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Qual é a origem do Carnaval?

"Desde os tempos mais primórdios" o Carnaval tá aí. Na Roma Antiga, tinha até bloquinho e carro alegórico.

Por Cíntia Cristina da Silva e Alexandre Versignassi
Atualizado em 9 fev 2024, 16h02 - Publicado em 18 abr 2011, 18h51

A coisa mais parecida com o carnaval de hoje de que se tem notícia são as Saturnálias, festas épicas que aconteciam na Roma antiga em exaltação a Saturno, deus da agricultura. A diferença é que essas festas aconteciam em dezembro. A semelhança é que elas duravam quase uma semana, as escolas fechavam, os escravos tiravam folga e os romanos dançavam pelas ruas – bloquinhos, basicamente. E sim: orgias e bebedeiras descomunais faziam parte do cardápio de diversões.

E tinha até carro alegórico. Eles levavam homens e mulheres nus e eram chamados de carrus navalis (“carro naval”), pois tinham formato de navio. Seria essa a origem da palavra “Carnaval”, então? Seria, ainda que não haja registro de que algum dia as saturnais em si tenham recebido o nome de carrus navalis. Talvez tenha sido.

O ponto é que a expressão acabaria “ressignificada” na Idade Média, conforme a Igreja Católica ia cristianizando tradições pagãs. É provável que o carrus navalis tenha virado, por aproximação fonética, carne vale (adeus à carne).

Porque “adeus à carne”? Porque a festa com carros alegóricos e doideira generalizada migrou de dezembro para os últimos dias antes de uma quarentena religiosa – aquela observada antes da Páscoa: a “quaresma”.

Como diria Renan, do Choque de Cultura, é o Ramadã do cristianismo, Rogerinho: um período de privação alimentar voltado à reflexão espiritual. O carne vale, que nunca fez parte do calendário religioso oficial, ficou marcado como o momento de exagero feito para compensar a entrada no período de penitência – no qual o consumo de carne era proibido.

A variação da data do Carnaval no calendário se deve justamente à ligação direta com a Páscoa – que, no Hemisfério Sul, sempre acontece no primeiro domingo após a primeira lua cheia do outono.

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Determinada a data do feriado cristão, basta retroceder 46 dias no calendário (40 da Quaresma mais seis da Semana Santa) para chegar à Quarta-Feira de Cinzas. O dia anterior é a “terça feira gorda” – o Carnaval propriamente dito. No Brasil, a segunda-feira acabou emendada, ainda que até hoje a “segunda de Carnaval” não seja oficialmente um feriado. Nos últimos tempos, aliás, as comemorações ligadas ao Carnaval passaram a começar na segunda semana de janeiro, e a se estender quase até a Páscoa.

Por sinal: no fundo, tudo veio de festivais pré-históricos de celebração de colheita. A própria Páscoa, antes de celebrar a ressurreição de Cristo ou o Êxodo dos judeus do Egito (que teria acontecido mil anos antes de Jesus), era uma comemoração pelo início da primavera, e de sua abundância agrícola, no hemisfério norte. E os dias de privação antes da primavera eram simplesmente uma necessidade: já que marcavam o momento em que os estoques de alimento para o inverno (mortal e completamente infértil nas altas latitudes) estavam acabando. Com a tradição desses períodos de penitência, veio junto a de festejar antes. É isso que o Carnaval reflete.

Folia globalizada

A festa brasileira mistura brincadeiras e costumes de outros países com criações nacionais

Brincadeira portuguesa, com certeza

Em seus primórdios, no século 17, o Carnaval daqui não tinha música nem dança, brincava-se o entrudo, herança da colonização portuguesa. É daí que veio o costume das “guerras de água”.

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Inversão

Outra tradição do Carnaval é o hábito de homens se vestirem com trajes femininos. Há registros disso na folia de rua desde o início do século 20.

“A explicação está na própria psicologia da festa, um espaço de inversão, em que se busca ser exatamente o que não se é no resto do ano”, diz a filóloga Rachel Valença, diretora do Centro de Pesquisas da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio.

Abram alas para as marchinhas

As marchinhas carnavalescas deram o tom da festa entre as décadas de 1930 e 1950. Mas o ritmo surgiu ainda no final do século 19. “Ó Abre Alas” é considerada a primeira canção escrita especialmente para um bloco de Carnaval.

A “música para dançar” foi composta pela maestrina Chiquinha Gonzaga, em 1899, para o bloco carnavalesco Rosa de Ouro, do Andaraí, no Rio de Janeiro.

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Com o bloco na rua (do Rio)

Os blocos carnavalescos surgiram em meados do século 19. O primeiro de que se tem notícia é creditado ao sapateiro português José Nogueira de Azevedo Prates, o Zé Pereira. Em 1846, ele saiu pelas ruas do Rio de Janeiro tocando um bumbo. A balbúrdia atraiu a atenção de outros foliões, que foram se juntando ao músico solitário.

Fantasias à italiana

Os bailes de máscara eram tradicionais em alguns países da Europa, como a Itália, já no século 13. No entanto, tais festas eram restritas à nobreza. Foi a partir do século 19 que máscaras e fantasias começaram a se tornar mais populares. Nessa época, os personagens de maior sucesso eram o Pierrô, o Arlequim e a Colombina (da Commedia Dell’Arte Italiana), além de trajes de caveiras, burros e diabos.

Eletricidade baiana

O trio elétrico é uma inovação tecnológica dos anos 1950, quando os músicos baianos Dodô e Osmar, conhecidos como “dupla elétrica”, equiparam um capenga Ford 1929 com dois alto-falantes e saíram tocando pelas ruas de Salvador. Foi um sucesso. No ano seguinte, o Ford foi trocado por uma picape e a dupla convidou Themístocles Aragão para compor, agora sim, um “trio elétrico”.


*Texto atualizado em 21/02/2019

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