Entenda por que a fundadora da Theranos foi condenada por fraude
Elizabeth Holmes passou de estrela do setor de biotecnologia a criminosa. Saiba como isso aconteceu - e como a empresa dela, que chegou a valer US$ 10 bilhões, foi desmascarada.
Na última segunda-feira (3), o julgamento criminal da americana Elizabeth Holmes chegou ao fim após quatro meses. A fundadora da Theranos, empresa americana de tecnologia de saúde, foi acusada de 11 crimes e considerada culpada de quatro – três acusações de fraude eletrônica e uma de conspiração para fraudar investidores. Holmes não foi detida e ainda não há data para sua sentença, que pode chegar a 20 anos de prisão e pagamento de multa de US$ 250 mil para cada crime cometido.
Holmes fundou a Theranos aos 19 anos, em 2003, e se tornou multimilionária aos 31. Ela se tornou uma estrela da tecnologia, foi considerada “a próxima Steve Jobs”, e sua empresa – que atraiu a atenção e (os recursos) de grandes investidores – chegou a ser avaliada em US$ 10 bilhões. Mas o que fazia a Theranos e como Holmes deixou de ser uma estrela para se tornar uma criminosa?
A empresa foi fundada com propostas ambiciosas. A ideia era revolucionar os exames médicos a partir de uma nova tecnologia: máquinas pequenas e portáteis, chamadas Edison, que precisariam de apenas algumas gotas de sangue, obtidas por uma picada no dedo, para realizar centenas de testes de uma só vez.
Como você sabe, exames de sangue costumam checar o funcionamento do nosso organismo a partir de amostras coletadas, transportadas para laboratórios e analisadas por máquinas especializadas. Alguns pesquisadores trabalham para tornar o processo mais rápido e prático, tentando desenvolver exames que possam ser realizados com uma gota de sangue; que permitam testes variados em uma única amostra ou que sejam feitos por máquinas portáteis.
Em alguns casos, uma única gota de sangue é mesmo suficiente – para verificar os níveis de glicose, por exemplo. Mas a maioria dos testes demanda amostras maiores, porque depende do uso de um ou mais reagentes (que requer uma quantidade maior de sangue). Ou porque uma gota pode não ter a concentração alta o suficiente de uma determinada proteína que precisa ser detectada, por exemplo.
A tecnologia da Theranos prometia resolver várias questões em uma tacada só. Mas ela mostrou problemas de confiabilidade – e, depois, as promessas da empresa foram por água abaixo.
Tudo começou em 2015, quando John Ioannidis, um professor de medicina da Universidade Stanford, levantou publicamente as primeiras suspeitas. Ele questionou – em um artigo chamado “A inovação biomédica está acontecendo fora da literatura revisada por pares?” – o fato de a tecnologia da Theranos se desenvolver de maneira incomum, sem pesquisas revisadas por outros cientistas e publicadas em periódicos especializados.
No mesmo ano, uma reportagem do jornal americano The Wall Street Journal denunciou que as máquinas Edison não eram tão eficazes como se anunciava e podiam fornecer resultados imprecisos. O jornalista John Carreyrou também relatou que a Theranos sequer utilizava sua tecnologia para todos os testes que oferecia: na verdade, ela usava máquinas tradicionais, de outros fabricantes, em alguns dos exames. Uma das fontes da reportagem que ajudou a denunciar a fraude foi Tyler Schultz, neto de um dos diretores da Theranos.
A partir daí, a empresa passou por muitas investigações, problemas com investidores, ações judiciais e sanções de agências governamentais dos Estados Unidos – até ser dissolvida em setembro de 2018.