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Medicamento contra HIV adaptado para crianças ficará 10 vezes mais barato

Novo acordo vai fornecer versão de antirretroviral solúvel para países de baixa renda – a começar pelo continente africano – já em 2021.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 1 dez 2020, 19h59 - Publicado em 1 dez 2020, 19h53

A Unitaid, organização internacional de combate a doenças em países de baixa renda, anunciou a disponibilização de uma nova versão de um importante remédio contra a Aids. A medicação tem um sabor agradável de morango – uma adaptação para facilitar o tratamento de crianças e bebês. Ela estará disponível a partir de 2021 em países de baixa renda a um preço cerca de dez vezes menor do que o atual. O anúncio foi feito no Dia Mundial de Luta contra a Aids, estabelecido em primeiro de dezembro.

A novidade será possível após um acordo global entre organizações de saúde global e empresas farmacêuticas privadas para facilitar o acesso a medicamentos contra a Aids em países em desenvolvimento. Com isso, o preço do medicamento cairá de quase US$ 400 por ano por criança para apenas US$ 36. O tratamento completo, que conta com a administração de outras substâncias, ficará por consequência mais barato: vai de US$ 480 anuais para menos de US0 por criança – uma redução de 75%.

O medicamento em questão é o antirretroviral dolutegravir (DTG), muito usado no combate a infecções por HIV em adultos. A nova formulação será adaptada para crianças pequenas e bebês: terá um sabor de morango e poderá ser dissolvida em água ou outras bebidas, facilitando sua ingestão. Essas novidades não são meros detalhes – os medicamentos atuais se baseiam, em geral, em pílulas amargas e grandes, difíceis de engolir, características que podem dificultar o tratamento de crianças e bebês, especialmente em locais com estruturas de saúde precárias e países mais pobres.

Cerca de 1,7 milhão de crianças em todo o mundo são soropositivas, mas apenas metade delas recebe algum tipo de tratamento. Estima-se que quase cem mil morrem todos os anos de complicações relacionadas à Aids. Além disso, 160 mil novas crianças são infectadas pelo vírus todos os anos através de suas mães, seja no nascimento ou durante a amamentação.

A enorme maioria dos casos acontece em países de baixa e média renda na África, onde as mulheres correspondem a 60% das novas infecções anuais. Sem um tratamento adequado, metade desses bebês morrem antes de atingir dois anos de idade; 80% falece antes dos cinco anos, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

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O dolutegravir (DTG) foi patenteado em 2013 nos Estados Unidos pela farmacêutica privada ViiV Healthcare Limited e é vendido sob a marca Tivicay. Em 2018, o remédio foi recomendado pela Organização Mundial da Saúde como o tratamento de primeira linha indicado para crianças com idade acima de quatro semanas e mais de 3 kg. No entanto,  até agora, apenas crianças com 20 kg foram capazes de acessar o medicamento. Isso acontece devido à falta de formulações solúveis e adequadas a crianças mais novas.

O novo acordo contou com a participação e mediação da ONG Clinton Health Access Initiative e da  Unitaid, instituições de saúde global com base em Genebra (Suíça), além da Organização Mundial da Saúde (OMS). Com isso, a patente pôde ser licenciada para produtores de genéricos interessados em vender o produto em mercados grandes, porém pouco lucrativos – ou seja, países pobres. Após as negociações, a farmacêutica indiana Macleods e a americana Mylan (parte da empresa Vitrais) foram autorizadas a produzir uma versão pediátrica genérica e de baixo custo do medicamento, que será vendido em países de baixa e média renda mais afetados.

O produto será disponibilizado inicialmente em Benin, Quênia, Malawi, Nigéria, Uganda e Zimbábue no primeiro semestre de 2021, mas há planos para uma rápida expansão da disponibilização da fórmula em vários outros países no futuro, segundo anunciou a Unitaid.

“Agora, podemos finalmente garantir que países tenham acesso rápido às formulações apropriadas e necessárias para a implementação total das diretrizes da OMS; para que nenhuma criança seja deixada para trás”, disse, em comunicado, Meg Doherty, coordenadora do Departamento de HIV/AIDS da OMS. “A Organização Mundial da Saúde comemora a aprovação e comercialização da nova versão pediátrica do DTG.”

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