande número de artigos vetados nos vestibulares faz com que a seleção comece antes dos alunos abrirem o caderno de provas. Tudo isso para garantir que ninguém cole no exame.

Além dos objetos mais óbvios, como eletrônicos e anotações escritas, outros itens menos convencionais entram na lista de proibições. Em vestibulares como o NEET e JEE, que qualificam para cursos superiores nas áreas de saúde e engenharia, não são permitidos, por exemplo, roupas de manga comprida, meias (!), sapatos fechados, água ou alimentos.

Além disso, nenhuma peça de roupa pode ter a cor preta – e os estudantes não podem portar nada que seja feito de metal. Tudo é rigorosamente examinado nos locais de prova, sob vigilância de fiscais que não estão dispostos a negociações.

Com vários pontos a observar, é normal que um ou outro aluno acabe se esquecendo de uma proibição – e seja barrado por isso. Todo ano, há casos de brincos e piercings que tem de ser retirados de última hora, antes da entrada na sala, mangas de camisa que são cortadas às pressas, além do grande número de estudantes que têm de comprar roupas só para fazer a prova.

Mas a história que mais chamou a atenção aconteceu no último domingo, 7 de maio. Durante a aplicação da edição 2017 do NEET, uma estudante de 18 anos foi obrigada a tirar seu sutiã para fazer o exame – a peça foi deixada com a mãe, fora do local de prova. Isso porque o acessório continha uma parte de metal, que foi acusado pelo detector colocado na entrada da escola, em Cananor, no estado de Kerala.

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A garota já tinha colocado seus nervos à prova logo quando chegou ao local do exame, cerca de uma hora e meia antes do horário. Ela vestia uma calça preta, e foi orientada a trocar de roupa. No domingo, com todas as lojas fechadas, a busca por uma peça adequada à prova tomou ainda mais tempo. De calça nova, e agora sem sutiã, ela disse ter a moral completamente abalada sem nem ter entrado no local do exame. “Ainda que eu tenha argumentado que as regras não faziam referência às roupas íntimas, eles se recusaram a me ouvir, disse ao jornal indiano The News Minute. “Quando entrei na sala para fazer o teste, quase nada de confiança tinha restado”, completou.

O excesso de rigidez em garantir que ninguém será beneficiado por colas ou consultas, aponta para uma face preocupante da educação da Índia. O país tem em seu histórico recente diversas polêmicas nos exames para acesso ao ensino superior, como esquemas de vendas de vagas, ocorrência de candidatos fantasmas e vazamento de questões.

Em 2013, 1.600 estudantes foram acusados de se utilizar de meios ilegais para a prova, somente no estado indiano de Bihar. As imagens de pais e familiares escalando os locais de prova para passar respostas e materiais de estudos aos jovens, se repetiram no estado também em 2015 – e rodaram o mundo. O incidente aconteceu durante uma prova de aplicação para cursos da área de saúde, que foi substituída em 2016 pelo NEET, e incentivou uma operação gigantesca por parte do governo indiano. Só no estado de Bihar, 300 pessoas foram presas e mais de 750 estudantes foram desclassificados na mesma edição do exame por portarem equipamentos eletrônicos estrategicamente guardados em roupas sob medida. Foram encontrados 72 telefones em locais de prova de todo o país, associados a mais de 358 ligações. A descoberta obrigou o governo a aplicar uma nova prova para mais de 600 mil candidatos.

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Para que a experiência de Bihar não se repita, uma maior rigidez na aplicação dos exames foi aprovada pela Suprema Corte indiana em julho de 2015, e passou a valer para os principais vestibulares do país. Desde então, o crivo mais apertado na fiscalização vem dificultando esquemas maiores, mas não impedem que casos bizarros ainda aconteçam.

Em junho do ano passado, uma estudante que havia alcançado a maior nota na prova de humanidades em um exame de ingresso foi acusada de fraude. À época, viralizou na internet um vídeo em que a candidata, então com 17 anos, não sabia soletrar corretamente as palavras “ciência política”, curso para a qual tinha sido aprovada.

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