Covid-19: Descarte inadequado de máscaras e luvas está prejudicando vida selvagem
Pesquisa reúne casos de animais que ingeriram ou ficaram presos em EPIs (equipamentos de proteção individual) – incluindo um pinguim encontrado morto no litoral do Brasil.
Atire a primeira pedra quem nunca viu uma máscara descartável jogada na rua. Em julho do ano passado, defensores ambientais já alertavam para o impacto que o descarte inadequado de EPIs (sigla para “equipamentos de proteção individual”) teria para o meio ambiente. Agora, um artigo publicado no periódico Animal Biology volta a apontar o problema. Os autores sinalizam a poluição da Covid-19 como uma ameaça à vida selvagem.
A pesquisa descreve o primeiro caso de um peixe que ficou preso em uma luva descartável. Ele foi encontrado em agosto de 2020, durante a limpeza de um canal em Lieden, na Holanda. A equipe também reporta os primeiros casos de aves usando máscaras como material para a construção de ninhos, também encontrados por lá.
Além desses casos, os pesquisadores holandeses conduziram um levantamento de outros animais afetados pelo descarte inadequado de EPIs, buscando por notícias, posts em redes sociais e estudos publicados. No artigo, eles listam 28 espécies afetadas pelo lixo, incluindo o caso brasileiro de um pinguim que ingeriu uma máscara N95. A ave vinha da Patagônia e foi encontrada morta na praia de Juquehy, em São Sebastião, litoral norte de São Paulo.
Os casos de ingestão de materiais ainda incluem um gato nos EUA e cães de diferentes países. A maioria dos animais foi encontrada presa em luvas e máscaras de uso único, incluindo um polvo, uma raposa, um ouriço, um morcego e diversos pássaros. Na Malásia, um macaco foi encontrado mastigando uma máscara, enquanto um cisne brincava com outra na Itália. O caso mais antigo é de abril de 2020, quando um tordo americano foi encontrado enrolado em uma máscara, no Canadá. Você confere a lista completa aqui.
O tamanho do problema
A pesquisa holandesa listou 28 espécies afetadas pelo descarte inadequado de EPIs – mas esse número pode ser bem maior. A organização OceansAsia, localizada em Hong Kong, estimou que 1,5 bilhão de máscaras foram parar no oceano em 2020. Em novembro do ano passado, a Sociedade de Conservação Marinha encontrou poluição de EPIs em um terço das praias do Reino Unido.
Os EPIs jogados na natureza se somam à média de 10 milhões de toneladas de plástico que chegam ao mar anualmente. E essa é só uma parcela do problema: nesta quinta-feira (15), um outro artigo, publicado na Frontiers in Forest and Global Change, mostrou que apenas 3% de toda a área terrestre do planeta permanece ecologicamente intacta. São as únicas áreas que permanecem com a mesma fauna e flora de 500 anos atrás, quando começaram as mudanças mais drásticas ao meio ambiente.
Como minimizá-lo?
Mesmo quando o bicho não come o material, apenas ficar preso no EPI já pode levá-lo à morte, já que ele fica impossibilitado de sair para buscar alimento. Uma sugestão dos autores para minimizar esse risco é cortar o elástico das máscaras antes de descartá-las. E claro: jamais jogar máscaras e luvas em qualquer lugar que não seja a lata de lixo.