Quando – e por que – o rosa se tornou cor de menina?
Faz menos tempo do que você imagina: na década de 1920, lojas de departamento dos EUA ainda recomendavam o rosa para... meninos.
O rosa só se estabeleceu de vez como uma cor feminina na década de 1980. Mas o caminho até lá foi longo. Acompanhe a história:
Durante séculos, as tinturas para roupa eram muito caras e crianças de qualquer gênero usavam vestidos brancos até uns 6 anos de idade. Os tons pastéis – entre eles, o rosa e o azul – só começaram a ser associados a crianças no início do século 20, pouco antes da 1ª Guerra Mundial.
Na época, porém, ainda não havia uma distinção de gênero estabelecida. Havia até quem defendesse o oposto da norma que vigora hoje: uma artigo de 1918 da Earnshaw’s Infants’ Department dizia que rosa era para meninos e azul para meninas. Isso porque o rosa seria uma cor mais “forte e decidida”; já o azul, mais “delicado e amável”. Perceba que só muda a paleta de cores: o machismo implícito à explicação está lá, intacto.
Em 1927, após uma pesquisa em diversas lojas de departamento norte-americanas, a revista Time concluiu (veja o artigo original) que a dicotomia entre rosa e azul não era unanimidade: três lojas recomendavam rosa para meninos, outras três, para meninas. Uma última recomendava rosa para ambos, sem distinções.
No texto introdutório da Time, lê-se: “Na Bélgica, a Princesa Astrid (…) deu à luz na noite anterior a uma filha de 3,1 kg. Disseram os despachos: ‘O berço foi enfeitado de rosa, a cor para os meninos, sendo a das meninas o rosa’. Disseram muitos leitores de jornal dos EUA: “O quê? Rosa para um GAROTO? Na nossa família, nós temos usado rosa para GAROTAS, e azul para garotos”.
Após a 2ª Guerra Mundial, a mais famosa entusiasta e divulgadora do rosa foi Mamie, a esposa do presidente Dwight Eisenhower (que governou entre 1953 e 1961). Ela foi à festa de posse de seu marido em um vestido rosa exuberante, e passou a usar a cor em muitos compromissos oficiais. Sua postura – dona de casa submissa, esposa de um militar – foi popular na elite machista da época, pré-revolução sexual. As jovens da época, que trabalharam em fábricas e vestiram roupas azuis ou pretas durante a maior parte do conflito, gostaram do contraste.
No final da década de 1960, auge de movimentos sociais e do pacifismo, era comum o uso de roupas unissex para meninas. Roupas de gênero neutro permaneceram populares até que em meados da década de 1980 o rosa se impôs definitivamente na paleta de cores de produtos femininos. A popularização do teste pré-natal para descobrir o sexo do bebê contribuiu para acelerar a mudança. Os pais descobriam o sexo do bebê bem antes do nascimento e iam direto às compras, virando presas fáceis para as convenções do mercado.
Para saber mais, um bom livro é Pink and Blue: Telling the Girls From the Boys in America, de Jo B. Paoletti (aqui) – que infelizmente não tem uma versão em português.
Pergunta de Rodrigo Rott, Feliz, RS