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Covid-19: plasma de pacientes curados ajudou a tratar casos críticos

Dois estudos chineses mostraram resultados promissores da técnica no combate à pandemia. Mas ainda são necessárias novas pesquisas.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 8 abr 2020, 17h22 - Publicado em 7 abr 2020, 18h15

Uma nova arma está se mostrando eficiente na luta contra a pandemia de Covid-19: o sangue de pacientes curados. Médicos chineses reportaram recentemente que pacientes em estado grave tiveram bons resultados após receberem infusões do plasma sanguíneo contendo anticorpos contra o vírus. Esse plasma veio de pessoas que passaram com sucesso pelo tratamento.

Funciona assim: se uma pessoa pega Covid-19 e se recupera da doença naturalmente, isso significa que seu sistema imunológico aprendeu a neutralizar o vírus – e criou anticorpos específicos para ele. Transferir o plasma sanguíneo (a parte líquida do sangue onde ficam os anticorpos, excluindo a maior parte das células) dessas pessoas para pacientes doentes pode oferecer uma linha de batalha imediata contra o invasor. A ideia aqui é que não seja uma cura definitiva, mas algo que alivie os sintomas e ganhe tempo para o corpo do próprio paciente lutar contra a infecção e criar seus próprios anticorpos.

Essa estratégia é conhecida como “terapia passiva de anticorpos”, porque fornece os anticorpos prontos para o paciente. É diferente de uma abordagem ativa, como no caso das vacinas, em que o corpo da pessoa é induzido a produzir os anticorpos por conta própria.

A técnica não é novidade – sabe-se há mais de um século que anticorpos de outras pessoas podem ajudar a combater patógenos, e inclusive já foi utilizada no contexto de outras doenças, como gripe espanhola e a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) – causada por um vírus da mesma família do causador da Covid-19. Mas ela nem sempre dá certo. E isso acontece por uma série de motivos, entre eles o fato de que nem sempre apenas a quantidade injetada de anticorpos dá conta de combater a infecção. Por isso, ela sempre tem que ser testada para novas doenças e não é uma carta na manga garantida. No contexto da ebola, por exemplo, a terapia passiva de anticorpos não foi muito eficiente.

No caso da Covid-19, várias equipes em todo o mundo já começaram testes com a técnica para saber se é efetiva, incluindo no Brasil. Como reportamos na SUPER, os Estados Unidos aprovaram o tratamento de forma emergencial para pacientes em estado crítico, assim como Reino Unido e outros países vêm fazendo. Mas os resultados dessas experiências, até agora, além de escassos, têm sido insuficientes para cravar a efetividade da terapia.

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Recentemente, duas equipes separadas de médicos chineses publicaram recentemente estudos preliminares que mostram resultados positivos da técnica. Na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, pesquisadores da cidade de Wuhan descrevem como o tratamento usando plasma sanguíneo de pacientes curados ajudou 10 pacientes em estado crítico a melhorarem em apenas três dias, sendo que a carga viral caiu rapidamente e os sintomas se amenizaram. 

Outra equipe de médicos da cidade chinesa de Shenzhen demonstrou resultados semelhantes com cinco pacientes críticos, dos quais três conseguiram respirar sem aparelhos após 10 dias do início do tratamento. Os detalhes desse segundo estudo foram publicados na revista Journal of the American Medical Association.

Os resultados são bastante animadores, mas ainda não são definitivos, como os próprios cientistas destacam. Isso por que ainda são necessários mais testes, com amostragens maiores e controladas por placebo para poder afirmar que a transfusão é um tratamento realmente viável. No caso dos estudos publicados, a prioridade era salvar a vida dos pacientes críticos, então outras abordagens foram utilizadas ao mesmo tempo da terapia de anticorpos. Então não dá para saber se ela foi de fato a única responsável pela melhora. Espera-se que os resultados de outros estudos saiam nas próximas semanas em diversos países, dando mais detalhes sobre a eficácia e segurança dessa técnica.

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