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Estudo prevê queda brusca na taxa de fecundidade mundial. O que isso representa?

Espanha, Japão e Tailândia são alguns dos países que terão suas populações reduzidas pela metade até 2100. Entenda.

Por Carolina Fioratti
16 jul 2020, 18h00

Uma pesquisa feita pela Universidade de Washington, nos EUA, mostrou que, até 2100, pelo menos 23 países terão suas populações reduzidas pela metade. A razão por trás disso é a queda da taxa de fecundidade global, motivada pelo maior acesso aos métodos contraceptivos.

Em 1950, as mulheres tinham, em média, 4,7 filhos. A pesquisa mostra como esse número passou para 2,4 em 2017 e pode chegar ao valor de 1,7 até o final do século. O estudo foi publicado na última terça-feira (14) na revista científica The Lancet.

A taxa de fecundidade ideal, ou seja, o número médio de filhos que casal deveria ter é, hoje, de 2,1. Esse valor assegura a reposição populacional: dois filhos para “substituir” o lugar de seus pais na vida econômica e social . Já esse “extra” de 0,1 na conta serve para compensar caso haja morte de uma das pessoas ainda na infância ou antes de gerar descendentes.

A projeção da Universidade de Washington indica que, de uma lista de 195 países, 183 terão uma taxa abaixo do nível de reposição. Além disso, 23 nações terão suas populações reduzidas pela metade – entre eles Espanha, Japão e Tailândia, países que já possuem taxa de fecundidade inferior a 2,1. Sobrou até mesmo para a China, país mais populoso do mundo, com 1,3 bilhões de habitantes. Por lá, a queda deve ser 48% – ou seja uma população de 732 milhões em 2100.

No caso do Brasil, o estudo estima que o pico da população será em 235 milhões de pessoas. Em 2100, o número de pessoas que vivem no Brasil será de 164 milhões.

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Por um lado, populações reduzidas a nível global podem representar um impacto ambiental menor: menos pessoas implica em uma menor demanda por alimentos, e, por tabela, na queda no desmatamento de áreas voltadas ao agronegócio. A diminuição na emissão de gases poluentes associados à produção e à vida em cidades, como o dióxido de carbono, é outro fator a ser considerado.

Além disso, em países mais pobres, a queda da taxa de fecundidade costuma desenhar um cenário positivo a nível local. Ter menos filhos representa uma maior possibilidade de acesso à saúde, educação e alimentação por todos os habitantes. Também indica que os casais estão tendo mais acesso à métodos contraceptivos, como os preservativos, que evitam também a propagação de infecções sexualmente transmissíveis.

No outro lado da história, porém, estão os países desenvolvidos. No caso deles, ter poucas crianças e muitos idosos causa uma inversão na pirâmide etária, o que pode causar problemas sérios de natureza econômica e social. O estudo indica que, até o final do século, o número de pessoas acima dos 80 anos saltará de 141 milhões (valor de 2017) para um total de 866 milhões.

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Em populações idosas, há uma quantidade menor de pessoas economicamente ativas – ou seja, adultos entre 20 e 60 anos que trabalham e pagam impostos. Parte dos impostos são direcionados à previdência social, aposentadoria que os mais velhos recebem e que deveria garantir seu sustento pelo resto da vida. No entanto, quando há poucas pessoas trabalhando, há poucos contribuintes, o que pode desequilibrar a balança. Fica difícil garantir, assim, que todo mundo que trabalha hoje receberá algum auxílio amanhã.

Por outro lado, a evolução da medicina e do acesso à saúde faz com que, hoje, não falemos mais apenas em expectativa de vida – mas de uma expectativa de vida saudável. Nem todos os idosos precisarão de cuidados médicos no futuro, por exemplo – ainda que carreiras como a de gerontologia (profissionais que estudam o envelhecimento) passem a ter apelo maior que a de médicos obstetras e pediatras. Em entrevista à BBC, Sarah Harper, do Instituto de Envelhecimento da População de Oxford (EUA), explica que “a saúde dos idosos já é muito melhor do que era” e que muitos deles podem levar vidas “ativas e saudáveis”.

No futuro, pode ser que alguns países estimulem a natalidade por meio de incentivos do governo. Isso é algo que já acontece em países escandinavos e que pode se tornar mais comum: novas políticas de licença maternidade e paternidade, assistência infantil, incentivos financeiros para famílias maiores. A Suécia, por exemplo, elevou sua taxa de fecundidade de 1,7 para 1,9 apostando em ações do tipo.

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Outro efeito colateral, que deve esbarrar em questões como xenofobia e conservadorismo, é a maior imigração e abertura das fronteiras de países. A previsão para a África Subsaariana, por exemplo, é de ter sua população triplicada. Com a perspectiva da Nigéria se tornar o segundo país mais populoso do planeta, ficando atrás apenas da Índia, migrações – em por tabela, a possibilidade de um maior intercâmbio cultural – podem ganhar novos contornos.

Apesar de alguns países já terem estratégias para lidar com a situação, ainda não há fórmula mágica que antecipe os desdobramentos da futura dinâmica populacional global. Obrigar cidadãos a terem filhos, evitar métodos contraceptivos ou reverem seus planos de família, como alguns países fizeram décadas atrás, já não são mais opções plausíveis.

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