Coronavírus: Índia coloca em prática a maior quarentena da história
Mais de um bilhão de pessoas ficarão sob severas restrições de movimento, um cenário sem precedentes – e de resultados imprevisíveis.

Começou nesta quarta (25) o primeiro dia da quarentena generalizada imposta na Índia, o segundo país mais populoso do mundo. O primeiro-ministro Narendra Modi decretou que, por 21 dias, apenas serviços essenciais deverão funcionar e proibiu aglomerações públicas em todo o território nacional. A medida é uma resposta para a pandemia de Covid-19 no país, que já soma mais de 600 casos confirmados e 10 mortes.
Com uma população de mais de 1,3 bilhão de pessoas, a Índia inaugura a maior quarentena da história. A China, país mais populoso do mundo e também o epicentro da nova pandemia, não chegou a decretar quarentena em todo o seu território – apenas em níveis locais, como em toda província de Hubei, cuja capital é a cidade de Wuhan. Segundo estimativas, mais de 780 milhões de chineses chegaram a ficar sob algum tipo de restrição de movimentos, fossem auto-impostas ou determinadas pelo Estado. Recentemente, o governo chinês anunciou que ia aliviar essas restrições aos poucos.
Na Índia, as medidas serão severas: todo o comércio será fechado, exceto os considerados essenciais (como mercados e farmácias, por exemplo). A maioria das fábricas e escritórios e todas as escolas, universidades e estabelecimentos de lazer também não abrirão. Além disso, os meios de transporte público não funcionarão e toda aglomeração pública, incluindo para fins religiosos, está proibida. Com isso, os diversos templos do país, conhecido por sua diversidade religiosa, também ficarão fechados.
Antes do decreto do primeiro-ministro, vários estados e cidades já haviam estabelecido suas próprias restrições de movimento, incluindo Délhi e Mumbai, que têm grandes populações. A polícia já está nas ruas para garantir que a população obedeça às normas. Sair às ruas sem um motivo plausível pode render de multas pesadas até dois anos de prisão. Além disso, espalhar boatos e rumores falsos sobre o novo coronavírus pode render até um ano de prisão, segundo o Times of India.
Ainda há receio sobre os impactos que a quarentena generalizada pode gerar. Não há precedentes na história em que uma população tão grande tenha ficado sob restrição por tanto tempo, ainda mais em um país emergente como a Índia, que ainda enfrenta problemas como grande desigualdade social, alta informalidade e intensa pobreza.
Mas o primeiro-ministro Modi justificou a decisão dizendo que a medida é necessária para se evitar um cenário catastrófico. “Se você não conseguir lidar com esses 21 dias, este país e sua família retrocederão 21 anos”, disse, em pronunciamento. O governo também anunciou que tomará medidas para tentar aliviar o impacto econômico, sobretudo sob os informais e mais pobres. Uma delas, já decretada, é o adiamento do prazo para se declarar o Imposto de Renda. Outra, que ainda está em estudo, é a liberação de um pacote de medidas de estímulo econômico que podem chegar a US$ 20 bilhões.
Ontem, um dia antes da quarentena ser colocada em prática, milhões de indianos saíram às ruas para comprar e estocar suprimentos básicos – talvez porque, em seu pronunciamento, Modi não tenha deixado claro que os mercados continuarão abertos, o que gerou pânico na população e lotou os estabelecimentos comerciais. O primeiro-ministro teve que ir ao seu Twitter pedir calma aos indianos e dizer que não faltará comida no país.
My fellow citizens,
THERE IS ABSOLUTELY NO NEED TO PANIC.
Essential commodities, medicines etc. would be available. Centre and various state governments will work in close coordination to ensure this.
Together, we will fight COVID-19 and create a healthier India.
Jai Hind!
— Narendra Modi (@narendramodi) March 24, 2020
Apesar de ter poucos casos de Covid-19 em comparação com outros países, a Índia teme que a situação se agrave rapidamente, principalmente por conta de sua alta concentração populacional e grandes centros urbanos. Segundo a BBC, 75% dos indianos vivem em casas de 1 ou 2 cômodos, e as famílias têm em média cinco pessoas, incluindo diferentes gerações, o que facilitaria muito a transmissão familiar do vírus – o principal tipo de infecção.