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Cientistas criam tratamento baseado em vírus para combater superbactérias

A nova técnica vem na tentativa de resolver o crescente problema da resistência a antibióticos.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 5 fev 2020, 16h18 - Publicado em 5 fev 2020, 16h11

Um grupo de cientistas do Laboratório Nacional de Física do Reino Unido desenvolveu um novo método que se mostrou eficaz no combate às chamadas superbactérias. Os cientistas criaram um mecanismo inspirado nos vírus que danifica diretamente as células bacterianas sem causar efeitos colaterais.

A resistência a antibióticos é uma das grandes ameaças à saúde pública mundial. O aumento de uso de remédios antimicrobianos tanto em pessoas como em animais vem selecionando e aumentando o número de bactérias resistentes, capazes de causar infecções difíceis de curar. Estimativas apontam que, até 2050, 10 milhões de pessoas em todo o mundo morrerão vítimas de bactérias resistentes a antibióticos. Combater esse problema é difícil porque criar novos antibióticos é cada vez mais inviável – é preciso pensar em mecanismos diferentes.

O novo método desenvolvido pelos pesquisadores se baseia nos vírus – que são, basicamente, moléculas de DNA ou RNA envoltas por uma cápsula de proteína, o chamado capsídeo. Como não têm metabolismo próprio, os vírus precisam parasitar células para se reproduzir. Isso inclui células de humanos, animais ou mesmo de bactérias. A equipe desenvolveu uma estrutura sintética baseada no formato geométrico dos vírus e as usou como arma para matar bactérias. O método foi descrito em artigo publicado na revista ACS Nano.

“Os vírus são objetos geométricos. São como caixinhas sólidas, construídas a partir de pequenos blocos colados com precisão microscópica”, explica Max Ryadnov, um dos cientistas envolvidos no estudo. “Pegamos essa forma, retiramos as proteínas virais e ficamos com o modelo.”

Esse modelo foi usado para produzir capsídeos de proteína que, posteriormente, foram eletricamente carregados com carga positiva. Isso porque as células do nosso corpo são eletricamente neutras, enquanto bactérias têm carga negativa. Assim, o novo mecanismo é atraído pelas bactérias e quase não interage com nossas células.

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As “caixinhas” de proteína se ligam às bactérias-alvo com alta precisão, perfurando suas membranas e causando danos fatais no interior das células. Os resultados foram positivos tanto em testes in vitro em laboratório quanto em testes feitos em larvas. 

As bactérias se tornam resistentes a antibióticos porque esses remédios são feitos para atacar alvos específicos – a parede celular das bactérias, por exemplo. Por isso, basta uma mutação nos genes bacterianos para que as substâncias se tornem ineficazes. Para se tornarem resistentes ao novo método, as bactérias teriam que “remodelar quase toda a sua arquitetura genética”, disse Ryadnov ao jornal The Times.

Como a estrutura só empresta a cápsula proteica dos vírus, e não seu conteúdo, em tese ela é inofensiva à saúde de quem receber o tratamento. Além disso, os pesquisadores editaram as cápsulas para que elas fossem quase invisíveis ao nosso sistema imunológico, evitando que ele destruísse o tratamento por engano.

Apesar de promissora, a técnica ainda está em estágios muito iniciais e precisará passar por muitos outros testes para provar sua eficácia, incluindo em mamíferos e possivelmente em humanos.

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