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Por que o Irã não se chama mais Pérsia?

Porque "Irã" sempre foi o nome do país na língua persa. Ele deriva, curiosamente, da palavra "ariano". Entenda a história do país.

Por Roberto Navarro
Atualizado em 22 fev 2024, 11h24 - Publicado em 18 abr 2011, 18h34

Os persas sempre estiveram lá: descendem de tribos que ocuparam a Ásia Central há cerca de 3 mil anos – e foram a semente de um império. Em sua maior expansão, seu território estendeu-se por uma área hoje ocupada por nações como Usbequistão, Turcomenistão, Afeganistão, Turquia, Paquistão, Iraque e Irã. As guerras entre persas e gregos são narradas por Heródoto na obra Histórias, que depois daria origem à HQ (e ao filme) 300.

Os iranianos de hoje são descendente dessa linhagem, mas se dividem em vários grupos com muitas diferenças entre si. O país se chamou Pérsia até o século passado – o nome Irã, que na língua parse significa “terra dos arianos” (uma referência à etnia de seus ancestrais), só foi adotado oficialmente em 1935. Ou seja: o país sempre se chamou Irã. Eram os europeus que chamavam de Pérsia.

(Para os iranianos, diga-se, existe sim uma região chamada Pérsia. Mas ela corresponde a uma província do atual território, Fars, e não à extensão completa).

“Mas arianos não eram os nórdicos e germânicos que Hitler considerava puros?” Não. Essa foi um dos muitos deslizes de interpretação do ditador ao implantar sua doutrina. Por muito tempo pensou-se que “ariano” fosse sinônimo de “indo-europeu” – o tronco étnico e linguístico que deu origem às línguas europeias modernas e também ao sânscrito na Índia.

A ideia de Hitler, portanto, era traçar a origem da pureza aos descendentes dos indo-europeus – classificando negros, orientais etc. como inferiores. Hoje sabemos que os povos indo-europeus originais, antepassados da população europeia e de várias populações da Ásia, não usavam a palavra “ariano” para designar a si próprios. O uso do termo foi restrito aos atuais territórios do Irã e da Índia.

Ao longo de três milênios, o povo persa trilhou uma trajetória de conflitos com quase todos os seus vizinhos. Atualmente, a briga mais explosiva não é com a galera da região, mas com a “civilização ocidental” e com os Estados Unidos em particular. A raiz da briga é, em grande medida, cultural.

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Durante boa parte do século 20, os governantes do Irã tentaram modernizar o país apoiados na economia de mercado capitalista. Setores mais religiosos não viam esse processo com bons olhos: em 1979, o aiatolá Khomeini liderou um golpe que depôs o presidente e transformou o Irã em uma república islâmica, com leis conservadoras baseadas no islamismo. Desde então, os americanos e o estilo de vida capitalista têm sido o inimigo preferencial, tanto nos discursos quanto nas ações.

A Pérsia chegou a ter 5 milhões de km². O herdeiro Irã manteve um terço disso. Acompanhe a saga dos três milênios de conquistas e derrotas dos persas:

1. A história do povo persa começa por volta do ano 1 000 a.C., quando um povo nômade chamado parse migra da Ásia Central para uma região no sul do atual Irã – hoje conhecida como Fars e considerada o berço da Pérsia.

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2. No século 6 a.C., o território persa cresce significativamente. Em 559 a.C., o rei Ciro II unifica dois reinos locais em torno do reino persa. Conquistador, Ciro II expande seu domínio pela Ásia Menor, Ásia Central e parte da África.

3. O Império Persa atinge sua máxima extensão territorial durante o governo do rei Dario I (c. 549 a.C. – c. 485 a.C.). Ele avança em direção ao Paquistão e depois à Europa, mas é barrado pelos gregos e não consegue penetrar no continente.

4. No século 4 a.C., a Pérsia cai sob o domínio do império de Alexandre, o Grande. Sua vitória mais marcante contra os persas aconteceu em 339 a.C., quando suas tropas derrotaram o exército do rei Dario III e tomaram o poder na região.

5. Após a morte de Alexandre, em 323 a.C., a Pérsia é dividida entre seus generais. O fracionamento dura quase 600 anos, até 224, quando a família real dos sassânidas consegue dominar toda a região da Pérsia, partes da Ásia e do Oriente Médio.

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6. Os sassânidas são considerados os últimos governantes do “grande império persa”. A partir do século 7, seu território começa a diminuir. A primeira derrota rola no ano 627, quando tropas do Império Bizantino conquistam terras no atual Iraque.

7. A dinastia sassânida cai de vez com a invasão islâmica pelos povos árabes do território da Pérsia. A maior parte do território é conquistada pelos árabes entre os anos de 643 e 650, deixando profundas marcas nos costumes religiosos.

8. A conquista árabe altera a vida da Pérsia, influenciando a cultura, a sociedade e a economia. Por quase 400 anos, o ambiente torna-se altamente turbulento. Até que, no século 11, uma dinastia turca invade o Império Persa e o controla entre 1037 e 1219.

9. O Império Persa continua sujeito a invasões de todos os lados, que vão pouco a pouco abocanhando o imenso território alçancado na Antiguidade. Do século 12 em diante, a maior ameaça eram os grupos vindos da Mongólia e do Azerbaijão.

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10. A perda territorial começa a ser contida no ano 1736, quando o conquistador Nadir Shah assume o poder. Para garantir um mínimo de integridade territorial ao país, Shah “arruma a casa” protegendo as fronteiras próximas e se retirando de áreas remotas.

11. Nos séculos 18 e 19, a Pérsia volta a perder terras – desta vez no norte do país, em guerras com a Rússia. No início do século 20, o país cai sob a influência da Grã-Bretanha e tem o norte de seu território ocupado pelos britânicos, em 1919.

12. Com um golpe de Estado, o xá Reza Pahlevi derrota a ocupação britânica em 1925. Em 1935, ele muda o nome do país para Irã, mas acaba deposto em 1941: EUA e Grã-Bretanha o forçam a abdicar, temendo que ele se alie aos nazistas.

13. Quem assume o poder é o filho do xá, Mohammad. Com um governo modernizador e ocidentalizante, ele desperta a ira dos setores mais conservadores e é deposto em 1979, em um golpe religioso liderado pelo aiatolá Khomeini.

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14. A última grande disputa territorial do Irã aconteceu em 1980, quando o Iraque de Saddam Hussein invadiu o país. O saldo foi uma sangrenta guerra de nove anos, 1,5 milhão de mortos – e nenhuma mudança nas fronteiras dos dois países…

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