Ideia 31: E se acabasse a cartolagem no futebol brasileiro?
O contribuinte não teria que arcar com o prejuízo de times que não param de se endividar com o Estado
Jonas Oliveira
Em tempos de clamor popular por uma reforma política no Brasil, por que não pensar em uma transformação parecida no futebol brasileiro? Os clubes seriam obrigados a pagar suas dívidas trabalhistas e tributárias, que somadas já chegam a 3,7 bilhões de reais, e proibidos de fazer contratações milionárias enquanto não colocassem suas contas em dia. Salários e impostos teriam que ser pagos em dia, e os dirigentes judicialmente responsabilizados por suas decisões. A gestão do futebol passaria a ser profissional e sem privilégios, como em qualquer empresa.
Para isso acontecer, seria necessário despolitizar o futebol. A começar pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que desde 1989 é comandada pelo mesmo grupo, sem nenhuma oposição relevante. Quem está no poder da entidade é favorecido pelo sistema de eleições: têm direito a voto as 27 federações estaduais e apenas os 20 clubes da série A do Brasileiro. Ou seja: mesmo que os clubes se juntem para uma mudança, o peso maior ainda é das federações. “O ideal seria que o presidente da CBF fosse eleito pelos participantes de todos os campeonatos nacionais”, defende o jornalista Juca Kfouri.
O segundo passo seria que a entidade deixasse de cuidar do campeonato brasileiro. Como acontece na Inglaterra e Alemanha, a CBF cuidaria apenas da seleção nacional. Ficaria a cargo dos clubes criar uma liga que organizasse os campeonatos nacionais. Mas para o especialista em gestão e marketing do esporte Fernando Ferreira, da Pluri Consultoria, essa medida por si só não seria suficiente. “Porque os clubes também repetem o modelo político das federações”, diz.
Então seria preciso ser duro na marcação. As dívidas seriam negociadas, ainda que em longas prestações, e pagas em dia. Não pagou, penhora. Além disso, prestariam contas para garantir que a despesa não seja maior que o faturamento, em cada temporada. Em caso de falta, cartão vermelho para o dirigente e para o clube, punido na esfera esportiva – com rebaixamento, por exemplo. “Se você tiver esse tipo de pressão, o dirigente vai pensar 30 vezes antes de tomar as decisões que tomam na euforia ou na pressão da torcida”, diz Ferreira. E assim os clubes deixariam de ser um brinquedo na mão de cartolas que no final deixam a conta do prejuízo com a arquibancada brasileira.
Realidômetro – 1
Não existe articulação entre os clubes. E se o governo endurece contra os clubes, briga com eleitores, TVs e empresas.
Flamengo – 629,8
Botafogo – 525,7
Atlético-MG – 409,7
Fluminense – 400
Vasco – 382,6
Corinthians – 240,4
São Paulo – 238,7
Grêmio – 175,8
Santos – 172,5
Palmeiras – 155
Internacional – 153,1
Cruzeiro – 109,3
Coritiba – 98,6
Atlético-PR – 31
Fontes Juca Kfouri, jornalista esportivo, e Fernando Ferreira, especialista em gestão e marketing do esporte da Pluri Consultoria.