A primeira aventura dos duendes azuis nos cinemas, lançada no Brasil em agosto de 2011, teve ótima bilheteria. Mas será que os Smurfs estão interessados em dinheiro? A teoria de que o desenho criado em 1981 pregava o ideário socialista foi tema de um ensaio sociopolítico do escritor J. Marc Schmidt no livro Secrets of Popular Culture, de 2008, e há anos ronda a web.
Confira os detalhes da teoria e o que os responsáveis têm a dizer sobre.
Unidos venceremos
Segundo Karl Marx, principal teórico socialista, o maior problema do capitalismo é a propriedade privada, que causa a divisão dos homens em classes sociais. Os Smurfs não têm esse problema: tudo é de todos. A comunidade trabalha unida para suprir as necessidades de cada um, como moradia e alimentação. Apesar de alguns terem responsabilidades maiores, como o Habilidoso e o Robusto, não há preconceitos sociais entre eles.
Ouro dos tolos
Se não há propriedade privada, não há necessidade de compras – nem de dinheiro. Um dos álbuns de HQ que originaram o desenho até tentou introduzir o “Smurf das Finanças”, mas o sistema monetário criado por ele gerou pobreza e discórdia. Depois que tudo voltou ao normal e a lição foi aprendida, o tal Smurf nunca mais apareceu…
A igualdade é azul
Marx define duas classes sociais: a minoria capitalista, com os meios de produção, e o proletariado, que sobrevive vendendo sua força de trabalho. Para os Smurfs, elas não existem: cada um tem uma função definida e todos são importantes. E eles se vestem de forma idêntica, reforçando a noção de igualdade. Papai Smurf seria uma analogia a Karl Marx: usa barba e a cor vermelha (simbólica no comunismo) e chegou à liderança por sua sabedoria.
Dispensando o divino
Marx também acreditava que, para chegar ao comunismo real, era preciso abolir qualquer tipo de religião. E, na vila Smurf, não há padres e monges. Nenhum dos episódios retrata o culto a alguma divindade – e, embora celebrem o Natal, os azuizinhos não parecem saber o conteúdo religioso da data.
Cifrão nos olhos
O vilão Gargamel deseja usar os Smurfs em uma poção que cria ouro – o que o tornaria uma metáfora para o capitalismo, sistema no qual (segundo a mentalidade comunista) a ambição pessoal se sobrepõe ao respeito ao próximo. Ainda nessa linha de raciocínio, o desenho critica o bruxo ao retratá-lo sempre solitário, sem nada de bom na vida.
Azul-calcinha
Marx também alegava que a opressão feminina era resultado do capitalismo. E, de fato, a única fêmea entre os Smurfs, a Smurfette, foi criada pelo (suposto capitalista) Gargamel, como um instrumento para confundir seus pequenos rivais. Ela surgiu feia, morena e maldosa, mas Papai Smurf usou magia para torná-la loira e boazinha.
Além de tudo, nazistas?
Livro acusa Smurfs de serem totalitaristas.
O professor francês Antoine Buéno lançou no ano passado Le Petit Livre Bleu (“O Pequeno Livro Azul”), no qual alega que a vila é o arquétipo de uma sociedade totalitarista, com traços nazistas.
Papai Smurf seria um ditador, e Gargamel, uma caricatura dos judeus – narigudo e louco por dinheiro. Sua vilanização seria um sinal de antissemitismo. Smurfette representaria o ideal da mulher ariana.
A PALAVRA DO RESPONSÁVEL
A ME fez 11 ligações e enviou 7 emails à produtora belga Peyo, que detém os direitos sobre os personagens, mas não obteve resposta. Em entrevista ao Jornal da Tarde, Véronique Culliford, filha do criador dos Smurfs, disse que a tese é uma “grande besteira”: “Nunca tivemos nada a ver com o Partido Comunista”.