Quais as diferenças entre o português do Brasil, Moçambique e Angola?
As grandes diferenças são as influências de línguas nativas e estrangeiras, que resultam em palavras e expressões particulares
As grandes diferenças são as influências de línguas nativas e estrangeiras, que resultam em palavras e expressões particulares. O português brasileiro tem influência de línguas indígenas e dos idiomas dos imigrantes, como árabes e italianos.
Em Moçambique, o português é marcado por 20 línguas locais. Apesar de ser o idioma oficial do país, ele é falado por apenas 40% da população.
Em Angola, há 11 línguas e diversos dialetos que transformam o português local e aumentam seu vocabulário. Mas, do ponto de vista gramatical, o português angolano é mais próximo do europeu do que o brasileiro. Por tudo isso, nos três países, há regionalismos que podem deixar o idioma incompreensível mesmo para outros lusófonos. Veja a seguir:
Um idioma em várias versões
Aqui, a gente curte abusar do tempo verbal gerúndio, muito pouco usado em outros países lusófonos. Por exemplo, usamos a frase “estou fazendo isso” no lugar de “estou a fazer isso”. Há também o gerundismo, uso desnecessário do gerúndio, como em “vamos estar averiguando”.
Palavras vindas de outras línguas
- Tupiniquim: “moqueca”, “mingau” e “catapora”
- Kimbundu (Angola): “maconha”, “bunda” e “cafuné”
- Espanhol: “alambrado”, “tablado” e “hombridade”
- Italiano: “bandido”, “baderna” e “capricho”
Angola
Em questão de sintaxe, o português angolano se aproxima muito do de Portugal. Assim como nossos colonizadores, os angolanos empregam o “si” e o “consigo” em circunstância que nós usamos “você” ou “senhor(a)”. Por exemplo, “Temos para si todo o tipo de eletrodomésticos”.
Palavras vindas de outras línguas
- Kimbundu: “monandengue” (criança), “muxima” (coração) e “ginguba” (amendoim)
- Umbundu: “ombela” (chuva), “akaya” (tabaco) e “atilili” (pipoca)
- Cokwe: “katapi” (amendoim), “ndungue” (coração) e “samahonga” (pensador)
- Kikongo: “sukadi” (açúcar), “malavu” (cerveja) e “esamunu” (profecia)
Moçambique
Em Moçambique, a língua portuguesa foi modificada por regras gramaticais de línguas locais. É o caso do verbo “nascer”, que lá é usado como na língua changana: “Meus pais nasceram minha irmã”. O mesmo vale para “Nos disseram que hoje não há aula”, que fica: “Nós fomos ditos que hoje não há aulas”.
Palavras vindas de outras línguas
- Gitonga: “mapilapila” (intrigas), “macuti” (folhas de palmeira) e “mati” (água)
- Changana: “molwene” (meninos de rua), “machimbombo” (ônibus) e “brada” (amigo ou irmão)
- Cinyungwe: “amuna” (homens), “moto” (fogo) e “ufa” (farinha)
- Emakhuwa: “mirette” (remédio), “murrutthu” (cadáver) e “otthapa” (alegria)
Quiz linguístico
Nas figuras acima, mostramos alguns regionalismos, termos e gírias típicas de cada país (e de diferentes regiões do Brasil). Será que você consegue adivinhar o que eles querem dizer? A seguir, as respostas:
1. É o jeitinho piauiense de reforçar uma colocação
2. É uma expressão cuiabana para indicar indagação
3. É a maneira paulistana de dizer “Você sabe, né?”
4. Em Florianópolis, SC, significa que o João acertou em cheio
5. Quer dizer que a pessoa ouviu rumores
6. É o equivalente a passar uma rasteira
7. Quer dizer que ela se veste bem
8. É um jeito jovem de dizer que bebeu bastante
9. É um convite para o café da manhã
10. Quer dizer que o carro quebrou
11. É o jeito moçambicano de dizer “olha lá”
12. Do suaíli, falado no norte de Moçambique, e significa “sem problemas”
Consultoria: Tânia Macedo, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da USP