O mito provoca controvérsias. “Isso é mais empírico do que científico”, diz o cardiologista Heno Ferreira Lopes. “Não conheço estudos comparativos que comprovem esse efeito.” A crença se deve à presença de triptofano no leite. Esse aminoácido, não fabricado pelo corpo, modula a produção de serotonina, neurotransmissor que dá sensação de bem-estar. E a serotonina, por sua vez, é usada na produção de melatonina, o hormônio do sono. O triptofano está presente no leite, mas também em carnes (peito de peru, sobretudo), ovo, amendoim, grão-de-bico e feijões.
A questão é que o triptofano, sozinho, não faz milagres. Segundo estudos do centro de pesquisa American Board of Sleep Medicine, nos EUA, o aminoácido atuaria apenas na primeira fase do sono, aquela em que você começa a ficar sonolento. Para atravessar a barreira da corrente sanguínea e chegar ao tronco cerebral, que controla o ciclo sono/vigília, ele compete com outros aminoácidos. Mais fracote, digamos assim, o triptofano perde a parada para seus congêneres, como a tirosina, que é um estimulante cerebral e está presente em alimentos proteicos como a carne vermelha. Resumo da ópera: para ajudar o triptofano a cumprir seu papel, é melhor que o leite morno seja acompanhado de algum carboidrato, como pão integral com mel. Isso estimula a liberação de insulina, que ajuda a limpar do sangue os aminoácidos rivais.
Para que o leite morno cumpra esse papel, precisa ser acopanhado por algum carboidrato, como pão integral com mel.