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Medicamento “primo” do Ozempic pode ser tratamento para Parkinson, sugere estudo 

A lixisenatida funciona de um jeito similar ao remédio para diabetes. Em testes iniciais, ela teve sucesso em retardar o avanço da doença neurológica.

Por Leo Caparroz
4 abr 2024, 19h10

A saga do Ozempic você já conhece: ele é um medicamento originalmente para diabetes tipo 2, mas, como tem a perda de apetite (e de peso) como efeito secundário, cada vez mais pessoas o usam como um aliado para emagrecimento rápido. Agora, um outro medicamento parecido com ele – a lixisenatida – demonstra mais um efeito promissor: desacelerar o avanço da doença de Parkinson.

Vamos por partes. O Ozempic nada mais é que uma dose de semaglutida, uma substância que simula os efeitos do GLP-1 – o um hormônio responsável por regular a produção de insulina, os níveis de glicose no sangue e a sensação de saciedade. Em condições normais, o GLP-1 tem uma ação bem curtinha no seu corpo – depois de fazer seu trabalho, ele é rapidamente destruído pelo seu corpo. A semaglutida, não – ela é uma molécula criada para sobreviver por mais tempo e pode passar semanas no corpo.

A ação prolongada da semaglutida faz com que o Ozempic aumente a produção de insulina e diminua a concentração de açúcar no sangue – é assim que ele trata a diabete.

Aí entra o efeito secundário: a semaglutida também diminui o apetite, o que leva ao emagrecimento. A Nova Nordisk, fabricante do Ozempic, já vende um novo produto, o Wegovy, que também tem a semaglutida como princípio ativo – a diferença é que ele tem doses mais altas, e é especialmente indicado para combater obesidade e sobrepeso.

Agora, um outro parente do Ozempic, também mímico do GLP-1, teve certo sucesso em tratar um novo problema – que não é nem obesidade nem diabetes. É o medicamento chamado lixisenatida. Um grupo de pesquisadores administrou doses dessa substância para pacientes com Parkinson em estágio inicial. Ao longo de um ano, esses indivíduos não tiveram piora nos sintomas da doença. O estudo foi publicado no periódico New England Journal of Medicine.

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A doença de Parkinson é uma condição degenerativa do cérebro que afeta principalmente o movimento. Os sintomas são consequência de danos às células nervosas do cérebro, o que diminui os níveis de dopamina. Geralmente, o mal de Parkinson começa com um tremor na mão, e pode evoluir para lentidão de movimentos, rigidez e perda de equilíbrio. 

Alguns medicamentos que aumentam o nível de dopamina podem ajudar a controlar os sintomas. Contudo, a doença progride inevitavelmente. 

A nova pesquisa deu certa esperança aos pesquisadores. Por ser um estudo de fase 2, preliminar, ele ainda não é uma conclusão certeira e definitiva – ele foi projetado para testar uma hipótese, e não foi grande ou longo o suficiente para trazer uma resposta definitiva. Mesmo assim, ajuda a avançar o conhecimento sobre a doença.

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O estudo envolveu 156 pessoas com doença de Parkinson em estágio inicial. Elas foram divididas, aleatoriamente, em dois grupos: um tomou a lixisenatida e o outro um placebo. Os cientistas passaram um ano acompanhando os pacientes.

Adlyxin (Lixisenatide)
A Lyxumia, remédio feita pela empresa Sanofi, é tem a lixisenatida como princípio ativo. Ela também age como um substituto do GLP-1, igual o Ozempic. (MIMS/Reprodução)

Durante esse período, os sintomas de Parkinson como tremor, rigidez, lentidão e equilíbrio pioraram naqueles que tomaram o placebo, mas não naqueles que tomaram o medicamento.

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Depois, os pacientes passaram dois meses fora de qualquer tratamento. Passado esse tempo, os dois grupos tiveram uma piora nos sintomas, mas a diferença entre eles permaneceu. Ou seja: a lixisenatida não escondeu os sintomas – ela realmente parece ter atrasado a progressão da doença

No estudo, os pesquisadores focaram nos sintomas motores porque alterações de outros tipos (como humor, cognição e dor) são mais difíceis de serem detectadas nos estágios iniciais da doença.

O medicamento também causou efeitos colaterais gastrointestinais, como náuseas e vômitos, em mais da metade dos participantes. Eles não são novidade para as drogas da classe dos GLP-1; mesmo assim, o fato dos pesquisadores terem começado com uma dose mais alta pode ter piorado o quadro. No caso do Ozempic e do Wegovy, o normal é aumentar a dose gradualmente. Num terço dos participantes do novo estudo, esses efeitos se tornaram intoleráveis – e aí os pesquisadores reduziram a dose para metade.

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Pesquisas anteriores já mostraram que pessoas com diabetes tipo 2 correm maior risco de desenvolver a doença de Parkinson. Esse risco diminui naqueles que tomam um medicamento GLP-1 para tratar o diabetes. Por causa dessa relação, os pesquisadores consideraram a hipótese prudente e resolveram testar o uso do GLP-1 especificamente para a doença.

Estudos com o tecido cerebral de cadáveres que tiveram Parkinson encontraram anormalidades relacionadas à resistência à insulina – mesmo que os pacientes não tivessem diabetes. Os medicamentos GLP-1 também tratam a resistência à insulina, ou seja, mais um ponto em prol da testagem da droga.

Os pesquisadores afirmam que querem prosseguir com o estudo e torná-lo maior e mais longo. Para isso, eles vão precisar não só de financiamento, mas também de mais medicamentos. A Sanofi, empresa responsável pela lixisenatida na União Europeia, começou a retirá-lo em todo o mundo. Segundo ela, a mudança foi tomada por motivos comerciais.

“Estamos satisfeitos em ver os resultados positivos deste estudo”, afirma a Sanofi. “Estamos abertos a uma discussão com os investigadores do estudo sobre como fornecer apoio para a próxima fase da pesquisa.”

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