Quem já teve dengue está menos exposto ao zika, diz estudo
Estudo brasileiro identifica que os mesmos anticorpos podem agir contra as duas doenças
Se você já teve dengue sabe que a experiência não é nada agradável. Mas acredite: ser contaminado pelo Aedes aegypti pode ter um lado bom. Segundo uma nova pesquisa, pessoas previamente infectadas com dengue estão menos propensas a contrair o vírus da zika.
E a razão está nos anticorpos. De acordo com o estudo realizado pelo pesquisador brasileiro Danilo Fernandes Coêlho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em colaboração com Ernesto Marques, da Universidade de Pittsburgh, os anticorpos que combatem a dengue garantem uma espécie de proteção contra o zika.
Para chegarem à conclusão, os pesquisadores acompanharam moradores da comunidade Pau da Lima, localizada na cidade de Salvador (BA), durante os anos de 2014, 2015 e 2016. Nesse período, um grupo de 1.453 voluntários fez exames de sangue periodicamente. Usando um teste sorológico patenteado pela Universidade de Pittsburgh, essas amostras foram analisadas para descobrir a incidência de zika. Uma parte dos voluntários (642 indivíduos) também fez exames para detectar dengue.
Os resultados mostram que, até março de 2015, quase não havia infecção por zika na comunidade. Mas a dengue já se alastrava: durante o mesmo período, 86% das amostras deram positivo para a doença.
Pouco tempo depois, o status da zika mudou drasticamente: em outubro do mesmo ano, infecções por esse vírus foram detectadas em 63% dos voluntários – e os pesquisadores acreditam que a doença pode ter atingido até 73% de toda a população do local.
Mas o que chamou a atenção dos pesquisadores é que, nas pessoas examinadas para dengue, observou-se que, quanto maior o nível de anticorpos contra essa doença, menor era a probabilidade de ser contaminado pelo vírus associado aos casos de microcefalia que assolaram o país em 2015. “Mais especificamente, quando o nível de anticorpos contra dengue duplicava, havia uma redução de 9% no risco de infecção por zika”, disse Danilo Fernandes Coêlho ao Diário de Pernambuco.
Para os pesquisadores, esses resultados abem portas para o desenvolvimento de uma vacina que proteja contra as duas infecções. Mas é claro: ainda serão necessários muitos estudos até chegar nessa fórmula.