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Primeiro caso confirmado de reinfecção por covid-19 é registrado em Hong Kong

Entenda o que diferencia este dos outros possíveis casos de reinfecção que você já ouviu falar.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 24 ago 2020, 17h11 - Publicado em 24 ago 2020, 17h09

Todos os dias surgem novas pesquisas e notícias sobre o Sars-Cov-2, vírus causador da covid-19. Apesar disso, mesmo após cinco meses de pandemia e mais de 23 milhões de pessoas infectadas ao redor do mundo, diversas perguntas permanecem sem resposta. A possibilidade de reinfecção pelo novo coronavírus é uma delas. Afinal, com tantos casos confirmados, nenhuma dessas pessoas voltou a apresentar sinais da doença? 

Provavelmente você já escutou que sim, algumas pessoas parecem ter sido infectadas novamente pelo coronavírus. No início da pandemia, surgiram algumas notícias sobre possíveis reinfecções na China, mas nenhuma delas foi confirmada. Tratavam-se de falsos positivos ou continuidade da mesma infecção, e não uma infecção nova.

No início de agosto, pesquisadores da USP apontaram que uma enfermeira de 24 anos, moradora de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, havia contraído o vírus duas vezes dentro de um intervalo de 50 dias. Nas duas ocasiões, a paciente apresentou sintomas e recebeu positivo para os exames de RT-PCR, que identifica o Sars-Cov-2 no organismo através da coleta de materiais genéticos pelo nariz e garganta.

As chances da enfermeira ter desenvolvido a doença duas vezes são grandes, mas não é possível cravar que se trata de uma reinfecção apenas com os testes de laboratório. A “segunda infecção” pode ser, na verdade, uma reativação do vírus, que ainda estava no corpo da jovem, mas sem se multiplicar dentro das células. Além disso, pode ser que o teste tenha voltado a dar positivo devido a resquícios do RNA viral que se mantiveram no organismo após a primeira infecção. Muitos pacientes ao redor do mundo passaram pela mesma situação.

Nesta segunda-feira (24), no entanto, cientistas da Universidade de Hong Kong confirmaram uma reinfecção no país. O artigo foi aceito na revista Clinical Infectious Diseases, mas ainda não foi publicado. Para ter certeza sobre a segunda ocorrência da doença em uma mesma pessoa, os pesquisadores sequenciaram o genoma do vírus e compararam com dados pré-existentes da primeira infecção. O material genético do Sars-Cov-2 é formado por RNA, uma fita simples que contém a sequência de bases nitrogenadas que regulam suas atividades. Sequenciar o genoma do vírus é, basicamente, descobrir a ordem em que essas bases aparecem na fita a fim de descobrir informações sobre sua reprodução e replicação. 

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Ou seja, o paciente passou por uma situação única. Ele já havia feito o sequenciamento genético do vírus na primeira vez que contraiu a doença. E agora, 4 meses e 17 dias após a primeira infecção, o vírus foi novamente identificado no organismo e sequenciado.

O paciente reinfectado é um homem saudável de 33 anos. Ele testou positivo para a covid-19 pela primeira vez em 29 de março, data em que foi hospitalizado mesmo sem apresentar sintomas graves. O segundo diagnóstico foi feito em 15 de agosto, quando o homem voltava da Espanha para Hong Kong. Ele foi submetido a triagem no aeroporto e, após a confirmação da doença, foi novamente hospitalizado, mesmo estando assintomático. 

Comparando o sequenciamento do genoma feito em ambas as ocasiões, os pesquisadores perceberam que, na segunda vez, o vírus apresentava uma leve diferença nas informações genéticas daquelas registradas anteriormente. Esses detalhes são referentes à linhagem do Sars-cov-2. Da segunda vez, ele pegou a cepa que circulou na Europa entre julho e agosto deste ano. 

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Ainda restam algumas perguntas sobre a reinfecção. Apenas com um caso isolado, não é possível confirmar se a pessoa que teve a infecção pela segunda vez pode transmitir o vírus novamente. Também não dá para afirmar que a reinfecção sempre será mais fraca ou que o paciente ficará assintomático. De toda forma, Akiko Iwasaki, professora de imunobiologia da Universidade de Yale, que não participou do estudo, publicou em seu Twitter que, embora a imunidade do paciente de Hong Kong não fosse suficiente para evitar a reinfecção, ela pode ter protegido contra o desenvolvimento de sintomas da doença, desencadeando uma resposta imune.

A reinfecção do paciente pode representar um caso raro, mas a publicação do estudo não deixa de ser significativa para as pesquisas acerca da imunidade criada pelo vírus e para os esforços relacionados à vacina. Em entrevista coletiva organizada nesta segunda-feira, em Genebra, Maria Van Kerkhove, líder técnica da Organização Mundial de Saúde (OMS), disse que é possível que este seja o primeiro caso confirmado de reinfecção do mundo. Ela completou explicando que, até agora, é de conhecimento geral que os infectados desenvolvem algum tipo de imunidade contra o Sars-Cov-2, mas não se sabe o quão eficaz é esta proteção e por quanto tempo os anticorpos se mantêm ativos no organismo.

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