O CO², um dos principais responsáveis pelo efeito estufa, não precisa ser liberado na atmosfera. Uma opção é enterrá-lo com a tecnologia conhecida como Captura e Estocagem de Carbono (CCS, abreviatura em inglês). Por meio de dutos e bombas, o gás que seria lançado por usinas é enviado para depósitos geológicos muitos quilômetros abaixo da superfície. Os EUA apostam nessa inovação, ainda em desenvolvimento, para diminuir as emissões de suas termoelétricas. No Brasil, a intenção é aplicá-la nas usinas de etanol, de onde o CO² já sai puro, sem resíduos, o que barateia o processo. Já há um centro de pesquisa, parceria entre a Petrobras e a PUC-RS, para sondar possíveis locais de estocagem.
EXÍLIO NAS PROFUNDEZAS
Gás viaja quilômetros e precisa atingir “ponto crítico” antes de ser enterrado
1. Durante a fabricação do etanol, a cana, já moída e transformada em caldo, é misturada a um fermento e colocada em grandes tanques chamados de dornas, onde repousa por até 12 horas. Durante esse repouso, a mistura libera CO² puro, que hoje é jogado no ar.
2. Com um sistema CCS instalado, o CO² seria enviado por dutos que percorreriam várias cidades até chegar a uma central. O uso de tubulações subterrâneas é comum: o Brasil já possui uma malha com mais de 5 mil km, principalmente no Sul e no Sudeste, utilizados para transportar combustíveis.
3. Na central, câmaras elevariam simultaneamente a temperatura e a pressão do CO². Esse processo o converteria ao estado supercrítico, um “meio-termo” entre líquido e gás, com densidade elevada (como nos líquidos), mas viscosidade baixa (como nos gases). É nessa configuração mais estável que o gás pode ser estocado.
Veja um vídeo da transformação de CO² gasoso para supercrítico em abr.io/supercritico
4. Já convertido, o CO² seria bombeado para bolsões subterrâneos, que ficam entre 1 e 3 km abaixo da superfície. Há três opções de bolsões. A primeira são as reservas de carvão mineral que não possam ser mineradas. O gás adere ao carvão e libera metano, que poderia ser capturado e usado em usinas termelétricas.
5. A segunda são os campos de petróleo ativos. Neles, a pressão da chegada do CO² ajuda a expulsar o restante do combustível ali reservado, que vai para a superfície por outra tubulação. E a terceira são os aquíferos salinos, bolsões com água em salmoura e rocha porosa (sem nenhuma relação com os lençóis de água doce).
6. Nem todo mundo aprova o CCS. Nos EUA, o Greenpeace diz que ele aumentaria o consumo de energia nas usinas. Além disso, a entidade cita o risco de vazamento do gás nos depósitos (que os cientistas negam) e alega que a iniciativa é apenas um paliativo: o correto seria investir em fontes de energia renováveis.
7. Como nossa produção de etanol já tem emissão de carbono neutra, em teoria o Brasil poderia vender o CO² “economizado” como créditos de carbono (um tipo de “moeda ecológica”, regulada pela ONU). A previsão é armazenarmos 1 milhão de toneladas de CO² em dez anos, o que, considerando o câmbio atual dos créditos, nos renderia entre US$ 15 e US$ 40 milhões.
Nos EUA, a intenção é armazenar a substância em campos de gás natural ou petróleo já vazios. No Brasil, o local ainda não foi definido. Em 2014, o Canadá deve inauguar o maior sistema de CCS do mundo, na usina de Boundary Dam.
O primeiro projeto de CCS foi implantado em Sleipner, na Noruega, em 1996. Ele já enterrou mais de 10 milhões de toneladas de CO².
FONTES: João Marcelo Ketzer, coordenador do Centro de Excelência em Pesquisa em Armazenamento de CO², IPCC Special Report on Carbon Dioxide Capture and Storage, doPainel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, False Hope: Why Carbon Capture and Storage Won’t Save the Climate, de Emily Rochon, Gargalos Logísticos na Distribuição de Combustíveis Brasileira, de Renata Figueiredo, e site do Instituto Carbono Brasil.