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Retrato Falado: Os leões assassinos de Tsavo

Essa dupla matou cerca de 140 operários numa obra na África. Eram tão imbatíveis que foram considerados espíritos em busca de vingança

Por Marcelo Testoni
Atualizado em 8 mar 2024, 10h27 - Publicado em 15 set 2015, 14h49

ILUSTRAMurilo Araujo

1. Em março de 1898, dois leões machos começaram a sondar os trabalhadores de uma ponte que estava sendo construída sobre o Rio Tsavo, no Quênia, pelo Império Britânico. Quem primeiro os flagrou foi o tenente-coronel irlandês John Henry Patterson, que tinha acabado de chegar à região para supervisionar a obra

2. Patterson descreveu os bichos no livro Os Devoradores de Homens deTsavo, de 1907. Eram imensos: mediam 3 m de comprimento, do focinho à ponta da cauda. E não tinham juba. (Segundo cientistas afirmaram depois, a calvície podia ser indício de excesso de testosterona, o que também explicaria a alta agressividade)

3. Na primeira semana, eles emboscaram alguns trabalhadores que foram à mata buscar lenha. Cerca de um mês depois, já estavam confiantes para invadir as tendas e cabanas dos operários na calada da noite. Abocanhavam as vítimas e as arrastavam para a savana. No meio do ano já não temiam ninguém e devoravam os homens, ainda vivos, no próprio acampamento

4. O auge do terror se instalou quando um dos animais rastejou por baixo de uma tenda hospitalar e massacrou dezenas que dormiam. Para evitar um novo ataque, Patterson realocou a enfermaria no centro do acampamento e a cercou com espinhos, fogueiras e postos de atiradores. Não adiantou: na madrugada seguinte, os leões trucidaram um enfermeiro

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5. Segundo registros da época, em nove meses os leões teriam assassinado cerca de 140 pessoas. E nem era para comer: só 35 foram devoradas. No início de dezembro, os sobreviventes, traumatizados, paralisaram a obra com uma greve. Muitos foram embora. Com sua reputação e vida em jogo, Patterson decidiu que era hora de a “caça” virar “caçador”

6. Um pequeno grupo liderado por Patterson partiu à procura das feras. Mas os bichos pareciam ter uma esperteza sobrenatural, driblando cada avanço e realizando ofensivas estratégicas. Nativos passaram a acreditar que eram espíritos de dois chefes curandeiros que voltaram para se vingar. Eram chamados de “shaitaini”, ou Sombra e Escuridão

7. Sem os trabalhadores por perto, os felinos tomaram o local da obra. Para atraí-los para fora do acampamento, Patterson espalhou o sangue de três cabras mortas ao pé de uma plataforma camuflada com folhas, onde se escondeu. Do alto e em vigília, o caçador localizou um dos alvos e disparou seis vezes. Um tiro pegou no coração: game over para um dos leões

8. O outro havia escapado, mas estava cauteloso. Repetindo a estratégia, Patterson ficou de guarda no alto da arapuca. Na manhã de 29 de dezembro, a fera voltou. Sem o apoio tático do parceiro, acabou levando uma bala e fugiu pelo matagal. Acuado, tentou um último bote, mas um tiro no peito e outro na cabeça o mataram

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9. Ao longo do século 20, várias teorias tentaram explicar essa história. Para peritos da Universidade Roosevelt, de Chicago, Sombra e Escuridão podem ter optado por caçar gente após a peste bovina exterminar suas presas tradicionais. Cadáveres abandonados pelo tráfico negreiro podem ter introduzido-os ao sabor da carne humana

QUE FIM LEVOU?

Patterson vendeu a pele e o crânio dos leões ao Museu Field, de Chicago, por US$ 5 mil. Desde 1924, os restos originais integram uma exposição permanente

FONTES Sites VEJA, NATIONAL GEOGRAPHIC, Chicago Tribune, O Globo e Smithsonian, e artigo “Os Leões Comedores de Homens de Tsavo”, do Museu Field de História Natural

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