Quanta informação o cérebro pode armazenar?
Divisão de tarefas na nossa cabeça agiliza a memorização
Os especialistas afirmam que não há uma resposta exata para essa pergunta. “É impossível comparar o cérebro do homem a uma máquina, porque a quantidade de informações que guardamos não pode ser quantificada. Quem falar em números estará mentindo”, diz o neurologista Ivan Izquierdo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ao longo da evolução, o cérebro humano aumentou de tamanho e aprimorou suas funções, mas a capacidade de armazenar e recordar fatos é um enigma não totalmente desvendado pela ciência.
E esse mistério vem de longe. No século 4 a.C., o filósofo grego Platão comparava a memória a uma lâmina riscada, que mantinha a impressão até ser apagada pelo desgaste do tempo, e Aristóteles pensava que era o coração quem controlava as lembranças. Hoje, sabe-se que o cérebro é quem retém as informações e as divide em dois tipos principais de memória.
A primeira, de curto prazo, armazena apenas de seis a sete itens – como nomes ou números de telefones – por pouquíssimo tempo, às vezes, por segundos. A segunda, de longo prazo, mantém assuntos de destaque ou dados que precisamos lembrar sempre. “Recordamos com mais facilidade algo que associamos a um contexto ou que tenha importância emocional”, diz o psicólogo Orlando Bueno, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Na memória de longo prazo, as lembranças que podem ser descritas por palavras – como o pedido de um chefe ou o endereço da namorada – ficam guardadas na memória explícita. Outra parte, a implícita, é responsável por tarefas automáticas como ler, escrever ou passar as marchas do carro sem pensar antes. A memória parece uma habilidade infalível, mas o fato é que quando lembramos de algo nunca reconstruímos a cena com fidelidade.
“O cérebro guarda apenas fragmentos do que aconteceu e, na hora de montar o quebra-cabeça das lembranças, contam as emoções e a maneira como a pessoa percebeu o fato ocorrido. Quem tem memória é o computador. O que nós temos é uma vaga lembrança”, afirma o neurofisiologista Luiz Eugênio Mello, também da Unifesp.
Depósito de lembranças
1. Dentro do cérebro humano, a primeira estrutura a receber novas informações é o tálamo. Ele atua como um filtro da atenção: se você estiver conversando com alguém em um ambiente barulhento, o tálamo bloqueia os ruídos que não interessam para que sua atenção se mantenha apenas nas informações da conversa
2. Por meio de impulsos nervosos, a informação recebida é transmitida à região onde ela será processada, o córtex, que é uma espécie de casca do cérebro, com partes específicas para identificar estímulos de todos os sentidos. Se a pessoa com quem você está conversando aponta para um gato estranho, por exemplo, a área do córtex responsável pela visão é que vai informar que se trata de um bichano de cor verde, digamos. Depois de reconhecer o estímulo, o córtex envia a informação para o hipocampo
3. O hipocampo é o manda chuva da memória, que seleciona o que vai ser armazenado. Se for novidade, ele guarda. Se não, joga fora e descarta a informação. O que ele julgar que deva ser armazenado é enviado de volta para o córtex. Lá, cada pedaço da informação filtrada fica guardada em uma região aleatória. Se você acaba de disputar uma partida de basquete com alguns amigos, o horário em que foi o jogo vai para um lugar, as pessoas com quem você estava para outro e o local onde tudo ocorreu para uma terceira área
4. Enquanto o hipocampo trabalha, outra estrutura, a amígdala, dá o brilho emocional às nformações, ajudando a destacar o que é mais marcante para nós. Se você estacionar o carro na rua e tomar uma multa, a amígdala dará mais valor a essa cena e a informação de que você não pode parar ali ficará bem viva na sua memória. Já aquela fórmula de raiz quadrada dos tempos de escola também fica guardada, mas, se você já se formou, ela fica meio “empoeirada” e é difícil de ser lembrada porque você não precisa mais dela no dia-a-dia
5. Tanto as informações com brilho emocional e sempre à mão, como as empoeiradas e mais escondidas, ficam armazenadas no córtex. Para recordá-las, outra região-chave do cérebro entra em cena, o lobo frontal. Toda vez que é preciso lembrar algo, os impulsos nervosos do lobo frontal transmitem perguntas ao hipocampo: Qual era a letra daquela música? Com quem você a ouviu? Tudo, enfim, que ajude a recriar o quebra-cabeças do fato ocorrido
6. Como o hipocampo guardou tudo, só ele sabe onde estão os fragmentos que compõem a cena completa. É ele quem cruza as informações, reconstruindo a cena, como, por exemplo, a música que você estava ouvindo quando conheceu alguém especial. Mas pode não ser uma reconstituição fiel, pois o estado emocional e a percepção de cada um influi no modo como armazenamos e como lembramos das coisas
Para não esquecer
Três dicas que ajudam a refrescar a memória
Relacione o que você quer lembrar com a imagem de um lugar. Você pode imaginar, por exemplo, que seu cérebro é uma casa. Guarde o número de telefone de alguém dentro da cozinha, ou uma data especial em um dos dormitórios. Parece estranho, mas ajuda
Agrupe as informações importantes em uma seqüência temporal, algo que tenha começo, meio e fim. O cérebro gosta de estruturas que mantenham o ritmo e que possuam algumas repetições, como as poesias. Não é à toa que estudantes decoram fórmulas matemáticas com mais facilidade por meio de músicas
Não sobrecarregue e nunca confie demais na sua memória. Você pode até se desapontar com essa dica, mas ela é a mais importante de todas! Para lembrar dos fatos e dos compromissos essenciais, use sempre uma agenda e não se esqueça de consultá-la quando precisar