Por que o coronavírus está matando mais homens do que mulheres?
Há um padrão mundial em que o sexo masculino predomina nos dados de letalidade – mas o mecanismo por trás disso ainda permanece misterioso.
De acordo com o Ministério da Saúde, 58% dos mortos por Covid-19 no Brasil eram homens. Na China, entre dezembro e fevereiro, eles representavam 60% dos óbitos. Na Coréia do Sul, só 38% dos infectados eram do sexo masculino, mas apresentavam taxa de letalidade duas vezes maior do que para as mulheres. Espanha, Itália e Estados Unidos, países altamente afetados pela doença, também repetem esse padrão. E fica a questão: por que os homens estão morrendo mais?
Ainda não há resposta certa para a pergunta. Isso porque não foi feito nenhum estudo científico que comprove como o vírus age no organismo de pessoas de cada sexo. No entanto, há algumas hipóteses que podem nos ajudar a entender esse fenômeno.
Em primeiro lugar, é importante lembrar que estamos nos referindo ao sexo biológico, ou seja, aquele determinado pelos cromossomos X ou Y. Voltemos às aulas do ensino médio: o sexo feminino é definido pela junção de dois cromossomos X, um do pai e um da mãe. Enquanto isso, para obter o sexo masculino, recebe-se um cromossomo X (obrigatoriamente da mãe) e um Y (obrigatoriamente do pai).
Mas, qual é a relevância disso para o grau de infecção por Covid-19? Algumas pesquisas levantam suspeitas. No cromossomo X, há cerca de 900 genes relacionados ao sistema imunológico, três vezes mais do que existe no cromossomo Y. Além disso, a proteína que detecta vírus como o SARS-CoV-2 é codificada no cromossomo X. Como as mulheres têm dois desses, é possível que a resposta imune seja mais certeira.
Ainda pensando em aspectos biológicos, pode ser que haja influência hormonal nessa história. Os ovários produzem e liberam na primeira fase do ciclo menstrual um hormônio chamado estrogênio. Ele é responsável, por exemplo, pelo crescimento das mamas. Além disso, esse hormônio tem relação direta com algumas células imunes – digamos que ele as convoca para o combate.
Um estudo publicado no Journal of Immunology em 2017 analisou a influência do estrogênio em ratos, levando em consideração o surto de SARS em 2003, que também matou mais homens do que mulheres. Os ratos machos eram mais suscetíveis aos vírus do que as fêmeas, mas quando elas tinham o funcionamento de estrogênio bloqueado, adoeciam também em taxas mais altas.
Alguns fatores comportamentais também poderiam explicar o fenômeno. Dados de vários países mostram que homens sustentam mais o hábito de fumar do que as mulheres. Uma análise feita pela Vigitel em 2018 mostra que, no Brasil, 12% dos homens brasileiros são, em comparação a 7% das mulheres. Na Itália, 7 milhões de fumantes são homens, enquanto 4,5 milhões são mulheres. Não é de hoje que o cigarro é associado a problemas de pulmão, e sabemos que a Covid-19 ataca diretamente esse órgão. Logo, está feita a correlação.
Apesar dos dados apontarem uma prevalência de mortes em homens, é bom lembrar que muitos casos e mortes por Covid-19 não estão sendo reportadas, o que dificulta que a gente tenha uma dimensão completa da pandemia.
“O que é biologia versus o que são normas e comportamentos sociais vão além da nossa capacidade de entender o que exatamente está acontecendo”, disse a professora de Stanford Marcia Stefanick ao The Wall Street Journal. Pelo menos uma coisa é certa: ainda são necessários mais estudos para delimitar as influências sociais e biológicas relacionadas ao sexo.
Vale reforçar que, apesar das mulheres parecerem ter algumas vantagens, não significa que elas possuam maior imunidade para todas as doenças. A gripe causada pelo vírus influenza, por exemplo, parece ser mais letal para mulheres do que homens. Além disso, todas as pessoas, estando em grupos de risco ou não, podem pegar coronavírus e ter complicações. Por isso, é importante seguir as recomendações do Ministério da Saúde de ficar em casa, realizar a higienização das mãos com água e sabão e usar máscara caso precise sair à rua.