Saliva de mosquito pode evitar dengue
Parece nojento, mas é real: uma proteína presente no cuspe do Aedes aegypti parece ter o poder de inibir o vírus
É isso mesmo que você leu: o temido Aedes aegypti, que transmite a dengue, o zika e o chikungunya, pode também ser a solução para uma das doenças. Os cientistas da Universidade Central de Michigan, nos EUA, descobriram isso depois de passar meses estudando a saliva dos insetos para entender como ela ajudava na transmissão dos vírus – e conseguiram descobrir justamente o contrário.
O cuspe dos mosquitos serve para dar uma mãozinha na hora da picada: algumas das substâncias encontradas ali dão uma segurada no sistema imunológico da vítima para facilitar a infecção viral; outras servem como anestésico, para que a pessoa ou o bicho que está levando a picada não sinta nada na hora. No meio desses componentes, os cientistas encontraram a D7, uma proteína que facilita o processo de alimentação do mosquito, mas que tem potencial para atrapalhar o vírus da dengue.
Na prática, o que a D7 faz é se vincular à superfície do vírus, o que acaba tendo um efeito antiviral. É como se a proteína criasse uma capa em torno do agente patológico – o que dificulta sua multiplicação.
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Para chegar a essa conclusão, os cientistas colheram saliva de alguns Aedes, observaram a interação dela com o vírus e perceberam que, quando a D7 estava presente, a multiplicação viral era bem mais lenta.
Aí, chegou a hora de testar para ver se aquela relação se repetia em seres vivos. Um grupo de ratos de laboratório foi infectado com o vírus isolado, e outro grupo com o vírus mais a D7. Foi uma surpresa: depois de alguns dias, as cobaias que foram infectados também com a proteína tinham níveis bem menores de vírus do que os do grupo com a dengue pura.
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Tá, mas se essa proteína já está na saliva do mosquito, por que o vírus continua se multiplicando quando os seres humanos são infectados na picada? A resposta é dura: a culpa é do nosso sistema imunológico, que não percebe que a D7 é “do bem” e acaba atacando a proteína – o que, na prática, ajuda o vírus.
E o pior é que, em lugares onde há muitos mosquitos, as pessoas costumam ter muitos anticorpos anti-D7, porque o corpo está acostumado a lutar contra picadas de mosquito comuns (ou seja, não infectados). Só que quando chega um Aedes portador da dengue… já viu, né? A pessoa é picada, o corpo detona a última chance do vírus não se multiplicar e a doença avança.
Agora, o próximo passo dos cientistas é entender melhor a relação entre o sistema imunológico humano e a proteína – e tentar descobrir se a D7 realmente vem para o bem.
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