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Implante “desperta” homem em estado vegetativo há 15 anos

Após um mês de estímulos no nervo vago, o paciente mostrou sinais de consciência: arregalou os olhos, prestou atenção em histórias e moveu a cabeça

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 26 set 2017, 11h33 - Publicado em 25 set 2017, 16h20
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  •  (BlackJack3D/gemenacom/iStock)

    Um homem que estava há 15 anos em estado vegetativo moveu a cabeça e arregalou os olhos após receber estímulos elétricos no nervo vago, um dos principais responsáveis por conectar o cérebro ao resto do corpo.

    Em uma cirurgia de 20 minutos, um pequeno aparelho elétrico foi implantado no pescoço do paciente, que perdeu a consciência após sofrer ferimentos graves na cabeça em um acidente de carro em 2002. Após um mês recebendo pequenos choques na região, ele recobrou traços superficiais de consciência: se mantém alerta enquanto uma história é lida em voz alta, e arregala os olhos quando alguém se aproxima de seu rosto. Ele também é capaz de mover a cabeça a pedido dos médicos – embora demore cerca de um minuto para completar a tarefa. A melhora visível no quadro clínico foi acompanhada de um aumento equivalente na atividade do sistema nervoso, nas áreas responsáveis pela consciência.

    “Potencializar o envio de informações pelo nervo vago ao cérebro ajuda a restaurar a consciência mesmo após muitos anos em estado vegetativo, desafiando, assim, a crença de que a perda de consciência é irreversível após 12 meses”, afirma o artigo científico, publicado na Current Biology. “A conexão direta entre o núcleo onde se origina o nervo vago e o tálamo [região do cérebro responsável por regular o sono, a consciência e o estado de vigília] pode estar na origem do aumento significativo da atividade no nível do córtex.”

    O córtex é a camada mais externa do cérebro – onde ficam os sulcos que dão ao órgão sua aparência característica. Lá residem linguagem, emoção, memória e outras funções complexas. O tálamo, por sua vez, faz a conexão entre o córtex e regiões evolutivamente mais primitivas do cérebro. Uma de suas funções é colher os sinais brutos dos órgãos sensoriais (como olhos e ouvidos) e enviá-los às áreas em que eles serão processados e transformados nas cores e sons que conhecemos.

    O sucesso do implante muda tudo nas discussões sobre eutanásia não-voluntária ativa – quando o médico, à pedido da família, põe fim à vida de um paciente que não pode ser consultado sobre a decisão.

    Se o método anunciado no artigo de hoje for capaz de devolver níveis superficiais de consciência a pacientes que estão há muitos anos em estado vegetativo, talvez passe a ser possível consultá-los sobre a decisão de encerrar a própria vida – situação em que a eutanásia já é autorizada em pelo menos seis países, entre eles nossa vizinha Colômbia e o Canadá.

    Críticos do implante anunciado hoje lembram que talvez seja cruel despertar pacientes e torná-los conscientes de sua situação penosa se não for possível levar a recuperação ao próximo nível e trazê-los de volta a um estado de consciência plena. “Eu não posso responder a essa pergunta”, afirmou ao The Guardian Angele Sirigu, pesquisadora do Instituto de Ciências Cognitivas Marc Jeannerod, em Lyon, na França, e participante do estudo. “Pessoalmente, eu acho que é melhor saber, mesmo se o estado é grave. Assim você pode decidir se quer viver ou ser submetido a uma eutanásia.”

    Outros especialistas são mais otimistas, e afirmam que, após o uso de estímulos elétricos para superar o isolamento e estabelecer alguma forma de comunicação com o paciente, talvez seja possível, com a aplicação simultânea de outras terapias, fazê-lo voltar a falar. O consenso, porém, é que é preciso encarar o avanço com ceticismo saudável. Ao New York Times, o pesquisador James Bernat, da Faculdade Dartmouth, afirmou que a pesquisa é “provocativa, mas não definitiva”, e que ainda são precisos estudos para avaliar que tipo de paciente o método pode ajudar.

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