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Quem foi Wu Lien-teh, pioneiro no uso de máscaras homenageado pelo Google

O médico malaio erradicou uma epidemia na China em 1910 com uma série de medidas inovadoras, como o uso de máscaras e quarentena. Hoje, é considerado o "pai da saúde pública" no país asiático.

Por Bruno Carbinatto
10 mar 2021, 17h09

Quem visitou o site do Google hoje se deparou com a ilustração de um simpático médico entregando máscaras de proteção para seus colegas. O doodle – figura principal da página de buscas que muda para comemorar datas especiais – celebra o aniversário do médico malaio Wu Lien-teh, epidemiologista precursor no uso de máscaras que ajudou a combater uma epidemia há mais de um século, e cujo legado é importante para o enfrentamento da Covid-19.

Nascido de pais chineses na Malásia em 10 de março de 1879, Lien-teh migrou aos 17 anos para a Inglaterra após receber uma bolsa de estudos da Universidade de Cambridge, onde se formou médico. Nos anos seguintes, complementou sua formação com mais estudos no Reino Unido e também na Europa, até retornar ao seu país natal. Em 1910, uma misteriosa epidemia começou a matar os habitantes do nordeste da China, incluindo a importante cidade de Harbin. A doença, que ficaria conhecida como Praga da Manchúria, ceifaria mais de 60 mil vidas nos quatro meses que a epidemia durou.

Logo após os primeiros casos, o governo chinês pediu a ajuda de especialistas para conter a tragédia – e Lien-teh, filho de chineses, foi um deles. Ao chegar no país, o médico realizou a primeira autópsia da história da China, em uma mulher japonesa que tinha morrido da praga. Com o exame, Lien-teh concluiu que a doença respiratória era causada por uma bactéria, a Yersinia pestis, responsável também pela peste bubônica.

Mas Lien-teh foi além: ele concluiu que a doença era transmitida de pessoa para pessoa, através de pequenas gotículas respiratórias espalhadas ao falar, tossir ou respirar. Era uma ideia inovadora e que contrariava o entendimento geral dos cientistas da época, que acreditavam que só era possível se infectar tendo contato direto com pulgas que eram transportadas por animais como ratos.

Suas ideias foram recebidas com ceticismo e minimizadas por outros especialistas. Um outro médico importante convidado pelo governo chinês para combater a epidemia era o francês Girard Mesny, que se opunha à tese de Lien-teh. Apesar da insistência de seu colega malaio em recomendar o uso de máscara e procedimentos de higiene ao tratar os pacientes doentes, o francês se recusava. Mesny morreu em janeiro de 1911, vítima da praga que tentava conter.

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A morte do proeminente médico francês ajudou a dar credibilidade às ideias de Lien-teh. O malaio então sugeriu suas medidas de contenção: a primeira, e mais importante, seria o uso de máscaras ao tratar pacientes infectados. Ele produziu uma máscara feita de algodão e gaze, com camadas extras de tecido e laços mais apertados, baseados em designs anteriores. Depois, começou uma campanha para que todos os profissionais de saúde usassem esses equipamentos  – criando assim a primeira estratégia de uso de máscaras para controlar uma epidemia.

O médico não parou por aí; estabeleceu centros de quarentena e tratamento para infectados, convenceu as autoridades a decretarem medidas de controle do movimentação das pessoas, estendeu o uso de máscaras para a população geral e até conseguiu fazer com que os corpos das vítimas fossem cremados para evitar infecções – uma prática funerária que não era comum e nem bem-vista na China da época.

Em março de 1911, a epidemia finalmente chegava ao fim, graças ao conjunto de medidas estabelecidas pelo médico. Ele logo chamou atenção da comunidade internacional pelo seu sucesso, e no mesmo ano liderou uma conferência com especialistas de todo o mundo para compartilhar sua experiência. Em pouco tempo, suas ideias se tornaram parte do mainstream da epidemiologia.

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Em 1935, ele foi o primeiro malaio – e a primeira pessoa de ascendência chinesa – indicado ao Prêmio Nobel de Medicina por seu trabalho no combate da epidemia respiratória. Hoje, é conhecido também como “pai da saúde pública da China”, já que continuou no país desenvolvendo os sistemas públicos de saúde e de vigilância epidemiológica.

Lien-teh faleceu em 1960, vítima de um derrame cerebral; seu legado é lembrado até hoje, e ganhou importância dobrada na pandemia de Covid-19, já que muitas das medidas usadas hoje para conter o espalhamento do vírus foram inauguradas por ele na Praga de Manchúria, especialmente o uso generalizado de máscaras. Seu design improvisado com algodão, gaze e tecido, inclusive, é considerado o precursor das máscaras N95/PFF2, o equipamento médico mais eficiente em filtrar pequenas partículas de saliva e proteger o usuário da contaminação. 

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