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Ozonioterapia: como funciona – e quais são os seus riscos

Lei que autoriza a técnica (que não tem provas de eficácia) foi sancionada nesta segunda (7). Entenda.

Por Caio César Pereira
7 ago 2023, 19h27

Nesta segunda (7), presidente Lula sancionou uma lei (aprovada em julho pelo Congresso Nacional) que autoriza profissionais de saúde a usar ozonioterapia como uma forma de tratamento complementar.

A ozonioterapia é uma terapia com suposta ação anti-inflamatória e antisséptica. Ela usa o chamado “ozônio medicinal”, um mistura composta, em geral, por 5% de ozônio (gás capaz de matar bactérias) e 95% de oxigênio (que daria um boost na oxigenação dos glóbulos vermelhos e melhoraria a circulação sanguína).

O ozônio medicinal é aplicado de diversas formas (diretamente no local, de forma subcutânea, intravenosa, pela vagina…) para diversas finalidades: queima de gordura, hérnia de disco, osteoporose, Alzheimer, problemas cardíacos e até alguns tipos de câncer. Você deve se lembrar do caso de Volnei Morastoni (MDB), prefeito de Itajaí (SC), que, em 2020, recomendou tratar pacientes de Covid-19 com ozonioterapia por via retal.

Mas e aí: funciona? Ao que tudo indica, não – e ainda pode trazer riscos aos pacientes. Vamos entender essa história.

Gás (não tão) nobre

Os relatos mais antigos de tratamento com ozônio datam do  século 19. Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o gás chegou a ser usado para desinfectar lesões. Mas foi nos anos 1980 que a ozonioterapia ganhou a forma que conhecemos hoje e foi ganhando tração aos poucos – a lei sancionada nesta semana, vale dizer, é um texto alternativo da Câmara a um projeto de lei de 2017, do ex-senador Valdir Raupp (MDB-RO).

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Mas, apesar da sanção, estudos que comprovam a segurança e a eficácia desse tratamento são escassos e pouco confiáveis. São pesquisas que não utilizam grupos-controle ou placebos, trabalhos em fases iniciais (com análises em células isoladas ou animais) e artigos com “evidências anedóticas” – evidências baseadas somente no relato individual. 

Em 2022, uma nota técnica da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ressaltou que a ozonioterapia pode ser indicada em alguns casos na área de odontologia e estética (como no tratamento de cárie no dente ou no auxílio na limpeza de pele). Mas o órgão reforçou que “não foram não foram apresentados, a esta agência, estudos que comprovem segurança e eficácia do uso da ozonoterapia a partir de equipamentos emissores de ozônio, para fins de aplicação médica ou de indicações de uso diversas daquelas descritas anteriormente”.

Três anos antes, em 2019, o FDA (a Anvisa americana) alegou que “o ozônio é um gás tóxico sem nenhuma aplicação médica conhecida como terapia específica, adjuvante ou preventiva”. Para eles, a terapia não vale sequer para aplicações em feridas, já que, para se obter resultados efetivos na eliminação de bactérias, a quantidade de ozônio necessária seria tóxica demais para que humanos pudessem tolerar.

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Além de não ter nenhum tipo de comprovação, a utilização de ozonioterapia pode na verdade trazer riscos à saúde. A injeção de um gás na veia pode acarretar a obstrução dos vasos sanguíneos, causando uma trombose, por exemplo. 

Desde 2018, o Ministério da Saúde classifica a ozonioterapia como uma Prática Integrativa e Complementar (PIC), disponível no SUS. A nova lei permite que o tratamento complementar seja realizado por profissionais da saúde com ensino superior e que estejam em dia com os conselhos de fiscalização da sua área.

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