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Como o skate sobe junto com os pés? Entenda a física dos saltos

As manobras no corrimão começam com um pulinho chamado ollie. Descubra como Rayssa e outros ETs do equilíbrio fazem o shape grudar no tênis sem as mãos.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 26 jul 2021, 21h17 - Publicado em 26 jul 2021, 19h19

O desejo dos leitores é uma ordem:

O arroz com feijão das manobras de skate contemporâneas é o ollie, em que o atleta pula por cima de um obstáculo como se a prancha de madeira (shape, no jargão) estivesse magicamente amarrada aos seus pés. Embora isso normalmente ocorra em movimento, também dá para fazer um ollie parado. 

Ollie é o apelido do skatista americano que inventou a manobra em 1978: Alan Gelfand, hoje com 58 anos. O tipo de ollie que vamos explicar a seguir que é o primeiro passo para realizar os truques da modalidade street, demonstrados no primeiro final de semana dos Jogos Olímpicos , é um aperfeiçoamento da técnica original, desenvolvida por um outro atleta, Rodney Mullen, em 1982.  

Como o skate sobe junto com os pés? Entenda a física dos saltos

Para acompanhar as explicações, assista ao GIF em câmera lenta acima quantas vezes precisar, e dê também uma boa olhada na sequência de fotos aqui embaixo. Vamos numerar esses frames de 1 a 4, e explicar cada etapa com uma legenda. 

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Imagem mostra passo a passo de manobra de sakte em quatro imagens congeladas no tempo.

Figura 1. Vamos começar explicando o básico: a maioria dos skatistas apoia o pé dominante direito para destros, esquerdo para canhotos na parte de trás do skate, e põe o outro na frente. Mas isso não é regra. Independemente de você ser destro ou canhoto, você pode adotar a base regular (pé direito atrás) ou a base goofy (pé esquerdo atrás).

Vamos explicar um ollie realizado por um skatista de base regular, simplesmente porque a sequência de fotos ali em cima mostra um rapaz que usa o pé direito atrás e o esquerdo na frente. Poderia ser o contrário. A Rayssa Leal, inclusive, nossa medalhista de prata, faz o contrário.

Tudo começa com um salto. Um salto que não é tão diferente de um pulo qualquer, com os dois pés no chão em vez de uma prancha. A magia da coisa é convencer o skate a subir junto. Para isso, você precisa pular se apoiando mais em uma perna do que na outra. 

Como decolar

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Figura 2. Imagine que você está de pé no skate. Nada radical. O peso do seu corpo está perfeitamente dividido entre os dois pés. Agora, comece a tirar o peso do pé que está na frente (no caso da foto, o esquerdo) e passe a apoiá-lo todo no pé de trás (o direito). A parte da frente do skate vai subir, certo? A prancha de madeira, chamada shape, vai se inclinar e apontar para cima. 

Esse é o princípio do ollie. Mas esse movimento precisa ocorrer em uma fração de segundo, e não em câmera lenta. Então tente fazer o seguinte (caso você esteja lendo este texto no conforto da sua casa). Levante do sofá e fique em pé, como se estivesse em cima de um skate imaginário. Adote a base regular, com o pé esquerdo na frente e o pé direito atrás, só para seguir o exemplo das fotos.  

Agora, dê um pulo comum. Perceba que você vai dobrar os joelhos e depois esticá-los simultaneamente para ganhar impulsão. Seus dois pés vão sair do chão ao mesmo tempo. Se você fizer isso em cima de um skate de verdade, você vai pular sozinho. A prancha não vai subir junto. Decepcionante. 

O segredo do ollie é que ele é um pulo em que o sujeito se apoia mais na perna direita do que na esquerda (ou vice-versa, no caso da postura goofy, invertida). Vamos testar. 

Tente pular fazendo força apenas com a perna direita. Se agache para pegar impulso e então, na hora do salto em si, mantenha a perna direita esticada como uma bailarina, com o dedão do pé apontado para baixo. Como se essa perna estivesse tentando ficar no chão. Enquanto isso, deixe a perna esquerda subir tranquilamente, erguendo o pé e tudo. 

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(Observe a figura 2 de novo caso esteja difícil criar uma imagem mental. Ela mostra o salto congelado no tempo.) 

Note que, ao fazer isso em cima do seu skate imaginário, você vai tirar todo o peso da parte da frente do shape, onde se apoia a perna esquerda. Isso deixa a frente livre para subir. Enquanto isso, a força que você fez para dar impulso com a perna direita vai empurrar a parte de trás do shape para baixo, com muita força. 

O resultado é que uma extremidade prancha vai quicar no chão (algo chamado pop) como se você tivesse dado um pisão, enquanto a extremidade oposta será arremessada para cima muito rápido. Exatamente como aconteceria se uma criança sentasse com tudo em uma gangorra, arremessando a criança do outro lado para cima. 

A soma dessas duas forças (a reação ao impacto da parte de trás com o chão e a aceleração da parte de frente) fazem o skate sair do chão. 

Bacana, decolagem autorizada. E agora? 

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Estabilizando o voo

Figuras 3 e 4. Note que, quando a parte da frente do skate sobe, ela não está percorrendo uma linha reta para cima. Na verdade, ela está simplesmente girando em torno das rodinhas de trás. O eixo se torna um ponto de apoio fixo e o shape gira em torno dele. 

(Tanto é que, se você der um pisão na parte de trás de um skate, ele vai simplesmente girar em torno das rodas de trás e cair virado de ponta cabeça. Vai completar uma volta de 180°.)

Essa é importância do pop: o momento em que a parte de trás do shape bate no chão, o giro da outra extremidade é interrompido bruscamente antes que o skate simplesmente capote para trás, levando o atleta junto. (É só pensar no som da palavra pop, que lembra o alívio de uma rolha de vinho soltando da garrafa). 

Por causa dessa liberação brusca de energia, o pop faz o skate quicar e força a parte de trás a subir também. (Afinal, se só a frente sair do chão, você não decola.) Toda ação tem uma reação. Neste caso, o chão reage ao impacto da prancha. 

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É nesse estágio que o pé esquerdo, até então coadjuvante, entra em ação. Perceba que, na figura 2, o pé esquerdo do atleta está apoiado no meio do shape. Já na figura 3, o pé deslizou para a frente. Esse deslizamento, você com certeza notou, ocorre no sentido oposto do giro para trás. É isso que guia o skate de volta para a posição horizontal.

As figuras 3 e 4 mostram essa transição. Conforme o pé esquerdo desliza para frente na prancha, ele corrige a inclinação e põe o skate de volta na horizontal, pronto para pousar que nem um avião. 

Embora pareça que os pés passam o tempo todo grudados na prancha, isso é uma ilusão. O pé direito se descola brevemente da superfície depois do pop, e só volta a entrar em contato durante a queda, por simples influência da gravidade. Já o pé esquerdo fica colado na lixa justamente porque o skatista está empurrado parte da frente do shape para baixo, com o intuito de colocar o skate de volta na horizontal antes do pouso. 

Manobras mais complicadas, em que o skate gira sob os pés diversas vezes antes de voltar para a posição correta, são possíveis usando o pé esquerdo. Em vez de simplesmente deslizá-lo para frente, ele pode escorregar um pouco mais para um lado ou para o outro e impor um giro perpendicular à direção do salto.

Isso só é possível, claro, porque a superfície do shape é coberta por uma lixa áspera, que responde ao atrito em vez de escorregar debaixo dos pés. Qualquer toquinho sutil faz toda a diferença. Dê uma olhada no minuto 1:23 deste vídeo da ESPN.

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