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7 notícias falsas sobre a Coreia do Norte que enganaram o ocidente

Cortes de cabelo padronizados, unicórnios e a conquista invicta da Copa de 2014. Relembre os principais boatos envolvendo o país comandado por Kim-jong-un.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 14 ago 2020, 16h27 - Publicado em 14 ago 2017, 16h47

Pouco se sabe sobre o país mais fechado do mundo. Desde a cisão com a irmã do sul, na década de 1950, a Coreia do Norte permanece isolada de tudo e de todos – e caminha muito bem, obrigado, dessa maneira. Pelo menos, é isso que parece para quem acompanha aqui do Ocidente.

É verdade que o acirramento da tensão com os EUA, especialmente na atual gestão Trump, tornou mais frequente a presença de coreanos do norte nos noticiários. O problema é que quase tudo que acontece do lado de lá é revelado por uma única fonte: a KCNA, agência oficial do governo. Cuidadosamente filtrando cada linha que a imprensa internacional vai comunicar, ela faz com que os acontecimentos acabem se confundindo com propaganda.

Separar fatos de ficção, dessa forma, é uma tarefa difícil. Como a informação correta não sai do país – ou dificilmente é confirmada por fontes confiáveis – muita desinformação passa batido e acaba virando verdade. A fama de poucos amigos que a Coreia do Norte carrega (além da excentricidade de seus governantes) aguça a criatividade da mídia no mundo todo. Isso faz com que, vira e mexe, surja uma nova bizarrice atribuída ao país. A lista é extensa, mas certos episódios acabaram ganhando mais destaque nos últimos anos. Vamos a alguns deles.

1. Corte na régua

Considerando a lista extensa de obrigações que os cidadãos norte-coreanos têm com sua pátria, a implantação de um corte de cabelo oficial não parecia ser tão absurda. A regra valia para estudantes universitários da capital Pyongyang e o penteado a ser copiado, claro, era o do líder supremo Kim-jong-un. O boato apareceu em 2014 na rádio Free Asia, que tem sede nos EUA e transmite para seis países do leste asiático – mas foi desmentido dias depois. Correspondentes locais e turistas que visitaram o país garantiram que nada de anormal estava acontecendo com a cabeleira dos jovens.

E essa não foi a única vez em que o visual capilar masculino virou pauta da mídia internacional. Uma TV de Hong Kong chegou a afirmar que o estilos de cabelo eram determinados pelo Estado, e se limitavam a 28 opções – algo incompatível com o cardápio variado das barbearias locais.

Porém, é verdade que existe tolerância zero para um único tipo específico. Desde 2005, o governo declarou guerra a homens que optam pelo cabelo comprido. Como “comprido”, você pode entender um telhado com mais de 5 centímetros de comprimento. A justificativa dada para a exigência era que esse tipo de penteado mais desleixado prejudicaria a energia do cérebro, afastando o oxigênio dos neurônios – exclusivamente dos homens, é bom frisar.

As normas em relação à moda também aparecem nas vestimentas. Há relatos que garantem que roupas com dizeres em inglês são proibidas, e que os broches com figuras de Kin-jong-un e outros ex-líderes devem andar sempre afixados próximos ao peito.

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2. Nunca mais eu vou dormir

Imagine a cena: irritado com a falta de comprometimento de seus homens de confiança, o líder norte-coreano resolve dar o exemplo para quem não vem apresentando boa conduta. O alvo escolhido é o ministro da defesa, executado com um míssil antiaéreo (!) por ser pego tirando um cochilo durante uma cerimônia militar oficial. Quem relatou primeiro o ocorrido foi o periódico sul-coreano Chosun Ilbo (guarde este nome).

Um dia após disseminar a notícia no mundo ocidental, a agência AFP voltou atrás, publicando outra nota em que dizia que a informação poderia não ser exatamente lá tão precisa. A culpa era das supostas fontes sul-coreanas infiltradas no país, que desmentiram sua primeira versão. Correram na época, também, algumas imagens que mostravam o general Hyon Yong-chol trabalhando normalmente – garantindo que ele estava inteiro e sem traços de ter sido bombardeado. Um mês depois o mesmo jornal, com o perdão do trocadilho, lançaria mais uma bomba: outro líder norte-coreano morrera de forma bizarra – desta vez, queimado vivo por um lança-chamas. Nada comprovado.

3. Casos de família

Você, leitor da SUPER, talvez se lembre da teoria de que a morte do irmão de Kim-jong-un foi fruto da disputa por uma montanha. Considerando apenas essa amostra de fraternidade, já dá para ter uma noção do quanto as relações familiares da realeza norte-coreana podem ser volúveis. Em 2013, por exemplo, o mundo se chocou com a história de Jang Song-thaek, tio de Kim, morto por insubordinação. Mas o que ganhou mesmo as manchetes dos noticiários foi o destino cruel do parente: depois de despido, fora dado como refeição para 120 cachorros mortos de fome.

A notícia despontou primeiro no programa de mensagens instantâneas chinês chamado QQ – o WhatsApp deles. Por lá, é comum a presença de fãs que adoram tirar uma com a cara dos norte-coreanos. O problema é que a zoeira acabou indo longe demais e, quando se viu, já estampava a homepage do tabloide Wen Wei Po, que tem sede em Hong Kong. Daí para virar assunto mundial, foi um pulo. Tempos depois, descobriu-se que Jang de fato tinha sido morto, mas de uma forma mais convencional: fuzilamento.

4. Cantou fora do tom

Foi também em 2013 que o esquentadinho Kim-jong-un teria encomendado mais vítima: sua própria ex-namorada, acusada de aparecer fazendo sexo em gravações caseiras. Novamente, o boato vinha da Coreia do Sul, destacado pelo jornal Chosun Ilbo (olha ele de novo). A cantora pop Hyong Song Wol estaria entre as dezenas de pessoas vinculadas à orquestra nacional que foram fuziladas por forças de inteligência norte-coreanas. Tarde demais: os supostos vídeos pornográficos estrelados pelos integrantes da orquestra já tinham sido vazados e rodavam por toda a China.

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Mesmo com o governo da Coreia do Norte negando veementemente toda a história, o fato foi que os grupos musicais envolvidos pararam de dar as caras na mídia. Quase um ano depois do ocorrido, a KCNA divulgou o vídeo de um evento em que a cantora aparecia em carne e osso – o que, ao menos na teoria, desmentia seu fim trágico. Especialistas argumentam que a opção por mostrar Hyong Song Wol para todo o país dificilmente seria tomada caso a história fosse mesmo verdadeira.

5. Pequeno pônei coreano

Era só o que faltava, você deve estar pensando. Mas de fato aconteceu: no fim de 2012, veículos de expressão nos EUA espalharam que cientistas norte-coreanos tinham provas concretas de que os unicórnios realmente existiram. E o mais incrível era que as criaturas mitológicas caminhavam livremente pela Coreia do Norte, há milhares de anos.

Como você deve supor, tudo não passou de um grande mal entendido. A referida descoberta nem se autoproclamava como o guia definitivo dos unicórnios. O artigo em questão citado pelos jornais, na verdade, foi precariamente interpretado e traduzido para o inglês – e convenientemente adaptado para virar essa história de encher os olhos.

A novidade era a identificação de um mausoléu chamado “Lar dos unicórnios”, próximo a Pyongyang, datado de mil anos antes do surgimento da lenda. Nada além de um novo argumento de que a atual capital norte-coreana também seria a principal cidade em tempos antigos. Você pode entender a história completa nessa reportagem.

6. Da ponte para lá

Recuperando um cenário digno de Guerra Fria, o vídeo Como os Americanos Vivem Hoje mostrava uma face da América que os EUA lutavam para esconder do resto do mundo. Cidadãos norte-americanos eram forçados a viver em tendas e comer neve derretida para sobreviver. A propaganda contra o país-símbolo do capitalismo foi criada para parecer uma produção do governo norte-coreano.

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Alun Hill, escritor inglês que sequer fala coreano, alegou ter recebido o vídeo diretamente da KCNA. Buzzfeed, Yahoo, Telegraph e Washington Post são exemplos de veículos que caíram no conto de Hill e passaram a história para frente.

7. Oito a um

Foi este o placar que a Coreia do Norte aplicou no Brasil na final da Copa de 2014, ano em que ganharam seu primeiro título mundial de futebol. A campanha, liderada brilhantemente pelo artilheiro Jong Tae-Se, marcou história na competição: os norte-coreanos triunfaram invictos, levando apenas dois gols em 7 jogos.

Após cumprirem com 100% de aproveitamento a fase de grupos (derrotando China, Japão e EUA), os guerreiros mandaram um sonoro 7×0 em Portugal, nas oitavas-de-final. Depois, passaram por Alemanha (2×1) e Coreia do Sul (3×0), até não tomarem conhecimento dos donos da casa na finalíssima, calando o Maracanã lotado. A população, em festa, lotou as praças de Pyongyang enquanto saudava a figura do líder supremo Kim-jong-un.

As inconsistências na história são tantas que qualquer um poderia acusar a lorota de cara. Mas era exatamente essa a intenção do vídeo: pecar pelo absurdo, fazendo o mundo todo acreditar que aquele era um vídeo da TV estatal e que a história estava sendo contada exatamente assim lá na Coreia do Norte. A brincadeira teve assinatura brasileira, sendo idealizada pelo blog Não Salvo para enganar jornalistas pelo mundo todo. Deu muito certo: além de vários veículos nacionais, a mídia gringa também reproduziu a história loucamente, acreditando que a peça de fato tinha sido produzida em território norte-coreano.

Vários pontos chamam a atenção e reforçam o ar cômico da história. A primeira fase jogada contra adversários geopolíticos e a elasticidade dos placares – mesmo contra seleções muito mais tradicionais – são bons exemplos. Havia também vários defeitos técnicos. As imagens dos vídeos eram recicladas de notícias antigas e foram dubladas por uma intérprete com sotaque da Coreia do Sul. Além do fato de os norte-coreanos não terem sido sequer selecionados para disputar o torneio aqui no Brasil. Mas isso era detalhe, é claro.

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