Revista em casa por apenas R$ 9,90/mês
Imagem Blog

Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
Continua após publicidade

Horário de verão: era para ter voltado

Ele reduziria o consumo de energia em 4,7% no Sudeste e no Centro-Oeste. Mas o governo decidiu mantê-lo extinto, mesmo sob a crise hídrica. Por quê?

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 23 nov 2021, 12h00 - Publicado em 18 nov 2021, 19h35

A diferença de fuso horário entre Pequim e Xinjiang, no oeste chinês, deveria ser a mesma que existe entre Londres e Brasília: três horas. Mas não é. Em 1949, Mao Tsé-Tung decretou que toda a China deveria seguir o horário de Pequim. Para quem mora em Xinjiang, então, o sol nasce às 9h da manhã. No verão, só se põe às 23h. Não há justificativa. O ditador colocou seu país sob um único relógio por prazer totalitário – e ninguém até hoje teve coragem de reverter a decisão.

Kim Jong-un cometeu algo parecido. Em 2015, mandou atrasar os relógios da Coreia do Norte em meia hora – só para que o país tivesse um horário diferente da Coreia do Sul. A medida, insana, durou até 2018. Em 2019, foi o Brasil que experimentou um reajuste temporal. Bolsonaro acabou com o horário de verão, que vigorava desde 1985. “Eu sempre, como parlamentar, quis botar um fim no horário de verão”, diria o presidente dois anos depois, em uma entrevista à Rádio ABC, de Novo Hamburgo (RS). Quando obteve poderes para tal, o fez.

Coincidência ou não, o último governante a mandar o sol se pôr mais cedo foi Costa e Silva, em outubro de 1968, dois meses antes de outro decreto, o AI-5. O ditador militar não deu satisfações. Bolsonaro, que precisava dar alguma, disse que a economia de energia era pequena demais para justificar a mudança de rotina. E que tal mudança acarreta problemas de saúde. É verdade. Embora não haja um consenso na medicina, alguns especialistas defendem que o início do horário de verão altera o ciclo circadiano, e isso traz riscos de fato.

Um estudo da Universidade de Turku, na Finlândia, concluiu que o número de derrames cerebrais cresce em 8% nos dois primeiros dias de horário novo (e que depois disso não há mais diferença). Por essas, o Parlamento Europeu votou em 2019 por extinguir o horário de verão no continente a partir de 2021 – mas aí veio a pandemia, e engavetaram a medida por tempo indeterminado.

E sobre a economia de energia? Aí a história é outra. Em setembro, em meio à crise hídrica, o governo pediu um estudo ao ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) sobre se valeria a pena trazer o horário de volta, para diminuir o risco de apagão. O ONS respondeu dizendo que haveria, sim, uma redução no consumo, de 4,7% no Sudeste/Centro-Oeste. Seria uma economia bem-vinda dada a situação atual. Mas o governo ignorou.

Continua após a publicidade

Governar (e viver) é colocar riscos na balança. Evitar um apagão é um bem maior do que a preservação do ciclo circadiano. Os riscos à saúde deixam de existir em dois dias. O alívio no sistema elétrico perduraria por quatro meses. A volta do horário de verão, ainda que temporária, teria sido a decisão lógica. Manter sua extinção, ao que tudo indica, foi uma escolha calcada na vaidade.

Mao Tsé-Tung ficaria orgulhoso.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Oferta dia dos Pais

Receba a Revista impressa em casa todo mês pelo mesmo valor da assinatura digital. E ainda tenha acesso digital completo aos sites e apps de todas as marcas Abril.

OFERTA
DIA DOS PAIS

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.