Quais são as estratégias de defesa mais estranhas dos animais?
Táticas do salve-se quem puder incluem de jatos de tinta à automutilação
Vale tudo para não ser comido no reino animal: do uso de “armas químicas”, como cortinas de fumaça e bombas malcheirosas, a “interpretações cênicas” que mereceriam um Oscar. Segundo o etólogo (estudioso do comportamento animal) César Ades, da Universidade de São Paulo (USP), todos os bichos desenvolvem algum mecanismo de defesa para sobreviver, principalmente os que estão na parte inferior da cadeia alimentar. “Os comportamentos de defesa variam de uma espécie para outra, mas normalmente são de contra-ataque, camuflagem ou fuga. Quanto mais visado o bicho for, mais esperto precisa ser para não ser capturado”, diz o etólogo. Uma estratégia muito usada é o mimetismo, em que um animal copia o colorido, a forma ou o comportamento de outro para se defender. Existem também táticas grupais e vale até mesmo se fingir de morto para escapar. Confira nestas páginas algumas das mais bizarras estratégias de defesa do mundo animal.
Animal – Gambá (Didelphis sp.)
Seus Predadores – Cachorros, jaguatirica, corujas, harpias e gaviões
Táticas usadas – “Arma química” e uma boa interpretação
Como funcionam – Todos sabem que o gambá expele uma substância fedida quando acuado. Mas pouca gente conhece sua segunda tática de defesa: se a “bomba química” não deixar o predador atordoado, ele se finge de morto, resistindo a boas pancadas sem se mover. Quando o inimigo se distrai e acha que liquidou a fatura, o gambá escapa
TRATAMENTO DE CHOQUE
Animal – Poraquê (Electrophorus electricus)
Seus Predadores – Não tem predador natural
Táticas usadas – Choque elétrico
Como funcionam – Esse estranho peixe da Amazônia tem a aparência de uma enguia e conta com um mecanismo inusitado para se defender de quem mexe com ele: choques elétricos. As descargas que o poraquê solta podem chegar a 600 volts, com corrente suficiente para acender uma lâmpada fluorescente, fazendo um belo estrago em seus oponentes
COMIGO NINGUÉM PODE
Animal – Gazelas (Gazella ssp.)
Seus Predadores – Leões, leopardos e guepardos
Táticas usadas – Exibicionismo total
Como funcionam – Para escapar dos grandes predadores das savanas africanas, as gazelas usam uma estratégia grupal de defesa. “Elas ficam pulando que nem doidas, não para assustar o predador, mas para mostrar que são vigorosas e capazes de correr rapidamente para escapar de um eventual ataque”, diz o etólogo César Ades
EU SOU VOCÊ AMANHÃ
Animal – Mosca (Zonosemata vittigera)
Seus Predadores – Aranhas papa-moscas dos gêneros Metaphidippus e Phidippus
Táticas usadas – Imitar o oponente
Como funcionam – Essa espécie de mosca imita seu predador, colocando as asas para a frente e movimentando-as para cima e para baixo, numa batida que lembra o movimento das patas da aranha papa-mosca. A imitação do predador dá certo porque essas aranhas são bichos territoriais e evitam umas às outras
FUGA EN SU TINTA
Animal – Polvo (Octopus ssp.)
Seus Predadores – Golfinhos, tubarões e moréias
Táticas usadas – “Arma química” e uma boa interpretação
Como funcionam – Quando está sendo perseguido, o polvo solta um jato de tinta escura para turvar a vista de seu oponente e poder escapar. Algumas espécies ainda dão um show de interpretação. Existe um polvo, por exemplo, que muda de cor e esconde seus braços, deixando só dois deles à mostra para parecerem duas serpentes venenosas
CORTAR O MAL PELA RAIZ
Animal – Lagartixa (Hemidactylus mabuya)
Seus Predadores – Serpentes, ratos, gatos, aranhas, pássaros e outros lagartos
Táticas usadas – Automutilação
Como funcionam – Várias espécies de lagartixas recorrem à automutilação espontânea (chamada de autotomia) para salvar a própria pele. Quando estão sendo perseguidas, elas cortam um pedaço do próprio rabo. Essa parte continua se movimentando por um tempo, atraindo a atenção do predador e permitindo que a lagartixa (ou o que restou dela…) fuja
CORPO FECHADO
Animal – Pangolim (Manis temminckii)
Seus Predadores – Hienas e leopardos
Táticas usadas – Blindagem instantânea
Como funcionam – Esse mamífero, comum na Ásia e na África, tem o corpo coberto por duras escamas dispostas como as telhas de um telhado. “Quando se sente ameaçado, ele se enrola como um tatu-bola, mantendo só as placas expostas”, diz o biólogo Mário Rolo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Nem o mais paciente predador consegue penetrá-las
JOGO SUJO
Animal – Cobra dágua (Liophis miliaris)
Seus Predadores – Corujas, gaviões, siriemas, outras cobras e gambás
Táticas usadas – “Arma química”
Como funcionam – Quando se sente acuada por um predador, essa cobra solta um jato pra lá de fedido, com uma mistura de fezes, urina e secreções produzidas por uma glândula anal. “É uma tática defensiva eficiente de serpentes que não são peçonhentas”, afirma o biólogo Giuseppe Puorto, do Museu Biológico do Instituto Butantan, de São Paulo