Na batalha pelo título do Campeonato Paulista de 2003, em março último, ninguém brilhou tanto quanto aquele atacante franzino de 25 anos, que parecia sumir na camisa 17 do Corinthians. Protagonista de um conto de fadas como só o futebol brasileiro produz, Liedson da Silva Muniz foi o nome da final: abriu o placar e deu passes certeiros para os dois gols do meia Jorge Wagner que decretaram a vitória do Corinthians por 3 a 2, garantindo o 25º título estadual do clube. “Foi fenomenal sentir pela primeira vez o gosto de ser campeão”, afirma o artilheiro, que há menos de quatro anos trabalhava num supermercado de Valença, no litoral da Bahia. “Minha família levava uma vida bem humilde. Quando tinha para comer, a gente comia, quando não tinha, dava-se um jeito”. O “jeito”, no caso, foi conseguir emprego num supermercado. “Comecei como empacotador de compras e, já no final de 1995, fui escolhido o melhor funcionário. Virei repositor de produtos e meu salário subiu de 100 para 150 reais.
Não arriscava a largar o emprego para tentar a sorte no futebol.” Mas em 1999, num campeonato amador da região, Liedson foi o artilheiro e despertou a atenção de equipes profissionais.
No mesmo ano, após um corte de pessoal, ficou desempregado e aceitou um convite para disputar o campeonato baiano. Tinha 21 anos quando se tornou jogador de verdade, exceção num meio em que garotos com menos de 18 anos já migram para o exterior. De cara, virou artilheiro do Poções. Depois disso, passou de operário-padrão a centroavante campeão em quatro pulos por diferentes times do país: Prudentópolis (PR), Coritiba, Flamengo e Corinthians.
A ascensão meteórica teve percalços. No Rio de Janeiro, sofreu com o atraso de salários, mas seus 14 gols ajudaram o Flamengo a não cair para a segunda divisão no Brasileiro de 2002. Neste ano, o atacante aportou no Corinthians, onde seu futebol ganhou a torcida. Discreto, Liedson revela que não prosperou apenas em campo: “O salário também melhorou um pouco desde a época do supermercado.” Nada mais justo.