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Teoria da Conspiração: Os quadros das crianças que choram

Maldição ou lenda urbana? Conheça a história real dos quadros que aterrorizam o Brasil desde os anos 80

Por Victor Bianchin
Atualizado em 28 mar 2023, 15h00 - Publicado em 22 fev 2016, 18h24

Quadros amaldiçoados

ILUSTRAS Ed Anderson

Maldição ou lenda urbana? Conheça a história real dos quadros que aterrorizam o Brasil desde os anos 80

1. Em julho de 1985, o tabloide britânico The Sun publicou uma matéria sobre um incêndio numa casa no norte da Inglaterra. O único objeto a sobreviver ao fogo foi a pintura de uma criança chorando, assinado por um pintor chamado Giovanni Bragolin. Um bombeiro declarou haver vários outros incêndios nos quais apenas o quadro da criança triste sobrava

2. Nos meses seguintes, o jornal noticiou relatos de dezenas de leitores que possuíam as obras. Elas eram parte de uma série muito popular no país, vendida em lojas ao longo dos anos 1970 e 1980. Um policial relatou ao periódico ter registrado cerca de 50 incêndios relacionados às figuras desde 1973

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3. Por serem baratos, elas estavam em todo lugar: o The Sun estimou que havia cerca de 50 mil nos lares ingleses. Leitores desesperados começaram a enviar suas cópias das obras para o jornal, que organizou uma grande fogueira para acabar com a “maldição” e publicou uma matéria a respeito no dia de Halloween

4. Nos anos 90, a história virou lenda urbana no Brasil, onde os quadros também foram comercializados nos anos 1980. Aqui, a história contada era que Bragolin, um pintor fracassado, fez um pacto com o diabo para obter sucesso. Ele teria então sonhado com crianças que eram torturadas e sacrificadas, as quais teria pintado em sua série

5. Bragolin teria escondido mensagens subliminares nos quadros indicando que as crianças estavam mortas, como uma mão envolvendo o pescoço de uma menina e uma criatura engolindo outra. No começo dos anos 1980, ele teria se arrependido e aparecido no programa Fantástico, da TV Globo, implorando para que todos que tivessem uma cópia dos quadros a destruíssem

Quadros amaldiçoados

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6. Em 2000, um livro retomou a história. O “pesquisador” George Mallory afirmava que Bragolin era espanhol e seu nome real era Franchot Seville. Um dos retratados seria um garoto de rua que Seville achou em Madri em 1969. Após pintá-lo, Seville teria descoberto que seu nome era Don Bonillo e que tinha ficado órfão quando os pais morreram num incêndio

7. Don Bonillo nunca falava. Ele era conhecido como “Diablo”, porque, por onde passava, incêndios inexplicáveis começavam. Seville teria adotado o garoto. Certo dia, o estúdio do pintor pegou fogo e o artista acusou o órfão, que fugiu em lágrimas. Só se ouviria falar dele de novo em 1976, quando Bonillo, aos 19 anos, teria morrido num acidente de carro

EXPLICANDO A VERDADE

Não há indícios de maldição

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– Os quadros eram produzidos em larga escala e tinham mais de um autor. Obras da escocesa Anna Zinkeisen, que tinha uma série de retratos de crianças chorando intitulada Childhood, também estavam no meio da polêmica começada pelo The Sun

– Bruno Amadio, o tal pintor maldito por trás de “Giovanni Bragolin”, era italiano, e não espanhol, e nunca usou o pseudônimo Franchot Seville. Ele criou a série para ganhar dinheiro, mas também pintava paisagens e natureza-morta

– Os modelos para os 27 ou 28 quadros produzidos por Amadio foram crianças de Veneza achadas em escolas e parques

– Não há qualquer evidência de que Amadio, que morreu em 1981, tenha dado uma entrevista ao Fantástico na década de 1980

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– Nos anos 1980, o The Sun enfrentava uma rivalidade acirrada com o Daily Mirror, e o editor Kelvin MacKenzie alimentou e esticou a história devido a seu aspecto sensacionalista. A maioria dos incêndios ligados aos quadros tinha explicação lógica

– Acredita-se que os quadros não queimavam porque eram impressos em compensado de alta densidade, que demora a pegar fogo

FONTES ArtigosThe Curse of the Crying Boy, de David Clarke, e Curse That Painting!, de Massimo Polidoro, livro Incursión a lo Desconocido, de Antonio Berlanga Gómez

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