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Quem foram os Panteras Negras?

Movimento surgiu em 1966 nos EUA como resposta à violência policial contra os negros e logo ganhou prestígio nacional... até ser sabotado pelo FBI

Por Leandro Saioneti
Atualizado em 22 fev 2024, 10h06 - Publicado em 26 mar 2018, 18h29
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(Alex Shibao/Mundo Estranho)

1. Nos EUA da década de 1960, a dinâmica entre negros e brancos passou por mudanças profundas. O presidente Lyndon B. Johnson aprovou a lei dos Direitos Civis em 1964, tornando ilegais práticas segregacionistas que existiam há décadas. Mesmo com isso e com vários movimentos civis lutando pelos direitos dos negros, muitas ações e atitudes racistas ainda eram comuns

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(Alex Shibao/Mundo Estranho)

2. Nesse contexto combativo, os ativistas Huey Newton e Bobby Seale fundaram o Partido dos Panteras Negras para Autodefesa na cidade californiana de Oakland em 15 de outubro de 1966. Eles se conheceram em ações estudantis por igualdade racial na Faculdade Comunitária de Merritt. A pantera foi escolhida como símbolo porque só ataca quando acuada – o felino já era usado como símbolo por militantes do Alabama, que pretendiam promover candidatos negros fora do núcleo republicano/democrata. Inicialmente, o grupo tinha a ideia de combater problemas racistas específicos de Oakland, como a brutalidade policial

3. Entre as ideologias do partido estava o nacionalismo negro, com o objetivo de construir uma identidade nacional negra. Mas eles não queriam proteger só a própria etnia: amparados no marxismo como forma de libertação, os Panteras buscavam defender outros grupos oprimidos pelo capitalismo (por exemplo, a classe trabalhadora). No programa de dez pontos do grupo, uma das exigências era o “fim do roubo capitalista sobre as comunidades negras”

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4. Embora chamado de “partido”, o grupo foi uma organização não política, que optava por ações diretas em vez de atuar no parlamento. O primeiro movimento de proteção contra a investida policial de Oakland foi a criação de patrulhas que fiscalizavam a ação dos agentes nas comunidades negras. Geralmente usando roupas pretas, boinas e óculos de sol, os integrantes faziam as rondas armados, amparados pela Constituição e por leis da própria Califórnia

5. Nos anos seguintes, não apenas as patrulhas armadas como também os protestos organizados resultaram em confrontos diretos com a polícia de várias cidades dos EUA – 15 policiais e 34 Panteras morreram entre 1966 e 1970. Mesmo assim, o partido ganhou prestígio entre a comunidade negra e os movimentos de esquerda, abrindo escritórios em 68 cidades (como Nova York, São Francisco e Chicago) e afiliando cerca de 2 mil membros até 1969

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(Alex Shibao/Mundo Estranho)
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6. No meio dos problemas com o Estado, o grupo também foi conhecido por suas ações de caráter social. Entre os principais programas, os membros preparavam o café da manhã para crianças de baixa renda antes do horário escolar e também restauravam estruturas locais, como escolas e centros médicos. Essas ações ajudaram a popularizar o movimento

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(Alex Shibao/Mundo Estranho)

7. O FBI, polícia federal dos EUA, conhecido por atuar contra movimentos que representassem uma ameaça ao Estado, agiu com severidade contra os Panteras. Sob a direção de J. Edgar Hoover, a agência usou o programa clandestino Cointelpro para neutralizar o grupo de diferentes formas. Os métodos incluíam a infiltração de agentes para sabotar o grupo e criar conflitos internos, a disseminação de mentiras à imprensa e a prisão ou o assassinato de líderes em batidas policiais forjadas. Ainda no início da década de 1970, os Panteras já haviam perdido muitos afiliados, influência e força no país

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(Alex Shibao/Mundo Estranho)

8. A mudança de cenário fez com que o movimento abandonasse as táticas de confronto e se voltasse à política convencional. Em 1972, as poucas filiais remanescentes se deslocaram a Oakland a fim de ajudar na candidatura de Bobby Seale para a prefeitura. Mas ele perdeu e, com a derrota, o partido se viu frente a uma série de expulsões lideradas por Huey Newton, que passou a comandar o grupo sozinho após a saída de Seale em 1974

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(Alex Shibao/Mundo Estranho)
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9. Ao longo da década de 1970, o partido continuou a perder membros, enquanto focava sua energia em atividades mais discretas em prol das comunidades negras. Mas, com apenas 27 membros em 1980, os Panteras se mantiveram ativos por mais dois anos, quando a última base do movimento, em Oakland, foi fechada após ser revelado que Newton desviava recursos do grupo para financiar sua relação com as drogas

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(Alex Shibao/Mundo Estranho)

10. Huey Newton morreu em 1989, mas Bobby Seale ainda é ativista político, compartilhando sua experiência como cofundador dos Panteras. Embora controverso, o partido Panteras Negras se mostrou um dos movimentos mais icônicos nas lutas pelos direitos civis no século passado. Hoje, alguns ex-membros continuam a busca por igualdade, por exemplo, candidatando-se a cargos como os de conselheiros municipais. Além disso, vários outros grupos adotaram a Pantera como nome para iniciarem suas próprias lutas, como os Panteras Dalit (casta indiana) e os Panteras Rosas (LGBTQ)

CONSULTORIA Lindener Pareto, professor de história contemporânea da PUC-Campinas, e Flavio Thales Francisco, professor de ciências humanas da UFABC / FONTES Livro Black Against Empire: The History and Politics of the Black Panther Party, de Joshua Bloom e Waldo E. Martin; documentário Os Panteras Negras: Vanguarda da Revolução; sites Huffington Post, Britannica, SUPERINTERESSANTE e GUIA DO ESTUDANTE

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