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Descoberta nova mutação genética associada à doença de Stephen Hawking

A maior pesquisa já feita no mundo sobre esclerose lateral amiotrófica confirma uma associação genética, e abre espaço para novos focos de tratamento

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
26 mar 2018, 15h29

O maior estudo da história sobre a esclerose lateral amiotrófica conseguiu descobrir como mutações no gene KIF5A estão conectadas a sintomas da doença. A pesquisa, que contou com a colaboração de dezenas de países, foi publicada poucos dias depois da morte do cosmólogo Stephen Hawking, o portador mais famoso da doença, que viveu com ELA por 56 anos.

O gene KIF5A (a sigla complicada quer dizer “membro 5A da família das cinesinas”) já tinha sido associado a outras duas doenças degenerativas com sintomas similares, como enfraquecimento, enrijecimento e perda do controle dos músculos.

A nova análise sequenciou o DNA de mais de 125 mil pessoas para comprovar a importância do KIF5A no desenvolvimento da doença.

Tudo tem a ver com o funcionamento do sistema nervoso e uma parte das células nervosas chamada axônio. Os axônios são uma espécie de cauda do neurônio, conectando-o ao tecido muscular ou a outros neurônios, e transmitindo mensagens na forma de impulsos elétricos.

Outra forma de comunicação entre neurônios e o resto do corpo é a transmissão de proteínas entre células. E aí entra o KIF5A: em sua forma normal, ele produz uma proteína que é transportada via axônio de uma célula para outra.

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Quando esse gene sofre mutações, ele perturba a “rodovia” de transporte como um todo, impedindo o envio e o recebimento de proteínas essenciais para o funcionamento correto do cérebro e da medula espinhal. E no meio desse caos logístico, o cérebro vai perdendo o controle dos músculos, levando aos sintomas característicos da ELA.

Mas é importante destacar que os próprios autores do estudo admitem que essa mutação provavelmente atinge uma minoria das pessoas com ELA.

“Como assim?”, você deve estar pensando. Para quê, então, fazer um estudo desse tamanho e descobrir um gene que só afeta um tantinho de gente em uma doença que já é rara?

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A resposta dessa pergunta tem duas partes. Primeiro, tudo indica que várias mutações genéticas podem estar implicadas quando se fala de esclerose lateral amiotrófica. Uma porção de outros genes como o KIF5A já foram descobertos, alguns deles inclusive graças ao famoso Ice Bucket Challenge.

Ou seja: várias alterações genéticas diferentes podem culminar numa mesma doença. E é por isso, em primeiro lugar, que o KIF5A é importante. Quando olhamos para o efeito que versões mutantes dele trazem para o sistema nervoso, entendemos melhor o mecanismo da ELA.

E quando comparamos as consequências dessa mutação com as outras já conhecidas, conseguimos entender o que elas têm em comum – e descobrir um alvo que possa ser atingido com medicação, o que leva a tratar todas essas variáveis genéticas de uma vez só.

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Essa é, então, a segunda parte da resposta. A mutação KIF5A dá força a uma suspeita antiga dos cientistas: que são anormalidades no citoesqueleto dos axônios que estão por trás da ELA, seja qual for a variação genética responsável por esses defeitos.

Isso torna o citoesqueleto um possível alvo para novas terapias que possam intervir e, no mínimo, reduzir o impacto da doença, que costuma matar de 2 a 5 anos depois do diagnóstico. “Tratamentos que possam potencialmente estabilizar ou consertar o citoesqueleto nos dão um alvo para o desenvolvimento de novas drogas capazes de tratar ELA [nas suas diferentes formas]”, concluem os autores da pesquisa, publicada no periódico Neuron.

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