Qual a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual?
Embora muita gente os confunda, esses termos definem aspectos bem distintos de uma mesma pessoa.
“Gênero” foi usado pela primeira vez para expressar uma diferença social e psicológica entre homens e mulheres em 1955, pelo psicólogo John Money (1921-2006). A filósofa Simone de Beauvoir (1908-1986) ajudou a teorizá-lo e evidenciou os componentes sociais em sua construção (daí sua frase “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, citada no Enem 2015). O avanço dos estudos nos anos 1970 e 1980, especialmente nas ciências sociais, reforçou a dissociação entre gênero e genitais (ou outras características físicas). Um exemplo é a transgeneridade, que vem sendo muito discutida nos últimos anos, mas também não é “novidade”: o termo “transgênero” foi criado pelo psiquiatra John F. Oliven há 50 anos e já foi bem aceito pela ciência desde então.
Cada coisa é uma coisa
Os termos que vamos explicar abaixo não estão necessariamente relacionadas.
1. Identidade de gênero
É o gênero com que a pessoa se identifica. Há quem se perceba como homem, como mulher, como ambos ou mesmo como nenhum dos dois gêneros: são os chamados não binários. Cisgênero é aquele que se Identifica com o mesmo gênero que lhe foi dado no nascimento. Já transexual ou transgênero é quem se identifica com um gênero diferente daquele que lhe foi dado no nascimento.
2. Orientação sexual
Depende do gênero pelo qual a pessoa desenvolve atração sexual e laços românticos. Heterossexual é quem tem atração por alguém de outro gênero. Já homossexual é quem tem atração por alguém do mesmo gênero. O bissexual tem atração por ambos. A assexualidade normalmente é definida como a ausência de desejo sexual por qualquer gênero. Mas essa é a assexualidade em um sentido estrito. Existe uma “zona cinza” de assexuais que sentem atração por um dos gêneros (ou ambos) só em circunstâncias específicas.
3. Expressão (ou performance) de gênero
Refere-se às maneiras que as pessoas usam para expressar seu gênero em sociedade, desde o uso de roupas e acessórios até detalhes físicos, como os gestos, as atitudes e o timbre da voz. Uma pessoa pode ser cisgênero e heterossexual e mesmo assim se vestir de maneiras tradicionalmente associadas ao gênero oposto ao que se identifica.
4. Genitais
Pênis, vagina ou ambos – uma pequena porcentagem da população nasce com os dois órgãos simultaneamente por questões genéticas. Os órgãos sexuais em si e as demais características biológicas não tem a ver necessariamente com o gênero com que uma pessoa se identifica, nem com sua orientação sexual, nem com sua performance de gênero.
Fontes: Daniela Andrade, ativista transexual, membro da Comissão da Diversidade Sexual da OAB – Osasco, Luciana Vasconcellos, travesti, e Bárbara Aires, ativista transexual; artigos Gênero, O Que É Isso?, de Maria Eunice Figueiredo Guedes, O Tráfico de Mulheres – Notas sobre a “Economia Política” do Sexo, de Gayle Rubin, livro Problemas de Gênero, de Judith Butler, e sites PLC122, Tansfeminismo e Brasil.gov.br.