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Mulheres indígenas morrem 72% mais na gravidez e pós-parto, aponta pesquisa

Pesquisadores da UFSC e Unicamp analisaram mortes maternas registradas entre 2015 e 2021 na base de dados do SUS. A taxa está acima da meta da ONU para o Brasil.

Por Maria Clara Rossini
18 Maio 2024, 19h00

Mulheres indígenas têm maior incidência de morte na gravidez e puerpério em comparação a mulheres de outras etnias. Enquanto a taxa de morte materna de não-indígenas é 67 a cada 100 mil nascidos vivos, o número sobe para 115 entre mulheres indígenas – cerca de 72% mais.

As taxas estão bem acima da meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o Brasil: menos de 30 mortes maternas por 100 mil nascidos vivos até 2030.

Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Unicamp avaliaram 13.023 mortes maternas registradas no SUS entre 2015 e 2021. Dessas, 205 (1,6%) eram de mulheres indígenas. Considerando que apenas ​​0,83% da população brasileira é indígena, segundo o IBGE, o número alerta para a maior vulnerabilidade entre mulheres de etnia indígena durante e após a gestação. 

A pesquisa foi publicada na última quarta-feira (15) no periódico “International Journal of Gynecology and Obstetrics”. Os autores mostram que a taxa de mortalidade materna de povos tradicionais é mais elevada em todas as causas de morte. O principal motivo de falecimento entre as mulheres indígenas foi hemorragia. Já entre mulheres de outras etnias, é hipertensão. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde, hemorragia é uma das principais causas de morte em locais de baixa renda, como países da África. Por aqui, a maior parte das mortes entre mulheres indígenas ocorreu após o parto. Segundo José Paulo de Siqueira Guida, um dos autores do estudo, isso evidencia a negligência e falha do sistema de saúde no cuidado a essas mães, principalmente no puerpério.

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“Tanto a hemorragia quanto a hipertensão são potencialmente tratáveis e evitáveis com medidas de vigilância do sangramento após o parto, uso de medicações para controle de pressão arterial e identificação precoce e oferta de antibióticos nos casos de infecção”, disse o professor e pesquisador em comunicado.

Mais do que a perda de uma vida, a morte materna têm impactos profundos na família e na sociedade – especialmente em grupos indígenas. “Uma morte materna provoca desestruturação familiar, perda de confiança da comunidade no sistema de saúde”, diz Guida.

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