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O que foi o “assalto ao trem pagador”, na Inglaterra?

Caso até inspirou filme

Por Danilo Cezar Cabral
Atualizado em 22 fev 2024, 11h36 - Publicado em 5 fev 2009, 15h32

Foi um dos crimes mais audaciosos da história, quando, sem disparar um tiro, um bando assaltou um trem que levava depósitos bancários da Escócia para Londres. Na ação, ocorrida em 8 de agosto de 1963, no condado inglês de Buckinghamshire, a quadrilha embolsou 2.631.784 libras esterlinas, o equivalente hoje a mais de 9,2 milhões de reais! Mas a festa acabou cedo. Por causa de uma série de vacilos, apenas 5 dos 16 membros da gangue escaparam da polícia – o resto foi parar na cadeia, incluindo o folclórico Ronald Biggs, que virou “celebridade” ao se refugiar no Brasil. Biggs escapou da prisão subornando os guardas e passou anos foragido, até que, em 1970, veio para o Rio. Aqui ele se casou com uma brasileira, com quem teve um filho famoso: Michael Biggs, o Mike, da Turma do Balão Mágico, banda infantil da década de 1980. O filho pop é que livrou o pai da cana: pela lei do Brasil, qualquer estrangeiro que tenha um filho com um brasileiro não pode ser extraditado. Biggs se entregou às autoridades britânicas em 2001. Com 79 anos, deve ser liberado por “motivos de compaixão” em fevereiro deste ano. E o velho ladrão de trens já disse que quer passar seus últimos dias com a família no Brasil. As companhias ferroviárias que se cuidem! 😉

CRIME (QUASE) PERFEITO

Espetacular, ação descarrilou por causa de vacilos bobos

Pouco depois da meia-noite, após receber a confirmação de um informante de que o trem com a bolada estava a caminho, a gangue deixa o esconderijo – a fazenda Leatherslade, a cerca de 40 quilômetros do local da ação – em dois Land Rovers e um caminhão do Exército roubado.

o sinaleiro de Leighton Buzzard, cobrindo o sinal verde e usando baterias para acender a luz amarela (que avisa de parada no ponto seguinte). No sinaleiro de Sears Crossing, local da ação, eles aplicam o mesmo método, mas, desta vez, deixando aceso o sinal vermelho, para parar o trem.

Após cortar a linha do telefone de emergência próximo ao segundo sinaleiro, o grupo toma suas posições. O líder da quadrilha fica distante, em um terreno elevado, para avisar da passagem do trem aos demais integrantes via rádio portátil (walkie-talkie).

Por volta das 3 e meia da madruga, o comboio para no local do bote. Os criminosos entram na locomotiva e rendem o maquinista, que leva uma paulada na cabeça de um dos ladrões. Em seguida, são rendidos os funcionários do correio que estavam no vagão com os malotes de dinheiro.

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Um bandido destrava o encaixe de um vagão, de modo a separar a locomotiva e três vagões, incluindo o que levava a grana, do resto do comboio. Os ladrões então obrigam o maquinista a conduzir o trem até a ponte Bridego, onde outros comparsas aguardavam com os veículos.

A gangue descarrega a grana fazendo uma “corrente humana” do vagão com os malotes até os veículos. Pouco depois das 4 da manhã, após já ter carregado 120 sacos de dinheiro, o grupo deixa o local e volta para o esconderijo.

O “trem da alegria”, contudo, vira a maior roubada. Pressionados pela ação da polícia, os caras fogem às pressas do esconderijo, deixando impressões digitais por todo lado. Por causa desse e de outros vacilos, boa parte da quadrilha logo estava na cadeia.

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BRINCANDO DE BANDIDO

A quadrilha ficou à vontade no esconderijo. Jogaram cartas, beberam e até brincaram de Banco Imobiliário – a Scotland Yard encontrou impressões digitais nas peças do jogo – sem se preocupar com os rastros que poderiam deixar pelo local.

LADRÃO QUE ROUBA DE LADRÃO…

A gangue pagou uma grana preta para um cúmplice fazer a “limpeza” da casa, eliminando qualquer vestígio dos assaltantes. Só que o cara foi mais esperto: após os bandidos saírem, levou a grana e deixou a casa exatamente como estava. Ele nunca foi capturado pela polícia.

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CAMINHÃO VACILÃO

A polícia chegou até o esconderijo por causa da denúncia de um fazendeiro vizinho. Dias antes do assalto, ele havia estranhado a presença de um caminhão do Exército por ali. Ao escutar a notícia do roubo pelo rádio, sacou logo do que se tratava.

NEGOCIADOR DE ARAQUE

O líder do grupo chamou uma pessoa próxima a ele para agir como falso comprador da fazenda que serviria de esconderijo. Parece piada, mas, além de usar seu verdadeiro nome, essa pessoa contratou uma firma de advocacia para intermediar as negociações. Essa foi a grande pista que levou à prisão do chefe.

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