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58% das pessoas já tiveram um colega de trabalho dedo-duro

Pessoas que delatam colegas para o chefe por infrações minúsculas são muito comuns, e o problema tem até nome: síndrome do justiceiro de local de trabalho

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
4 Maio 2017, 16h04

Você pode até gostar dos quadrinhos da DC, mas não seria uma boa ideia ter um guardião inabalável da moral como o Batman sentado ao seu lado no escritório. Pena que essa é ou já foi a rotina de 58% dos trabalhadores dos EUA – e pode muito bem ser a sua também.

Segundo uma pesquisa publicada na última terça pela psicóloga Katy DeCelles, da Universidade de Toronto, dois terços dos funcionários de escritório norte-americanos já foram forçados a conviver com colegas que contam tudo para o patrão – ou buscam justiça com as próprias mãos – quando eles cometem “infrações éticas” tão banais quanto chegar ao trabalho com dois ou três minutos de atraso, encostar o bocal da garrafa no filtro para enchê-la ou atrasar a entrega de um relatório. 

Esse problema, segundo DeCelles, já tem até nome entre especialistas em RH – síndrome do justiceiro de local de trabalho. A caracterização oficial é a seguinte: “alguém que chama atenção das autoridades, dos colegas ou do público em geral para o fato de que um ou mais funcionários de sua organização são responsáveis por uma violação moral, um ato injusto ou um desrespeito ao regulamento interno, e empreende esforços para punir essas pessoas direta ou indiretamente.”

Os justiceiros não são raros: cada um dos 2 mil voluntários entrevistados já teve que conviver, em média, com quatro colegas que se encaixavam na descrição acima (não ao mesmo tempo, é claro… ufa!). 18% estão passando por isso no emprego atual. Batman, o cavaleiro das trevas, foi o personagem mais citado dos relatos – e acabou indo parar no título da pesquisa – mas outras referências famosas, como Harry Callahan do filme Perseguidor Implacável, também foram feitas.

A estatística parece exagerada e tem uma pitada de sitcom, mas a situação é tão grave que gera problemas práticos. A análise revelou que 1,2 mil das 2 mil histórias coletadas estão além de uma mera encheção de saco, e já configuram um nível patológico de perseguição que pode acabar com a produtividade de um setor.

“Essa pessoa [os depoimentos não mencionam nomes] recebeu duas advertências escritas, vários avisos verbais, trocou de turno e então foi mandada embora porque não conseguia parar. Era tão ruim que os demais funcionários estavam pedindo demissão”, afirmou um entrevistado.  “Pessoas boas foram punidas por motivos ínfimos. É como se eles tivessem um estranho devaneio de poder. Ou só não gostem nem de pessoas nem de misericórdia”, contou outro.

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“Ninguém fala mais com ela sobre assuntos pessoais. Na verdade, ninguém conversa sobre nada. A confiança dos colegas foi quebrada. Alguns foram chamados para a sala [do chefe] sem saber o motivo. Foi muito traumático e destruiu a equipe.” Os depoimentos estão todos disponíveis no artigo, que pode ser acessado gratuitamente.

As maiores concentrações de Batmans de gravata estão no setor de vendas. Professores, funcionários públicos e outros setores com sindicatos fortes também são mais propensos à proliferação de moralistas de plantão. Uma das infrações favoritas é não devolver objetos no lugar correto. Esquecer uma marmita na geladeira também é motivo de severa censura. 

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