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Incêndios nos EUA podem ter intensificado casos de Covid-19, sugere estudo

Na fumaça de incêndios são liberados os chamados materiais particulados. Eles são prejudiciais à saúde e seus efeitos no organismo podem tornar o corpo mais suscetível a infecções por vírus.

Por Carolina Fioratti
17 ago 2021, 15h56

Em 2020, os estados no oeste dos Estados Unidos enfrentaram uma temporada recorde de incêndios florestais. Só na Califórnia, foram mais de quatro milhões de acres queimados, o que liberou 112 milhões de toneladas de gases de efeito estufa. Além dos poluentes, durante os incêndios também são liberados na fumaça os chamados materiais particulados, que são pedacinhos minúsculos de fuligem extremamente prejudiciais para a saúde. 

Pesquisadores da Universidade Harvard, nos EUA, encontraram uma relação entre o material particulado PM2.5 – que recebe o nome por ter 2,5 micrômetros de diâmetro – e os casos de Covid-19 no oeste americano. O estudo, publicado na revista científica Science Advances, sugere que a fumaça dos incêndios está ligada a 19 mil casos de Covid-19 e 700 mortes relatadas na região. 

Não é que a fumaça dos incêndios esteja carregando o vírus. A história é outra: o PM2.5 causa inflamação das células que revestem as vias aéreas e os pulmões. Esse processo não causa apenas irritação no nariz, boca e pulmão, como também pode levar a uma intensificação da asma e de doenças cardíacas, além de tornar as pessoas mais suscetíveis a infecções por vírus. Como se não bastasse, o material particulado também desvia a atenção do sistema imunológico. As defesas do corpo humano focam em combater o PM2.5 e acabam deixando o organismo mais vulnerável ao desenvolvimento de infecções. 

Os dados analisados pelos pesquisadores foram obtidos entre março e dezembro de 2020. Eles são referentes aos incêndios nos estados de Washington, Oregon e Califórnia. Ao todo, foram avaliados 92 condados, o que constitui 95% da população da região apontada. Para constatar (ou não) o aumento de casos de Covid-19, os cientistas levaram em consideração no estudo apenas os exames que deram positivo para o Sars-CoV-2 até 28 dias depois da exposição à fumaça do incêndio. Fatores como clima, tamanho da população e padrões de distanciamento social foram considerados. 

Ao final, os pesquisadores notaram um aumento na incidência de Covid-19 em 52 dos condados analisados. Em média, eles enfrentaram um crescimento de 11% de casos e 8% de mortes relacionadas à fumaça dos incêndios. Mas os valores variaram bastante: em alguns condados de Washington e da Califórnia, o aumento de casos relacionados ao material particulado chegou a 20%.

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Não dá para afirmar que todos os casos “extras” têm relação com os incêndios. Fatores como disposição das pessoas para usar máscara, reuniões de família com um indivíduo infectado e condições de saúde pré-existentes, por exemplo, não foram considerados. Mesmo assim, os cientistas defendem o vínculo entre os picos de poluição do ar e o aumento das taxas de casos de Covid-19. Além disso, os pesquisadores consideraram apenas condados que enfrentaram incêndios, excluindo outras localidades que podem ter sido atingidas pela fumaça, capaz de viajar centenas de quilômetros.

Outro estudo publicado na revista Nature em julho deste ano fortalece a associação entre o material particulado e os casos de Covid-19. Pesquisadores do Desert Research Institute, em Nevada, relataram um aumento de 18% das infecções na cidade de Reno após a exposição de moradores à fumaça de incêndio. 

Ainda não se sabe como a temporada de incêndios de 2021 afetará o aumento da pandemia, já que agora têm-se a variante Delta, considerada mais contagiosa, em circulação. Os cientistas recomendam o uso de máscaras que protejam tanto o contato com o vírus quanto a entrada de material particulado, mas reforçam que o mais importante para evitar a Covid-19 é a vacinação completa.

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