Paciente infectado há 5 anos pode ter iniciado epidemia atual de ebola
Novos estudos indicam que vírus "adormecido" em um humano pode explicar o surgimento de novos casos na Guiné em 2021.
Ao contrário do que cientistas imaginavam, o surto de ebola que atualmente atinge a Guiné, na África, provavelmente não teve origem animal. Em vez disso, o responsável por espalhar o vírus pode ser um paciente humano – infectado e curado da doença há pelo menos 5 anos, durante a primeira epidemia que atingiu o continente.
A conclusão aparece num trio de estudos científicos preliminares, divulgados no portal Virological.org. Neles, pesquisadores sequenciaram o genoma da variante de vírus que causou o surto atual de ebola na Guiné, e o compararam com a versão viral responsável pela primeira epidemia da doença.
O surto atual de ebola foi detectado no país africano em janeiro de 2021. Estima-se que ao menos 18 pessoas contraíram o vírus no país desde então – nove delas morreram. O Congo, nação vizinha, também já soma casos da doença, contabilizando mais quatro mortes.
Entre 2014 e 2016, o ebola devastou países no oeste do continente africano, infectado 28 mil pessoas e tirando a vida de mais de 11 mil. Pesquisas sugerem que o vírus tenha “pulado” de morcegos para humanos.
As semelhanças genéticas entres os dois tipos de vírus indicam, segundo os cientistas, que o patógeno causador da epidemia atual ficou “incubado” em um paciente humano – infectado entre 5 e 7 anos atrás.
Ou seja, em vez de o invasor acumular mutações e ser transmitido por um morcego (como na primeira epidemia), o surto atual teve origem na mesma cepa que parasita humanos desde 2014. O vírus teria ficado “incubado” em um paciente todo esse tempo, e se espalhado para novos hospedeiros pelo sêmen, via relação sexual.
Evidências recentes reunidas por outros estudos já haviam sugerido que o vírus do ebola pode permanecer no corpo de um paciente curado por anos. Esta pesquisa, publicada no periódico científico Nature, por exemplo, mostrou que proteínas do sistema imunológico responsáveis por identificar o vírus foram detectadas no corpo de pacientes mesmo meses após a recuperação.
Ainda que não se tenha evidências de que o vírus permaneça criando novas cópias de si mesmo após esse período, a descoberta mostra que é possível que ele continue ativo – e, de alguma forma, consiga driblar as defesas do organismo para atingir novos hospedeiros. Trata-se, no entanto, de uma forma rara de transmissão, que precisa ser comprovada por novos estudos. Como destaca o jornal The New York Times, o recorde atual de sobrevivência de um vírus em humanos é de 500 dias.
No início de março, 1.600 pessoas já haviam sido vacinadas contra o ebola na Guiné. A estratégia no país é priorizar a aplicação de vacinas em pacientes que tiveram contato com pessoas contaminadas. Até agora, conseguiu-se rastrear 500 casos do tipo – algo vital para o controle da epidemia.