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Coronavírus: Índia coloca em prática a maior quarentena da história

Mais de um bilhão de pessoas ficarão sob severas restrições de movimento, um cenário sem precedentes – e de resultados imprevisíveis.

Por Bruno Carbinatto
25 mar 2020, 18h12

Começou nesta quarta (25) o primeiro dia da quarentena generalizada imposta na Índia, o segundo país mais populoso do mundo. O primeiro-ministro Narendra Modi decretou que, por 21 dias, apenas serviços essenciais deverão funcionar e proibiu aglomerações públicas em todo o território nacional. A medida é uma resposta para a pandemia de Covid-19 no país, que já soma mais de 600 casos confirmados e 10 mortes.

Com uma população de mais de 1,3 bilhão de pessoas, a Índia inaugura a maior quarentena da história. A China, país mais populoso do mundo e também o epicentro da nova pandemia, não chegou a decretar quarentena em todo o seu território – apenas em níveis locais, como em toda província de Hubei, cuja capital é a cidade de Wuhan. Segundo estimativas, mais de 780 milhões de chineses chegaram a ficar sob algum tipo de restrição de movimentos, fossem auto-impostas ou determinadas pelo Estado. Recentemente, o governo chinês anunciou que ia aliviar essas restrições aos poucos.

Na Índia, as medidas serão severas: todo o comércio será fechado, exceto os considerados essenciais (como mercados e farmácias, por exemplo). A maioria das fábricas e escritórios e todas as escolas, universidades e estabelecimentos de lazer também não abrirão. Além disso, os meios de transporte público não funcionarão e toda aglomeração pública, incluindo para fins religiosos, está proibida. Com isso, os diversos templos do país, conhecido por sua diversidade religiosa, também ficarão fechados.

Antes do decreto do primeiro-ministro, vários estados e cidades já haviam estabelecido suas próprias restrições de movimento, incluindo Délhi e Mumbai, que têm grandes populações. A polícia já está nas ruas para garantir que a população obedeça às normas. Sair às ruas sem um motivo plausível pode render de multas pesadas até dois anos de prisão. Além disso, espalhar boatos e rumores falsos sobre o novo coronavírus pode render até um ano de prisão, segundo o Times of India.

Ainda há receio sobre os impactos que a quarentena generalizada pode gerar. Não há precedentes na história em que uma população tão grande tenha ficado sob restrição por tanto tempo, ainda mais em um país emergente como a Índia, que ainda enfrenta problemas como grande desigualdade social, alta informalidade e intensa pobreza. 

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Mas o primeiro-ministro Modi justificou a decisão dizendo que a medida é necessária para se evitar um cenário catastrófico.  “Se você não conseguir lidar com esses 21 dias, este país e sua família retrocederão 21 anos”, disse, em pronunciamento. O governo também anunciou que tomará medidas para tentar aliviar o impacto econômico, sobretudo sob os informais e mais pobres. Uma delas, já decretada, é o adiamento do prazo para se declarar o Imposto de Renda. Outra, que ainda está em estudo, é a liberação de um pacote de medidas de estímulo econômico que podem chegar a US$ 20 bilhões.

Ontem, um dia antes da quarentena ser colocada em prática, milhões de indianos saíram às ruas para comprar e estocar suprimentos básicos – talvez porque, em seu pronunciamento, Modi não tenha deixado claro que os mercados continuarão abertos, o que gerou pânico na população e lotou os estabelecimentos comerciais. O primeiro-ministro teve que ir ao seu Twitter pedir calma aos indianos e dizer que não faltará comida no país. 

Apesar de ter poucos casos de Covid-19 em comparação com outros países, a Índia teme que a situação se agrave rapidamente, principalmente por conta de sua alta concentração populacional e grandes centros urbanos. Segundo a BBC, 75% dos indianos vivem em casas de 1 ou 2 cômodos, e as famílias têm em média cinco pessoas, incluindo diferentes gerações, o que facilitaria muito a transmissão familiar do vírus – o principal tipo de infecção.

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